Agente que acusou Le Graet de assédio diz que FIFA "devia mostrar tolerância zero"
"Perguntei a Gianni Infantino (presidente da FIFA): Que mensagem está a mandar às vítimas de racismo, homofobia ou sexismo? Sendo a mais alta autoridade, a FIFA devia aplicar uma política de tolerância zero", vincou Sonia Souid à AFP.
Vários membros do executivo da FFF confirmaram, depois da demissão de Noel Le Graet, que o até então presidente continuará a trabalhar para a FIFA, passando a liderar o recém-aberto escritório de Paris, em colaboração direta com Infantino, cargo que lhe terá sido atribuído em janeiro do ano passado.
"Vou passar a gerir o escritório da FIFA em Paris a partir da próxima semana", confirmou o dirigente de 81 anos ao L'Equipe.
"Foi algo falado com Gianni Infantino. A ideia já estava em cima da mesa há algum tempo", acrescentou.
O mesmo jornal revelou que Le Graet se encontrou com Infantino em Paris, na segunda-feira, dia em que o líder da FIFA estava na cidade para a cerimónia dos prémios The Best. A mesma publicação adiantou que o papel do antigo responsável da FFF será focado no trabalho com seleções africanas e que não será remunerado.
Le Graet demitiu-se na sequência de acusaões de assédio sexual e psicológico, colocando um ponto final a mais de uma década de liderança. A sua saída deu-se quinze dias depois da publicação de um relatório condenatório sobre as práticas de gestão na FFF, após uma auditoria encomendada pelo Ministério do Desporto francês.
"Considerando a sua conduta em relação às mulheres, os seus comentários públicos e as falhas de governação da FFF, o Sr. Le Graet não tem mais a legitimidade necessária para gerir e representar o futebol francês", sustentou o relatório.
Souid acusou o dirigente de avanços indesejados numa intervista ao L'Equipe e à rádio RMC, em janeiro.
"Ele disse-me, claramente, no seu apartamento, que se eu quisesse que ele me ajudasse, teria de deixá-lo seguir o seu caminho comigo", revelou a agente, cujo testemunho aos inspetores que lideraram a auditoria à federação levou a que Le Graet fosse colocado sob investigação por assédio sexual e psicológico.
O responsável negou qualquer ilícito e assegurou ao L'Equipe que tinha sido "incriminado". Já esta quarta-feira, Souid respondeu, em declarações à AFP, reforçando ter sido "assediada" por Le Graet.
"Ouvir que o meu testemunho foi uma cilada, doeu. O que tinha eu a ganhar com isto? Arrisquei a minha carreira, a minha reputação. Falei sobre algo que me magoou e afetou a minha dignidade, que só causou dor e sofrimento", vincou.
"O comportamento de Noel Le Graet foi muito inapropriado. O que disse aos inspetores foi que, de facto, me senti assediada. Eu fui assediada. Ele tem de o aceitar", concluiu.
Guerra aberta entre Le Graet e Amélie Oudéa-Castéra
A polémica em torno de Le Graet envolve, também, Amélie Oudéa-Castéra, acusada pelo dirigente de "numerosas interferências e pressões políticas", depois de um relatório que a sua defesa diz violar "todos os princípios de imparcialidade".
Agora, em declaraçoes à RTL, a ministra do Desporto de França defendeu-se, bem como aos profissionais da Inspecção-Geral da Educação, Desporto e Investigação (IGESR).
"Fizemos um trabalho minucioso durante quatro meses, respeitando o processo contraditório de cada parte (...). Não permitirei que a qualidade do trabalho que tem sido feito seja denegrida", apontou Amélie Oudéa-Castéra.
"Acho isto angustiante, nunca insultei ninguém, permaneci educada, nunca o acusei de assédio", acrescentou, mostrando-se confiante de que "esta estratégia de defesa não engana muitas pessoas".