Análise Catar: A Cinderela do Mundial no meio dos holofotes e da pressão
Introdução
A seleção nacional do Catar acaba de completar meio século de existência. A primeira partida oficial data de 1970 e agora, pela primeira vez, está presente numa fase final de um Campeonato do Mundo, graças à qualificação automática por ser o país anfitrião. A formação liderada pelo catalão Félix Sánchez Bas, de 47 anos, terá a honra de abrir oficialmente o torneio, diante do Equador, este domingo, 20 de novembro. Pela primeira vez no centro de todas as atenções, o Catar é ainda uma equipa por descobrir: a cinderela da competição.
A estreia do Catar em qualificações para Campeonatos do Mundo remonta a 1978. Dois anos antes, participaram também em eliminatórias da Taça da Ásia, sem conseguirem acesso à fase final, como repetiram na edição seguinte, em 1980. Foram, de resto, necessários 19 anos para conseguir o troféu mais importante da história do futebol do país, a Taça Asiática conquistada em 2019, diante do Japão. Uma vitória que se seguiu a três sucessos anteriores, na Taça das Nações do Golfo, em 1992, 2004 e 2014.
Agora, jogando em casa, o Catar pretende surpreender e ultrapassar a fase de grupos, deixando para a África do Sul o título de única equipa de um país anfitrião a não ter passado a primeira fase.
Pontos fortes
O principal responsável pelo recente crescimento da seleção do Golfo, juntamente com um considerável investimento em organização e instalações, é o treinador e selecionador Félix Sánchez Bas. Depois de ter feito carreira na formação do Barcelona, em 2006, o técnico espanhol mudou-se para Doha, onde entretanto tinha sido fundada a Academia Aspire, estrutura dedicada ao desenvolvimento de atletas do Catar.
Sánchez Bas foi nomeado selecionador nacional em 2017 e conduziu a seleção do Catar à história vitória, por 3-1, diante do Japão, na final da Taça Asiática, em Abu Dhabi. Essa competição, de resto, vai ser organizada pelo Catar já em 2023.
O sistema tático preferencial de Sánchez Bas é o 5x3x2, embora a vitória na Taça Asiática de 2019 tenha resultado de uma aposta numa versão ligeiramente mais ofensiva, um 4x1x4x1. Ambas as soluções favorecem o jogo pelos flancos da equipa.
O treinador espanhol é, indubitavelmente, um dos fatores de crescimento do futebol do Catar. Em Espanha, Sánchez Bas treinou os sub-16 do Barcelona durante dez anos, entre 1996 e 2006. Foi o treinador de nomes como Sergi Roberto, Marc Muniesa, Gerard Deulofeu e Martin Montoya.
Olhando para os resultados recentes da seleção do Catar, um dos pontos fortes é a coesão defensiva: o 3x5x2 utilizado garante um desenvolvimento do jogo pelos flancos, na fase ofensiva, enquanto que em processo defensivo permite um encerramento de todos os espaços para as incursões do adversário. O Catar, no torneio que venceu há três anos, sofreu apenas um golo e marcou 19.
No entanto, esta amostra acaba por não ser muito fiável, considerando que o poderio dos adversários neste Campeonato do Mundo é inquestionavelmente superior. Basta olhar para a participação do Catar na Copa América, também no ano de 2019: a diferença técnica e tática dos adversários levou a uma eliminação logo na fase de grupos, com cinco golos sofridos e dois marcados.
Pontos fracos
Todos os jogadores da seleção do Catar jogam em equipas do seu próprio país, divididos pelo Al-Duhail e pelo Al-Sadd. Este será, de longe, o ponto mais fraco desta equipa, comparativamente com todas as outras seleções presentes no Campeonato do Mundo, com jogadores de calibre internacional, capazes de se adaptarem e interpretar as várias situações ambientais e táticas, com maior experiência e menos dificuldade.
A equipa
A seleção do Catar tem uma média de idades elevada, com os jogadores mais importantes todos acima dos 30 anos: o guarda-redes Saad Al Sheeb, os defesas Boulem Khoukhi e Pedro Ró-Ró, este último nascido em Portugal, bem como o médio Hatem Mohammed Abdullah e o avançado Ismaeel Mohammad. O avançado Hassan Al-Haidos, recordista de presenças e capitão de equipa, é o jogador mais representativo do Catar. No passado, foi também treinado por Xavi, ex-jogador do Barcelona.
O melhor marcador da seleção do Catar, Almoez Ali, de 25 anos, que pertence ao Al-Duhail, nasceu no Sudão mas naturalizou-se em 2014: tem 39 golos em 82 jogos. Almoez Ali jogou na Áustria e em Espanha mas sempre em divisões inferiores, antes de se mudar para Doha. Félix Sánchez pode também contar com a experiência dos defesas Abdelkarim Hassan e Boualem Khouhki, bem como do médio Karim Boudaif. Um dos obstáculos do Catar será mesmo a pressão do seu próprio público, que espera um desempenho correspondente às infra-estruturas modernas e brilhantes, desportivas e não só, construídas para o evento.
XI Ideal
Al-Sheeb - Pedro Ró-Ró, Al-Rawi, Khoukhi, A.Hassan, Ahmed - Hatem, Al-Haydos e Boudiaf - Al-Haydos, Almoez Ali.
Os cataris, que se preparam para o Campeonato do Mundo, têm estado a trabalhar como se de um clube se tratasse. Começaram em junho, à porta fechada, rumando depois a Espanha, onde continuaram uma espécie de pré-temporada. Não faltaram jogos interessantes, ainda que sempre à porta fechada e com proibição de filmagens: um empate com o Chile (2-2) e duas vitórias consecutivas, diante de Guatemala (2-0) e Honduras (1-0).
Previsão
O objetivo mínimo da seleção nacional do Catar é passar o grupo A, que conta ainda com Países Baixos, Equador e Senegal, vencedor da última Taça das Nações Africanas. Não será tarefa fácil para Félix Sánchez Bas e seus jogadores passar esta fase de grupos mas o facto de terem realizado uma espécie de pré-época, qual clube, com jogos à porta fechada, dá-lhes teórica vantagem num Mundial sem espaço para grandes preparativos para as outras seleções, além da maior vantagem de todas: jogam em casa.