Análise: Como Ten Hag moldou o Manchester United depois da derrota no dérbi de outubro
Os adeptos do Manchester United que tenham festejado os golos de Martial, provavelmente fizeram-no apenas por ironia, nunca por alegria. De resto, um sentimento que nunca personificou o Manchester United, tanto naquele jogo como na primeira época de Erik ten Hag.
Naquele dia, o Manchester City superou o rival em todos os pontos, com Erling Haaland e Phil Foden a fazerem, cada um, um hat trick, tendo sido a primeira vez que cada um dos dois jogadores tinha feito tal marca no dérbi da cidade.
Depois dessa humilhante derrota, parecia não haver luz ao fundo do túnel para Erik ten Hag sair do enorme buraco que tinha cavado para si próprio.
Agora, três meses depois, novo dérbi de Manchester em Old Trafford e o estado de espírito do United é bem diferente. Dos dez jogos disputados desde essa altura, o Manchester United conseguiu somar mais um ponto (24) que o City (23), tendo perdido apenas por mais uma ocasião na Premier League.
A arma - não tão secreta - de Ten Hag durante este tempo foi... Casemiro. O médio internacional brasileiro de 30 anos jogou apenas 32 minutos nesse dérbi, pouco para fazer a diferença. Na semana a seguir, na estreia a titular, o United venceu o Everton, por 2-1.
O antigo médio do Real Madrid tem sido, desde então, um dos pilares do Manchester United. Ao longo da época, Casemiro é o sétimo jogador com mais interceções na Premier League, e isto apesar de ter começado a jogar apenas em outubro.
A presença de Casemiro no meio-campo permite a Christian Eriksen e Bruno Fernandes jogarem uns metros mais à frente e, sobretudo, com maior liberdade de movimentos. Eriksen leva já seis assistências para golo na Premier League, apenas atrás de Kevin de Bruyne.
O Manchester United também se solidificou defensivamente. Nos últimos dez jogos da Premier League, metade terminaram sem golos sofridos - nas primeiras sete rondas, apenas dois acabaram sem golos sofridos.
Nas últimas semanas, enquanto os mundialistas tentam encontrar novamente o seu ritmo, Luke Shaw tem sido aposta no centro, afastado do seu habitual flanco esquerdo. E o Manchester United não perdeu um jogo, sofrendo apenas um golo, o tal do erro crasso de David de Gea.
Pep Guardiola, na antevisão ao dérbi, assumiu que pensou em "planos ridículos" para anular o Manchester United. E isso diz bem da forma como o treinador espanhol está a abordar o dérbi. A maior dor de cabeça de Guardiola e, ao mesmo tempo, um dos maiores feitos de Ten Hag, será, provavelmente, o renascimento de Marcus Rashford.
Depois de ter adormecido e chegado atrasado a um jogo, Rashford parece ter aprendido a lição e, depois de ter ficado no banco com o Wolverhampton, foi lançado na segunda parte, a tempo de marcar o golo da vitória.
No arranque da sua aventura no comando técnico do Manchester United, estava claro que a voz de Erik ten Hag não era a mais respeitada no balneário. Mas a saída de Cristiano Ronaldo para a Arábia Saudita parece ter passado o recado que se impunha: quem manda ali é o treinador.
O dérbi de sábado, com o Manchester City, dará a Erik ten Hag um teste perfeito para ver até onde progrediu a sua equipa. Um ponto, ou mais, mostrará que os red devils estão em crescimento e tudo o que não seja uma vitória será uma tempestade do lado da equipa de Pep Guardiola.
Uma coisa é certa: é muito improvável que possamos ver festejos irónicos nas bancadas de Old Trafford.