Análise Coreia do Sul: Guerreiros de Taegeuk preparados para surpreender
Introdução
A atual 28.ª do ranking FIFA é treinada pelo português Paulo Bento, técnico de 53 anos que orientou a seleção lusa no início da última década. O ex-jogador, que disputou o último jogo pela seleção portuguesa precisamente contra a Coreia do Sul, em 2002, chegou ao comando da equipa asiática em 2018 e, desde então, somou 34 vitórias em 52 jogos, tendo perdido apenas em sete ocasiões.
Os tigres asiáticos têm como melhor resultado o quarto lugar no Mundial de 2002, do qual foram anfitriões. Na última edição, a Coreia do Sul foi responsável por afastar a Alemanha, então campeã em título, na derradeira jornada da fase de grupos, ao vencer por 2-0, numa partida que ficou conhecida como "o milagre de Kazan" e que deixou os alemães no último lugar do grupo, numa demonstração do potencial sul-coreano. No entanto, esse triunfo chegou tarde demais e não impediu as passagens de Suécia e México.
Nas dez edições em que marcou presença, a Coreia do Sul disputou 34 jogos, venceu apenas seis, empatou nove e perdeu 19. No total, os sul-coreanos marcaram 34 golos.
Pontos fortes
Son Heung-Min é a maior referência da Coreia do Sul, muito por culpa do que tem feito nos últimos anos. Atua naquela que pode ser considerada a melhor Liga do mundo, a Premier League, na última temporada conquistou, a par de Salah, o prémio de melhor marcador desse campeonato, e foi também o artilheiro principal da seleção na fase de qualificação, com sete golos. Com quatro golos nos últimos seis jogos internacionais, Son chega a este Mundial com o objetivo de ultrapassar Park Ji-sung como jogador com mais tentos em fases finais - atualmente empatados com três.
Porém, o avançado do Tottenham chega ao Mundial depois de ter sofrido uma fratura na face e ter sido operado. Falhou as últimas partidas pelos spurs e esteve em dúvida para a competição, mas Paulo Bento não abdicou da sua presença. Resta saber em que forma se encontra o atacante, sabendo, de antemão, que é a grande arma da Coreia do Sul no Catar.
Pontos fracos
O sistema de jogo bem definido tem dado frutos a Paulo Bento, mas apresenta algumas debilidades que podem ser o principal problema frente a qualquer adversário. Sem bola, o treinador português prioriza o fecho dos espaços interiores e do corredor central, privilegiando a proximidade dos centrais. Contra equipas que focam o jogo pelas alas, o que tem acontecido é que o lateral do lado da bola acaba por ficar sozinho e exposto perante as sobreposições do adversário.
Por outro lado, na fase de construção, um dos médios pode recuar para junto dos centrais e fazer assim uma linha de três, com outro médio a dar linhas de passe junto ao círculo central - numa espécie de saída de bola em 3+1 - com os laterais projetados nas alas. Esta nuance torna-se problemática – e aconteceu em partidas da fase de qualificação – quando os laterais adversários pressionam alto e atacam pelos flancos. Face aos quatro jogadores a construir no corredor central, a tendência dos adversários centra-se em atacar por fora, explorando as fragilidades da Coreia do Sul.
XI ideal:
Kim Seung-gyu - Kim Moon-hwan, Kim Min-jae, Kwon Kyung-won e Hong Chul - Jung Woo-young e Hwang In-beom - Kwon Chang-hoon, Jeong Woo-yeong e Hwang Hee-chan - Son Heung-min
Existem algumas dúvidas face à forma como a Coreia do Sul se pode apresentar, mas, à partida, serão estes os principais jogadores em campo. A formação de Paulo Bento pode variar entre o tradicional 4-2-3-1 e o 4-4-2, embora haja a possibilidade de apostar numa formação de cinco defesas, com Kwon Chang-hoon a fechar na ala direita contra formações de maior relevo ofensivo, como é o caso de Portugal e do Uruguai.
Certo é que desde que Paulo Bento assumiu o comando da seleção asiática, a posse de bola é um bem maior na sua forma de jogar. A Coreia do Sul não tem medo de ter bola seja qual for o adversário e é forte a romper as linhas adversárias, principalmente com um futebol direto e que explora o espaço nas costas das defesas.
Principais dúvidas
O estado em que Son se apresentará no Mundial é a principal dúvida no seio da Coreia do Sul. Com Paulo Bento, o jogador do Tottenham passou a ser a principal referência ofensiva da equipa e tem liberdade para deambular entre posições no ataque. O camisola 7 pode assumir o jogo numa fase mais recuada, levando a equipa para o ataque, ou procurar o espaço oferecendo linhas de passe e virar-se rapidamente para a baliza, à semelhança do que faz no emblema inglês, ou ainda descair sobre um dos flancos para combinar com os companheiros.
Defensivamente, Son é o primeiro homem da pressão, pressionando os centrais na saída com posse e a obrigá-los a um jogo mais direto.
A juntar a isto, os potenciais substitutos têm estado bastante abaixo do seu nível. Hwang Hee-chan tem somado poucos minutos no Wolverhampton, Hwang Ui-jo ainda não marcou qualquer golo esta temporada no Olympiacos e Cho Gue-sung, melhor marcador do campeonato sul-coreano, parece ser vítima de jogar num campeonato teoricamente menos competitivo e mediático. Por tudo isto, torna-se fundamental ter Son disponível.
Previsão
Num grupo com Portugal e Uruguai, torna-se difícil acreditar que a Coreia do Sul se poderá intrometer na luta pelo apuramento. No entanto, as possibilidades existem e, apesar de estarmos a falar de uma equipa do pote 4, o facto de poder intrometer-se na classificação do grupo é o melhor elogio que podemos fazer à formação de Paulo Bento.
A equipa tem apresentado um nível exibicional ascendente, está motivada e grande parte dos seus jogadores estão no ponto alto das suas carreiras com experiência no futebol europeu. Desde 2010 que a Coreia do Sul não alcança os oitavos de final e soma apenas uma vitória – frente à Alemanha – nos últimos seis jogos em Mundiais. Caso consigam pontuar nas partidas com Uruguai e Portugal, a qualificação deixa de ser uma miragem e torna-se palpável. Com o Gana é obrigatório vencer.