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Análise Uruguai: Um bicampeão com ossos duros de roer

André Guerra
Análise Uruguai: Um bicampeão com ossos duros de roer
Análise Uruguai: Um bicampeão com ossos duros de roerAUF
A seleção do Uruguai é uma das mais tradicionais em Campeonatos do Mundo. No entanto, a celeste olímpica continua à procura de revalidar o título conquistado pela última vez em 1950, e que faz companhia ao troféu da primeira edição do Mundial, em 1930. O quarto lugar em 1954, 1970 e 2010 revela as capacidades de um dos dinossauros da competição, que superou potências e demonstrou o potencial de um país pequeno em número – apenas três milhões de habitantes –, mas apaixonado por futebol. No Catar, os uruguaios vão para a 14.ª participação num Mundial depois de, em 2018, terem eliminado Portugal (2-1), caindo apenas nos quartos de final perante a França (2-0), que viria a levantar o troféu.

Introdução

O Uruguai atravessa um momento de renovação. Na Copa América-2021, a formação caiu nos quartos de final perante a Colômbia, no desempate por grandes penalidades. Também no caminho para o Mundial, o que parecia ser uma certeza começou a esfumar-se quando, em novembro, a celeste olímpica sofreu quatro derrotas consecutivas – incluindo na Bolívia (3-0) –, o que levou ao despedimento do lendário treinador Óscar Tabárez

A sucessão recaiu sobre Diego Alonso, ex-avançado internacional por sete ocasiões, que guiou a equipa a quatro vitórias nas últimas quatro jornadas e à consequente qualificação. Naquela que será, provavelmente, a última competição internacional de Luís Suárez, Edison Cavani, Diego Godín, Muslera ou Martín Cáceres, estes veteranos vão contar com a irreverência de jovens já bem estabelecidos na Europa, como Fede Valverde, Darwín Nuñez, Rodrigo Bentancur e Ronald Araújo, que trazem sangue na guelra a uma equipa já famosa por ferver em pouca água.

Godín, Cavani, Suárez, Muslera e Cáceres vão para o seu quarto Mundial
Godín, Cavani, Suárez, Muslera e Cáceres vão para o seu quarto MundialAUF

Pontos fortes

O grande nome do Uruguai é o avançado Luís Suarez, de 35 anos, máximo goleador com 68 golos em 134 jogos pela seleção. Apesar de não estar a atuar ao mais alto nível, como há poucos anos, quando era disputado pelos tubarões da Europa, Luisito é uma referência ofensiva, com a cara e o espírito do futebol uruguaio, de muita luta, a deixar tudo o que pode e o que não pode em campo - a épica defesa que evitou o golo do Gana no final do prolongamento dos quartos de final do Mundial-2010 ou a mordidela a Chiellini no Brasil, em 2014, são exemplo disso. Em agosto, regressou ao país e ao Nacional para conquistar o título pelo clube do coração. Com faro de artilheiro, Suárez pode fazer a diferença para a celeste olímpica, que o tem como seu maior ídolo.

O ex-Benfica Darwin Nuñez, agora no Liverpool, é outro avançado com grande capacidade ofensiva e de finalização. No meio-campo, a grande referência é Valverde, que tem atravessado uma excelente fase no Real Madrid e é uma das maiores figuras dos merengues. Na defesa, Ronald Araújo (Barcelona) e José Gímenez (Atlético de Madrid) têm dificultado a vida aos avançados da Liga espanhola. Já Cavani pode ser opção a saltar do banco de suplentes, onde também devem marcar presença os leões Sebastián Coates e Manuel Ugarte.

Recorde a mão de Suárez antes do reencontro com o Gana
Recorde a mão de Suárez antes do reencontro com o GanaProfimedia

Pontos fracos

A grande interrogação nesta equipa aparentemente equilibrada é na baliza. O indiscutível Muslera, do Galatasaray, perdeu o lugar após a série de quatro derrotas na qualificação para Sergio Rochet, do Nacional. O guardião de 29 anos sofreu apenas um golo nos quatro jogos da reta final, em comparação com os 11 golos concedidos por Muslera nas quatro jornadas anteriores.

Ao mesmo tempo, os laterais não convencem: à direita, Guillermo Varela foi chamado tendo disputado apenas sete jogos em 2022 (seis ao serviço do Flamengo), José Luís Rodríguez, também do Nacional, ainda não se estreou pela seleção, e os 35 anos de Martín Cáceres – que pode jogar dos dois lados – parecem significar um ponto final nos tempos em que andava de trás para a frente nas faixas da Juventus e do Uruguai. Outra alternativa é Ronald Araújo, que tem sido adaptado a lateral direito com algum sucesso. À esquerda, Matías Viña perdeu espaço na Roma, de Mourinho, tendo feito apenas sete jogos, e Mathías Olivera tem sido suplente de Mário Rui no Nápoles, líder da Liga italiana.

XI ideal:

Rochet - Ronald Araújo, Giménez, Godín e Olivera - Bentancur, Vecino, Valverde e Arrascaeta - Darwin Núñez e Suárez.

Com mais dúvidas que certezas, este onze do Uruguai parece ser o que dá mais garantias a Diego Alonso. Com Ronald Araújo projetado pela direita e Olivera mais recuado à esquerda, Bentacur e Vecino seguram o meio-campo e fazem o jogo chegar aos desequilibradores num 4-4-2 clássico, mas com nuances nos comportamentos. Tanto Fede Valverde, à direita, e Arrascaeta, à esquerda, podem assumir posições mais centrais, permitindo a subida de Ronald Araújo e que Darwín acabe por cair nos corredores, usando a sua velocidade e habilidade no um para um, para depois servir o matador Suárez na área.

O miúdo Facundo Pellistri – titular em seis das sete internacionalizações -, aposta clara de Alonso desde que chegou à seleção, parece ter perdido espaço na equipa, já que esta temporada só fez um jogo pela equipa sub23 do Manchester United, depois de dois empréstimos ao Alavés.

Outra das alternativas pode ser a implementação de um sistema 3-5-2, com Araújo, Giménez e Godín/Coates no setor defensivo, o que abriria espaço para um ala mais ofensivo como Nicolás de la Cruz, Agustín Canobbio ou Facundo Torres – jovem de 22 anos que esteve a bom nível nos Orlando City. No entanto, a presença de quatro pontas de lança na convocatória (Suárez, Cavani, Darwín e Maxi Gómez) indica que o Uruguai não vai fugir à tradicional parelha de avançados na frente.

Principais dúvidas

Há várias dúvidas sobre as escolhas iniciais de Diego Alonso. Na defesa, a polivalência de grande parte dos escolhidos pode ajudar a esconder fragilidades, principalmente nos corredores laterais. A convocatória surpreendente de José Luís Rodríguez, que ainda não se estreou pela seleção, oferece mais uma solução para a faixa direita, para além de Guillermo Varela ou do veterano Martín Cáceres. Porém, se Ronald Araújo for o escolhido para esse lugar, abre então espaço no eixo para mais um central. José María Giménez, soldado indispensável de Simeone no Atlético de Madrid, parece ter um lugar garantido.

O outro fica em aberto, já que o capitão Diego Godín, de 36 anos e o jogador com mais internacionalizações pela celeste olímpica (159), só cumpriu 90 minutos em três jogos esta temporada pelo Vélez Sarsfield. Como concorrentes, tem nada mais nada menos que o capitão do Sporting, Sebastián Coates, figura de proa na formação de Rúben Amorim, e também Martín Cáceres.

Seleção uruguaia já treina em Abu Dhabi
Seleção uruguaia já treina em Abu DhabiAUF

Outra grande questão é quem vai fazer companhia ao máximo goleador da seleção, Luís Suárez, um lugar até agora intocável para Edinson Cavani. O avançado de 35 anos vem de uma temporada menos conseguida no Manchester United (dois golos em 20 jogos) e aterrou em Valência esta época com algo a provar. Quatro remates certeiros em sete jogos mostram que o uruguaio voltou a fazer as pazes com o golo, mas terá que lidar com a competição feroz de Darwín Nuñez.

O avançado de 23 anos transferiu-se no último mercado do Benfica para o Liverpool a troco de cerca de 80 milhões de euros, no final de uma campanha com 34 golos apontados pelas águias. Os nove tentos já anotados na curta carreira pelos reds mostram que não precisa de um grande período de adaptação e dão-lhe ligeira vantagem sobre Cavani no onze de Diego Alonso.

Previsão

O Uruguai tem boas hipóteses de se qualificar, sendo favorito para pelo menos dois dos três confrontos na primeira fase. O ideal é a qualificação em primeiro lugar, visto que o segundo classificado vai enfrentar o líder do grupo do Brasil, o que seria um grande obstáculo na caminhada uruguaia – não vencem a canarinha desde 2001! É, por isso, imperativo uma entrada forte diante da Coreia do Sul para dar confiança e também para assustar Portugal antes da segunda jornada. A celeste olímpica venceu os lusos nos oitavos de final do Mundial-2018 e um bom resultado perante os portugueses garante praticamente a passagem à próxima fase. 

A turma de Diego Alonso terá de dar o melhor nas duas primeiras jornadas e não deixar as decisões para a última jornada, no reencontro com o Gana, evitando assim um possível descontrolo emocional - no que promete ser um (re)encontro escaldante -, pelo qual são conhecidas as formações sul-americanas, principalmente uma que tem Luís Suárez em campo.