Artur Jorge: André evoca palestra ao intervalo da final de Viena
“Não haja dúvidas de que nos falou ao coração. Sentiu que nós íamos lá para dentro (do relvado) e mudávamos de atitude se realmente nos falasse ao coração. Ele falou-nos das viagens, do tempo passado fora de casa e da chuva que apanhámos para estarmos ali naqueles 90 minutos. Tocou-nos com sinceridade no coração e conseguimos dar a volta (ao resultado) com uma segunda parte fantástica”, recordou à agência Lusa o ex-médio.
A 27 de maio de 1987, no Estádio Prater, em Viena, António André foi titular na final da Taça dos Campeões Europeus e contribuiu para a reviravolta vitoriosa face aos alemães do Bayern Munique (2-1), que deu o primeiro dos sete títulos internacionais do FC Porto.
Os golos do argelino Rabah Madjer (77 minutos) e do brasileiro Juary (79) deram a volta ao tento inaugural de Ludwig Kögl (24), com o então internacional português a coroar um currículo notabilizado pela conquista de sete campeonatos, três Taças de Portugal, seis Supertaças Cândido de Oliveira, uma Taça Intercontinental ou uma Supertaça europeia.
“Para aquele tempo, já era um treinador acima da média. Lidei com ele muitos anos no FC Porto. Era um homem com sabedoria e dava prazer ser treinado por ele”, reforçou André, que assistiu na íntegra às duas passagens do ‘rei’ pelo banco (1984-1897 e 1988-1991).
Enaltecendo o “abraço aconchegado” que recebia a cada reencontro com Artur Jorge, o antigo jogador, de 66 anos, testemunhou também de perto a estreia do sucessor de Juca no comando da seleção portuguesa, em 29 de agosto de 1990, ao ser titular no encontro particular com a recém-campeã mundial RFA (1-1), no antigo Estádio da Luz, em Lisboa.
“A RFA tinha uma equipa fabulosa, das melhores do mundo. Foi um feito conseguirmos empatar com eles, embora jogássemos sempre com a intenção de ganhar. Nesse tempo, era quase impossível os germânicos perderem. Empatámos e já foi um resultado ótimo”, frisou, sobre um embate que reuniu apenas 20.000 espetadores e também lançou Berti Vogts como substituto Franz Beckenbauer, falecido no mês passado, no banco da RFA.
A ‘mannschaft’ atuou pela primeira vez desde a vitória sobre a Argentina (1-0), de Diego Maradona, na final do Mundial de 1990, em 08 de julho, no Estádio Olímpico de Roma, eternizada com um penálti tardio batido por Andreas Brehme, que morreu na terça-feira.
O encontro particular com Portugal significou também a última aparição futebolística da RFA antes da reunificação alemã, em 03 de outubro, e precedeu o início da qualificação para a fase final do Euro1992, que os lusos falharam e foi dominada pela surpreendente Dinamarca, ao impor-se aos germânicos na decisão (0-2), em Gotemburgo, na Suécia.
Artur Jorge abandonou a equipa das ‘quinas’ a meio desse apuramento, em fevereiro de 1991, reassumindo as funções de selecionador a seguir ao afastamento de Portugal nos quartos de final do Euro1996, numa fase em que António André já tinha terminado a sua carreira, somando 20 internacionalizações por entre 11 épocas ao serviço do FC Porto.
Com 16 partidas pela seleção ‘AA’, o ‘rei’ rendeu António Oliveira e participou em toda a qualificação para o Mundial de 1998, o último grande torneio internacional falhado pelos lusos desde então, saindo em novembro de 1997, com nove vitórias, oito empates e três derrotas nas 20 partidas disputadas em dois períodos ao leme do conjunto das ‘quinas’.
“Deixa um legado muito forte, porque perdemos um grande homem, de H grande. Tive a felicidade de ser orientado por ele, até porque já era dos melhores treinadores europeus. Queria dar condolências à sua família. Que Deus o tenha em paz”, finalizou o ex-médio natural de Vila do Conde, que brilhou pelo Varzim (1979-1984) antes de rumar às Antas.