Apesar da segurança apertada em torno dos Jogos, um atentado à bomba ocorrido no Parque Centenário, a principal zona recreativa de Atlanta-1996, vitimou mortalmente duas pessoas e feriu mais de uma centena a 27 de julho.
Inicialmente, o crime foi atribuído a um segurança - que tinha descoberto o engenho, permitindo o início da evacuação da zona -, mas o real autor, um radical de extrema-direita, apenas foi preso sete anos depois.
100 anos após a primeira edição da Era Moderna, em Atenas, os gregos lutaram por trazer à sua capital nova edição dos Jogos, mas acabaram por perder a votação para os Estados Unidos, que recebiam pela quarta vez o evento e a segunda em 12 anos, depois de Los Angeles-1984.
Contudo, os Jogos da XXVI Olimpíada foram bem menos sucedidos do que os seus antecessores, com as críticas à atribuição à capital do estado da Geórgia a subirem de tom devido à ineficácia dos organizadores em diversas áreas.
A deficiente rede de transportes, as precárias condições da Aldeia Olímpica, o mau funcionamento do sistema informático de divulgação de resultados e o excesso de zelo da polícia foram alguns dos problemas em Atlanta.
Desportivamente, os norte-americanos aproveitaram para voltar a dominar o quadro de medalhas, após 36 anos de derrotas para a União Soviética e, em Barcelona-1992, para a sua sucessora, a Comunidade de Estados Independentes.
Depois dos Jogos de 1968, na Cidade do México, o único triunfo dos norte-americanos tinha sido na edição de 1984, mas em Los Angeles a competição não contou com os países do Bloco de Leste, que a boicotaram em resposta ao que os Estados Unidos fizeram relativamente a Moscovo-1980.
No total, os Estados Unidos conquistaram 44 medalhas de ouro em Atlanta-1996 (contra 26 da Rússia e 20 da Alemanha), destacando-se os conquistados pelos míticos Michael Jonhson e Carl Lewis.
Johnson, com as suas famosas sapatilhas douradas, tornou-se o primeiro homem a vencer os 200 e 400 metros numa mesma edição dos Jogos, com um assombroso recorde mundial na prova mais curta, com 19,32 segundos, apenas batido, por dois centésimos, pelo jamaicano Usain Bolt em Pequim-2008.
Em casa, Lewis terminou a sua história olímpica, com a sua nona medalha – apenas o finlandês Paavo Nurmi tinha tantas no atletismo –, conquistando pela quarta vez consecutiva o salto em comprimento, com 8,35 metros.
Destaque ainda para a atleta francesa Marie-José Pérec, que, como Michael Johnson, venceu os 200 e 400 metros, defendendo o título conquistado quatro anos antes na distância mais longa, além da melhor marca mundial do canadiano Donovan Bailey nos 100 metros (9,84 segundos).
O ciclista espanhol Miguel Indurain, pentacampeão da Volta à França, venceu o contrarrelógio, os tenistas norte-americanos Andre Agassi e Lindsay Davenport conquistaram o ouro, assim como a surpreendente seleção nigeriana masculina de futebol.
A nadadora norte-americana Amy Van Dyken, com quatro medalhas de ouro, foi a mais medalhada dos Jogos de Atlanta.
Após os maus resultados em Barcelona-1992, Portugal voltou aos pódios em Atlanta-1996 com uma medalha de ouro e outra de bronze, além de dois quartos lugares, no futebol e no voleibol de praia masculino.
Depois de Carlos Lopes e Rosa Mota, o atletismo voltou a ser dourado, com Fernanda Ribeiro, campeã europeia e mundial, a vencer os 10.000 metros, enquanto a medalha de bronze foi conquistada na vela, por Hugo Rocha e Nuno Barreto na classe 470.
Pela primeira vez na história olímpica, os 197 comités olímpicos nacionais reconhecidos estiveram nos Jogos.
Fernanda Ribeiro de ouro e o regresso da vela ao pódio
Uma recuperação épica na final dos 10.000 metros de Atlanta-1996 permitiu a Fernanda Ribeiro voltar a dar um ouro olímpico a Portugal, com a vela a conquistar um pódio 36 anos depois.
Depois da desilusão nos Jogos Olímpicos Barcelona-1992, Portugal apresentou-se com a maior delegação da história (107 atletas) e o atletismo voltou a fazer subir a bandeira portuguesa ao lugar mais alto do pódio, nos Estados Unidos, onde 12 anos antes Carlos Lopes tinha dado o primeiro ouro a Portugal.
Fernanda Ribeiro, campeã mundial no ano anterior, era uma das grandes candidatas ao título olímpico, embora tivesse como adversárias a chinesa Wang Junxia, invencível há 15 corridas, e uma lesão no tendão de Aquiles que a fez abdicar dos 5.000 metros.
Na final, disputada de madrugada em Portugal, a atleta de Penafiel chegou a ter um atraso de cerca de 10 metros para a chinesa na volta final, mas já na reta da meta conseguiu uma recuperação fantástica e ultrapassou Wang Junxia a cerca de 20 metros do final.
Carla Sacramento, medalha de ouro nos Europeus1996 de pista coberta, foi sexta nos 1.500 metros e Manuela Machado terminou a maratona na sétima posição.
Teresa Machado, a primeira portuguesa numa disciplina técnica de atletismo, foi 10.ª no lançamento do disco.
36 anos depois da prata dos irmãos Quina, a vela portuguesa voltou a ser medalhada, com o bronze de Hugo Rocha e Nuno Barreto na classe 470, o mesmo lugar que ocupavam no ranking mundial à entrada para os Jogos.
Também na vela, João Rodrigues foi sétimo na prancha à vela, numa prova em que se apresentava como um dos candidatos a um lugar no pódio.
O futebol, pela segunda vez apurado para os Jogos Olímpicos (depois do quinto posto em Amesterdão-1928), também chegava a Atlanta com esperança de medalhas, mas acabou por ficar no quarto lugar, depois de ser goleado pelo Brasil no encontro de atribuição do bronze, por 5-0.
Orientada por Nelo Vingada, a seleção portuguesa, com Beto, Capucho, Paulo Alves, Nuno Gomes, Porfírio e Dani, entre outros, foi segunda no grupo e apurou-se para os quartos de final juntamente com a Argentina.
Depois do triunfo frente à França, por 2-1, no prolongamento, a equipa das quinas reencontrou a Argentina nas meias-finais, sendo batida por 2-0.
No estreante voleibol de praia, João Brenha e Miguel Maia também estiveram a um pequeno passo do pódio, acabando eliminados por uma dupla norte-americana nas meias-finais e perdendo com o par canadiano no encontro de atribuição do terceiro lugar.
De resto, destaque apenas para os nonos lugares dos judocas Pedro Soares e Michel de Almeida.
Quadro de medalhas
Estados Unidos - 101
Rússia - 63
Alemanha - 65
China - 50
França - 37
Itália - 35
Austrália - 41
Cuba - 27
Ucrânia - 23
Coreia do Sul - 27
Polónia - 17
Hungria - 21
Espanha - 17
Roménia - 20
Países Baixos - 19
Grécia - 8
República Checa - 11
Suíça - 7
Dinamarca - 6
Turquia - 6
Canadá - 22
Bulgária - 15
Japão - 14
Cazaquistão -11
Brasil- 15
Nova Zelândia - 6
África do Sul - 5
Irlanda - 4
Suécia - 8
Noruega - 7
Bélgica - 6
Nigéria - 6
Coreia do Norte - 5
Argélia - 3
Etiópia - 3
Grã-Bretanha - 15
Bielorrússia - 15
Quénia - 8
Jamaica - 6
Finlândia - 4
Indonésia - 4
Sérvia Montenegro - 4
Irão - 3
Eslováquia - 3
Arménia - 2
Croácia - 2
PORTUGAL - 2
Tailândia - 2
Burundi - 1
Costa Rica - 1
Equador - 1
Hong Kong - 1
Síria - 1
Argentina - 3
Eslovénia - 2
Namíbia - 2
Áustria - 3
Malásia - 2
Moldávia - 2
Uzbequistão - 2
Azerbaijão - 1
Bahamas - 1
Filipinas - 1
Letónia - 1
Tonga - 1
Taiwan - 1
Zâmbia - 1
Geórgia - 2
Marrocos - 2
Trindade e Tobago - 2
Índia - 1
Israel - 1
Lituânia - 1
México - 1
Mongólia - 1
Moçambique - 1
Porto Rico - 1
Tunísia - 1
Uganda - 1