Berlim-1936: Jesse Owens contrariou a propaganda nazi
Tudo estava preparado ao mais ínfimo pormenor para que o mundo conhecesse, através de uma grande organização desportiva, a grandiosidade da Alemanha e, sobretudo, do seu novo poder político, liderado por Hitler, que alegava estar numa cruzada de paz.
Boa organização, cenários espetaculares, paradas militares impressionantes e um público entusiasta – mais de quatro milhões de bilhetes foram vendidos – faziam dos Jogos de Berlim uma grande festa, nos quais Portugal voltou a conquistar uma medalha de bronze em equestre.
Berlim teve, 20 anos depois da edição anulada pela I Guerra Mundial, os seus Jogos Olímpicos, os primeiros com transmissão em direto – 25 salas para visionamento do evento foram montadas na zona da capital alemã.
A própria realização não foi deixada ao acaso, com o regime a escolher o génio de Leni Riefenstahl, que ficou conhecida como a realizadora de Hitler e que das imagens dos Jogos criou o documentário Olympia, dividido em dois volumes: Festa da Beleza e Festa do Povo.
A organização foi perfeita, mas desportivamente, mesmo com a Alemanha a ser a equipa com mais ouros, Hitler não conseguiu afirmar a superioridade ariana, especialmente no atletismo, cada vez mais a principal modalidade dos Jogos Olímpicos.
James Cleveland Owens tornou-se uma lenda na capital alemã, ao conquistar quatro títulos olímpicos, nos 100 e 200 metros, 4x100 metros e salto em comprimento, estabelecendo novos máximos mundiais e derrotando adversários arianos, com destaque para o título do comprimento em que bateu por 19 centímetros um dos atletas preferidos de Hitler, Lutz Long.
As conquistas de Jesse Owens e de outros atletas de raças que considerava inferiores levaram mesmo Hitler a recusar-se a entregar algumas medalhas.
Contudo, a Alemanha conseguiu mesmo quebrar a hegemonia norte-americana no medalheiro, ao conquistar 33 títulos olímpicos, contra 24 dos Estados Unidos, arrecadando ao todo 89 das 388 medalhas em discussão.
Nos Jogos Berlim-1936 participaram 4.066 atletas de 49 países, incluindo Portugal, que voltaria a chegar ao bronze no equestre - como em Paris-1924 -, por intermédio de Luís Mena e Silva, Domingos de Sousa Coutinho e José Beltrão, no concurso de saltos de obstáculos por equipas.
A norte-americana Marjorie Gestring, de 13 anos, ganhou o ouro nos saltos para a água e ainda é a mais jovem campeã olímpica de sempre, sendo que, ainda mais jovem, com apenas 12 anos, a dinamarquesa Inge Sorensen conquistou o bronze nos 200 metros bruços.
Em 1932, pela primeira vez, a tocha olímpica fez o percurso entre Olímpia, na Grécia, e a cidade que recebe os Jogos, num caminho de mais de 3.000 quilómetros que passou por Grécia, Bulgária, Jugoslávia, Hungria, Checoslováquia, Áustria e Alemanha.
Hipismo português reconquista bronze 12 anos depois
O equestre tornou-se a primeira modalidade a conquistar duas medalhas para Portugal em Jogos Olímpicos, ao repetir em Berlim-1936 o bronze na prova coletiva de obstáculos (Prémio das Nações), que já tinha conquistado 12 anos antes.
Em termos individuais, no sexto posto, José Beltrão, montando Biscuit, foi o melhor na equipa portuguesa, composta ainda por Domingos de Sousa Coutinho e Luís Mena Silva.
Com 52,00 pontos de penalização, o conjunto nacional ficou bem mais perto da medalha de prata, conquistada pelos Países Baixos (51,50), do que do quarto lugar, dos Estados Unidos (72,50), repetindo a posição conseguida em Paris1924.
A competição foi ganha pela anfitriã Alemanha, que penalizou 44,00 pontos e teve também o vencedor individual (Kurt Hasse).
Na esgrima, Henrique da Silveira, que cumpria a quarta participação olímpica, foi o melhor dos cinco atiradores lusos, ao conseguir o sexto posto na prova de espada, com quatro vitórias e cinco derrotas.
Coletivamente, a formação portuguesa, composta ainda por Gustavo Carinhas, Paulo d’Eça Leal, António Mascarenhas Menezes e João Sassetti, falhou o acesso à fase final (na qual tinha estado em 1920, 1924 e 1928, ano em que conquistou o bronze) e ficou-se pelo quinto lugar, ex-aequo com Bélgica, Polónia e Estados Unidos.
Portugal ganhou à Suíça (9-7) e perdeu com a Polónia (9-7) na primeira eliminatória, depois superou a Argentina (9-5) e, na ronda seguinte, não logrou qualquer vitória - perdeu com a Suécia (bronze) por 9-7 e com a Itália (prata) por 8-2.
Portugal não conseguiu resultados relevantes no atletismo, na vela e no tiro, num ano em que voltou a competir na maratona, depois da morte de Francisco Lázaro, em 1912.
Manuel Dias foi o melhor dos dois maratonistas lusos, ao terminar no 17.º lugar uma prova ganha pelo sul-coreano Sohn-Kee-chung.
Os portugueses
- ATLETISMO:
Maratona (M) Manuel Dias 17.º
Maratona (M) Jaime Mendes Desistiu
- HIPISMO (PRÉMIO DAS NAÇÕES):
Obstáculos (M) José Beltrão 6.º
Obstáculos (M) Domingos de Sousa 16.º
Obstáculos (M) Luís Mena e Silva 21.º
Obstáculos (M) José Beltrão 3.º (Bronze)
Equipas Domingos de Sousa
Luís Mena e Silva
- ESGRIMA:
Espada (M) Henrique da Silveira 6.º
Espada (M) Paulo d’Eça Leal 9.º na meia-final
Espada (M) Gustavo Carinhas 2.ª eliminatória
Espada (M) Paulo d’Eça Leal Meias-finais
Equipas Henrique da Silveira
Gustavo Carinhas
João Sassetti
Mascarenhas Menezes
- VELA:
Monotipos (M) Ernesto Mendonça 21.º
Star (M) J. Mascarenhas Fiúza 10.º
António G. Herédia
- TIRO:
Pist.autom.25m (M) A. Anderssen Júnior Não passou 1.ª eli.
Pist.autom.25m (M) J. Ferreira da Mota Não passou 1.ª eli.
Pist.autom.25m (M) Carlos Machado Queiroz Não passou 1.ª eli.
Pist.prec.50m (M) Moysés Cardoso 40.º (490 pontos)
Carabina 50m (M) Eduardo Santos 15.º (293)
Carabina 50m (M) Carlos Machado Queiroz 23.º (292)
Carabina 50m (M) Francisco A. Real 59.º (283)
Quadro de medalhas:
Alemanha: 101
Estados Unidos: 57
Hungria: 16
Itália: 27
Finlândia: 20
França: 19
Suécia: 21
Japão: 20
Países Baixos: 17
Áustria: 17
Suíça: 18
Grã-Bretanha: 14
Checoslováquia: 9
Argentina: 7
Estónia: 7
Egito: 5
Canadá: 9
Noruega: 6
Turquia: 2
Nova Zelândia: 1
Índia: 1
Polónia: 9
Dinamarca: 5
Letónia: 2
África do Sul: 1
Jugoslávia: 1
Roménia: 1
Bélgica: 3
México: 3
Austrália: 1
Filipinas: 1
PORTUGAL: 1