O regresso a terras germânicas, 36 anos após uma edição associada à propaganda nazi, voltou a ficar marcado negativamente, quando foi escrita a mais sangrenta e negra página dos Jogos da Era Moderna.
A 5 de setembro, um comando de oito palestinianos, da Organização Setembro Negro, que exigia a libertação de 200 presos, entrou na Aldeia Olímpica, dirigiu-se às instalações israelitas e matou dois atletas, fazendo reféns outros nove.
Já no aeroporto militar de Furstenfeldbruck, para onde estava planeada a fuga, um tiroteio entre os sequestradores e as forças especiais da brigada antiterrorista alemã acabou com a morte dos nove atletas reféns, cinco palestinianos e um polícia.
O mais grave incidente da história do olimpismo quase levou ao cancelamento dos Jogos de Munique, mas o presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Avery Brundage, insistiu, com o apoio de Israel, que tudo seguisse como planeado, com a célebre frase The Games must go on (Os Jogos têm de continuar).
Os Jogos de 1972 acabariam por ser retomados 34 horas depois, com a bandeira olímpica a meia haste e com uma cerimónia dedicada à memória dos atletas israelitas mortos.
A nível desportivo, o nadador norte-americano Mark Spitz, de origem judaica e que foi retirado do país à pressa após o massacre, foi a figura maior dos Jogos de Munique, ao conquistar sete medalhas de ouro, com outros tantos recordes do mundo.
O nadador californiano conquistou mais de um quinto das 33 medalhas de ouro ganhas pelas cores norte-americanas, insuficientes para manter a supremacia no medalheiro dos Estados Unidos, novamente suplantados pela União Soviética.
Os soviéticos alcançaram a meia centena de medalhas de ouro, duas das quais pelo velocista Valery Borzov, nos 100 e 200 metros, e três pela ginasta Olga Korbut.
No terceiro posto do quadro de medalhas ficou a República Democrática Alemã, com 20 de ouro, seguida da República Federal Alemã, com 13, sendo que Portugal ficou, pela terceira edição consecutiva, afastado das medalhas.
A Guerra Fria foi transferida para o campo de basquetebol, com um polémico final do encontro decisivo, em que os Estados Unidos recusaram a medalha de prata, por considerarem que o lançamento crucial de Sasha Belov já tinha sido feito após o final do encontro.
As estreias de Fernando Mamede e Carlos Lopes
Portugal ficou, pela terceira edição consecutiva, fora do pódio em Jogos Olímpicos, com um sexto lugar na vela a ser melhor resultado em Munique-1972, apesar das estreias de Carlos Lopes e Fernando Mamede.
No mar do Norte, António Mardel Correia e Henrique Ulrich Anjos alcançaram o sexto lugar em Star, mas não conseguiram dar a quarta medalha olímpica à vela portuguesa, 12 anos depois da última, conquistada pelos irmãos Mário e José Manuel Quina.
Dois dos maiores fundistas da história do atletismo português fizeram a sua estreia olímpica em Munique, mas de forma discreta, com Carlos Lopes (5.000 e 10.000 metros) e Fernando Mamede (800 e 1.500) a serem eliminados na primeira eliminatória, numa edição em que Portugal participou pela primeira vez nos 1.500, 5.000 e 10.000 metros.
No hipismo, Portugal conseguiu o 13.º lugar no Prémio das Nações, enquanto Luís Grilo foi nono na categoria 57 kg da luta greco-romana e o atirador Armando Marques foi 19.º no fosso olímpico.
A representação nacional concorreu ainda nas modalidades de halterofilismo, judo e remo, mas sem resultados relevantes.
Quadro de Medalhas
União Soviética - 99
Estados Unidos - 94
RDA - 66
RFA- 40
Japão - 29
Austrália - 17
Polónia - 21
Hungria - 35
Bulgária - 21
Itália - 18
Suécia - 16
Grã-Bretanha - 18
Roménia - 16
Cuba - 8
Finlândia - 8
Países Baixos - 5
França - 13
Checoslováquia - 8
Quénia - 9
Jugoslávia - 5
Noruega - 4
Coreia do Norte - 5
Nova Zelândia - 3
Uganda - 2
Dinamarca - 1
Suíça - 3
Canadá - 5
Irão - 3
Bélgica - 2
Grécia - 2
Áustria - 3
Colômbia - 3
Argentina - 1
Coreia do Sul - 1
Líbano - 1
México - 1
Mongólia - 1
Paquistão - 1
Tunísia - 1
Turquia - 1
Brasil - 2
Etiópia - 2
Espanha - 1
Gana - 1
Índia - 1
Jamaica - 1
Níger - 1
Nigéria - 1