Paris-2024:Noah Lyles e Sha'Charri Richardson são os principais talentos do atletismo
Os atuais campeões do mundo são as estrelas de uma série documental recentemente lançada pela Netflix, intitulada "Sprint", que dá uma visão próxima e pessoal das suas vidas dentro e fora da pista.
No Stade de France - com as câmaras ainda a rodar para a segunda temporada - o debate será se Lyles, que ganhou três medalhas de ouro nos campeonatos mundiais de Budapeste do ano passado, pode vencer o campeão olímpico Marcell Jacobs, de Itália, e ser coroado como o legítimo sucessor do rei do sprint Usain Bolt.
O outro tema é saber se Richardson consegue resistir à jamaicana Shelly-Ann Fraser-Pryce, a veterana pentacampeã mundial dos 100 metros que procura o terceiro ouro olímpico na disciplina.
Para os dois americanos, trata-se de uma questão de redenção. Lyles afirma que o bronze dos 200 metros que ganhou nos Jogos Olímpicos de Tóquio "ainda lhe faz um buraco" no peito. Já Richardson nem sequer apanhou o avião para o Japão depois de ter sido suspensa por consumo marijuana.
"Sei exatamente onde estou antes de Paris. Quanto mais olhos estiverem em mim, melhor será o meu desempenho, ou pelo menos é o que diz o meu terapeuta. Quando as câmaras de televisão estão viradas para mim e as pessoas estão presentes, não estou a perder", disse Lyles, que chegou a Paris depois de ter estabelecido um recorde pessoal de 9,81 segundos na Liga Diamante de Londres.
Richardson, que pretende tornar-se a primeira mulher norte-americana a ganhar um título olímpico nos 100 metros desde Gail Devers, em 1996, acrescentou: "Quando entro nos blocos, o que interessa é fazer o trabalho. Sei que há alegria do outro lado, na linha da meta".
Embora Lyles e Richardson possam ser as grandes manchetes nas finais de sábado para as mulheres e de domingo para os homens, haverá uma enorme variedade de talentos em exibição na capital francesa.
O rei do salto com vara da Suécia, Armand Mondo Duplantis, vai tentar ultrapassar os seus próprios limites para alcançar a vitória, com a possibilidade de obter o seu décimo recorde mundial consecutivo, enquanto duas das provas mais emocionantes são da mesma disciplina: os 400 metros barreiras.
Batalhas nos 400m barreiras
Há três anos, em Tóquio, os 400 metros barreiras produziram duas das corridas mais espantosas da história dos Jogos Olímpicos, que se tornaram ainda mais notáveis por terem sido disputadas num estádio sem espetadores.
Em primeiro lugar, o norueguês Karsten Warholm bateu o seu próprio recorde mundial por uns impressionantes 0,76 segundos, vencendo a prova masculina de obstáculos em 45,94 segundos.
24 horas depois, a norte-americana Sydney McLaughlin-Levrone fez o impossível e melhorou o seu próprio recorde mundial em 0,44 segundos, para 51,46 segundos.
As duas provas de obstáculos prometem ser novamente espetaculares, com Warholm a ser pressionado pelo norte-americano Rai Benjamin e McLaughlin-Levrone pela neerlandesa Femke Bol.
As corridas de 800 metros masculinos e femininos também devem ser duas provas absolutamente imperdíveis, com dois recordes mundiais sob ameaça, embora os atletas sublinhem sempre que os campeonatos são mais uma questão de medalhas.
O argelino Djamel Sedjati está de olho no tempo de 1:40.91 do queniano David Rudisha, que subiu ao terceiro lugar da lista de todos os tempos numa demonstração de forma no circuito da Liga Diamante esta época.
Na ausência da campeã Athing Mu, a britânica Keely Hodgkinson chega a Paris como a atleta a bater no campo das duas voltas femininas, depois de ter feito o melhor tempo da carreira com 1:54.61 em Londres, há duas semanas, para mostrar que pode melhorar a prata conquistada em Tóquio.
O tempo foi o mais rápido desde a agora banida Caster Semenya em 2018, colocando a britânica em sétimo lugar na lista de todos os tempos e aproximando-se cada vez mais do improvável recorde mundial de 1:53.28 estabelecido pela então checoslovaca Jarmila Kratochvilova, há 41 anos.
As provas de média distância prometem vários confrontos de alto nível, sobretudo porque a sempre imprevisível Sifan Hassan segue as pisadas do atleta checo Emil Zatopek, competindo nos 5.000m, 10.000m e maratona. Em Tóquio, venceu a dobradinha 5.000m/10.000m e conquistou o bronze nos 1.500m.
Em Paris, a irreprimível queniana Faith Kipyegon vai tentar conquistar o terceiro título olímpico consecutivo nos 1.500 metros.
Os 1.500 metros masculinos oferecem uma das rivalidades mais acesas do circuito, com o capitão da equipa britânica Josh Kerr a defrontar mais uma vez Jakob Ingebrigtsen.
Ingebrigtsen é o atual campeão olímpico, mas o norueguês foi derrotado duas vezes no campeonato mundial desde então, por Jake Wightman, em Eugene, e depois por Kerr, um ano mais tarde, em Budapeste.
"Se não me lesionar e não ficar doente, acho que vai ser um passeio no parque", disse o sempre confiante Ingebrigtsen, que vai defender o seu título dos 1.500m, bem como tentar uma dobradinha na distância dos 5000m.