Bach prefere deixar a avaliação do seu legado à história
“Penso que não me cabe a mim avaliar estes 11 anos. Isso cabe aos atletas, aos comités olímpicos nacionais e às pessoas com as quais temos trabalhado nestes últimos 11 anos. De qualquer maneira, ainda tenho alguns meses pela frente (as eleições são em março) e algumas ideias. Não me tornem uma carta fora do baralho demasiado cedo. Talvez possamos falar no próximo ano”, sugeriu.
Numa entrevista conjunta à agência Lusa e à RTP, o dirigente alemão começou por esclarecer que dirigir o COI não é um emprego, mas sim uma “paixão”, antes de evitar responder se hoje gostaria de ter feito algo diferente nos seus mandatos à frente do organismo olímpico.
“É uma pergunta muito difícil e talvez também uma questão à qual só a história poderá responder. Se numa ou outra ocasião poderia ter feito algo diferente, fosse com reformas ainda mais robustas do que aquelas que implementámos, ou se estas foram demasiado robustas… penso que serão precisas décadas e só a história o poderá dizer”, defendeu.
Campeão olímpico de esgrima em 1976 (por equipas), foi eleito nono presidente do COI em 10 de setembro de 2013, depois de um percurso no organismo iniciado em 1991.
“Neste momento, o que podemos dizer é que as reformas estão a funcionar, são efetivas e apreciadas”, pontuou.
Sem se alongar sobre a sua liderança, Thomas Bach insistiu em evocar as reformas que implementou e que foram particularmente visíveis nos últimos Jogos Olímpicos Paris-2024, que decorreram entre 26 de julho e 11 de agosto.
“Estamos extremamente felizes com Paris. Estes foram, de certa maneira, uns Jogos que nós imaginámos com as nossas reformas. Isto só pode acontecer porque estivemos plenamente alinhados com a organização de Paris-2024 sobre o formato destes Jogos mesmo antes de se tornarem um Comité Organizador, ainda na fase de candidatura. Houve uma coordenação muito próxima”, enalteceu.
De acordo com o presidente do COI, os últimos Jogos foram “mais inclusivos, mais urbanos, dirigindo-se a uma audiência mais jovem”, e mais sustentáveis, numa perfeita sintonia com a “agenda olímpica de reformas”.
“Com a nossa alocação de quotas, também foram os primeiros Jogos inteiramente paritários. Dificilmente poderíamos estar mais felizes do que estamos e também pudemos perceber que o mundo apreciou esta mensagem de unidade, de conseguirmos ter atletas de todos os territórios dos 206 comités olímpicos nacionais, juntamente com a equipa olímpica de refugiados, a enviar uma mensagem tão forte de paz e unidade”, salientou
O dirigente olímpico, de 70 anos, estimou que Paris-2024 foi “imensamente apreciado”, apoiando-se no facto de “metade da população do mundo” ter acompanhado o evento.
“Os atletas adoram quando são apoiados por uma grande audiência, como aconteceu em Paris e como aconteceu nos ecrãs de todo o mundo, em que as pessoas ficaram coladas aos televisores ou aos seus telemóveis e seguindo os Jogos em diversas plataformas. Este é o palco que estamos a criar para os atletas brilharem”, respondeu, ao ser questionado sobre se o COI não estaria mais preocupado com o sucesso entre o público do que com os atletas.
Bach refutou também a ideia de que a inclusão de novas modalidades, como o surf, o skate, o breaking, o BMX, a escalada, ou as locais flag football, lacrosse ou squash em Los Angeles-2028, desvirtue os valores do olimpismo.
“Pelo contrário. Contribui imensamente para os valores do olimpismo, que evoluíram para ser interpretados consoante os tempos. A tradição por si só não é um valor. Se organizássemos hoje os Jogos de 1896, ninguém estaria interessado. Então, os Jogos Olímpicos não seriam relevantes. De modo a mantê-los relevantes, temos de continuar a atribuir-lhes importância, particularmente para as gerações mais novas”, sustentou.
Em Portugal para participar pela última vez na assembleia geral da Associação dos Comités Olímpicos Nacionais (ANOC), a decorrer no Centro de Congressos do Estoril, Bach presidirá ao COI até março, com as eleições para a sua sucessão agendadas entre 18 e 21, na Grécia.