O regresso de Jokic às competições internacionais acontece um ano depois de ter falhado o Campeonato do Mundo nas Filipinas, onde a Sérvia terminou em segundo lugar, depois de ter perdido na final contra a Alemanha por 83-77. A ausência do poste de 29 anos nesse torneio provocou indignação na Sérvia, poucos meses depois de ter sido alvo de uma efusão de amor quando conduziu os Denver Nuggets à conquista do título da NBA.
Os adeptos sérvios foram para as redes sociais criticar Jokic, com a estrela da NBA a ser rotulado de "traidor" por muitos.
"O sentimento da nação é inteiramente justificado ao acreditar que jogar pela seleção nacional é mais um hobby, em vez de um ato de patriotismo ou desejo genuíno", disse o jornalista desportivo sérvio Vladimir Zivanovic à AFP.
Há muito que o basquetebol é uma obsessão na Sérvia, com alguns clubes a esgotarem regularmente os jogos na Arena Stark de Belgrado, com 18.000 lugares.
Os adeptos são conhecidos por acordarem de manhã cedo para assistirem aos jogos da NBA, ao mesmo tempo que participam em rivalidades coloridas que fazem da Sérvia um dos melhores locais do mundo para ver basquetebol ao vivo. O desempenho da Sérvia em França será um dos mais acompanhados no país durante os Jogos Olímpicos.
A carreira internacional de Jokic começou de forma promissora, depois de ganhar uma medalha de prata no Rio de Janeiro durante os Jogos Olímpicos de 2016. Mas, desde então, não conseguiu vencer nenhum grande torneio internacional com a Sérvia, facto que espera mudar em Paris.
O seleccionador da Sérvia, Svetislav Pesic, disse que Jokic é um dos componentes vitais da equipa a caminho dos Jogos Olímpicos.
"A participação de Jokic é certamente importante, em todos os sentidos. Tanto do ponto de vista da qualidade individual como do ponto de vista da sua personalidade", disse Pesic numa entrevista em junho.
Cidade natal e cavalos
O MVP, tímido a falar aos meios de comunicação social, sempre foi honesto quanto à valorização do tempo fora do campo de basquetebol, um aspeto que salientou quando apareceu nos meios de comunicação social durante a campanha até ao título da NBA no ano passado.
"O trabalho está feito, podemos ir para casa agora", disse durante uma entrevista em campo momentos depois de vencer a final.
Fora do campo, Jokic regressa regularmente à sua terra natal, Sombor, uma cidade adormecida do norte, perto da fronteira com a Croácia. Lá, o astro da NBA prefere manter a discrição e evita entrevistas, enquanto passa tempo com a família e se entrega à sua outra paixão: cavalos.
Quando está longe das pistas de corrida, Jokic vai regularmente à sua antiga escola em Sombor para falar com os jovens jogadores num pequeno campo. Os vídeos publicados nas redes sociais ao longo dos anos também o mostram a dançar ao som de música folclórica com os amigos ou a elevar-se sobre os foliões nos famosos clubes noturnos da Sérvia.
MVP
De volta ao campo, o seu estilo de jogo faz lembrar uma fórmula desenvolvida na antiga Jugoslávia, descrita como "basquetebol jazz", que se baseia na criatividade individual e não na velocidade ou força pura.
Jokic é conhecido por manter as coisas simples em campo, misturando movimentos ligeiros e toques simples com uma precisão de laser. Especialmente com os passes, que o levou a terminar em segundo lugar na liga em termos de assistências esta última época. Em maio, Jokic foi eleito o Jogador Mais Valioso (MVP) da NBA pela terceira vez em quatro temporadas.
Ganhou o troféu numa época em que teve uma média de 26,4 pontos, 12,4 ressaltos e nove assistências, batendo a estrela dos Oklahoma City Thunder, Shai Gilgeous-Alexander, e Luka Doncic, dos Dallas Mavericks, na votação final para o prémio.
Mas a conquista do mais recente título de MVP foi seguida de uma derrota dececionante nas meias-finais da Conferência Oeste contra os Minnesota Timberwolves. A saída antecipada deu ao poste de 2,11 metros bastante tempo para descansar antes dos Jogos Olímpicos, onde a Sérvia está entre a lista de favoritos para terminar com uma medalha.
O basquetebol foi introduzido pela primeira vez por um enviado da Cruz Vermelha norte-americana há um século, enquanto o governo da antiga Jugoslávia investiu generosamente no desporto, com campos de basquetebol construídos em quase todos os bairros.
Os Balcãs continuam a ser um campo fértil para o talento e Jokic está firmemente estabelecido entre os melhores da região. A pressão para que traga o estatuto de vencedor na NBA para Paris durante os Jogos Olímpicos continua a ser grande.
"A expetativa é certamente que ele compense todos os anos anteriores e seja o melhor jogador da equipa", disse Zivanovic.
"Caso contrário, colocar-se-á a questão da sua futura participação", vincou.