Análise: Como os Dallas Mavericks se tornaram candidatos ao título da NBA
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Desde que Luka Doncic mudou-se do Real Madrid para os Mavs, em 2018, a equipa tem dependido fortemente da superestrela geracional para os carregar e ganhar jogos. Mesmo durante a campanha até as Finais da Conferência em 2022, tudo girou à volta de Luka Magic com Dorian Finney-Smith, Reggie Bullock Jr e Maxi Kleber a dar apoio na defesa enquanto atuavam em small ball.
Mas não foi suficiente. Os Mavericks superaram as melhores expectativas ao chegarem a essa fase e precisavam de melhorar se quisessem progredir. Precisavam de mais poder de fogo para apoiar Doncic, bem como de algum tamanho e capacidade atlética na defesa.
Apesar de terem perdido o número 2 de Doncic, Jalen Brunson, no verão de 2022, começaram a época relativamente bem e, em fevereiro, estavam em quarto lugar na Conferência Oeste. E muito disso deveu-se ao esloveno. A defesa sofreu um declínio drástico, especialmente quando Kleber sofreu uma lesão prolongada. Era uma sombra da defesa que esteve no top 10 no ano anterior. Mas com o desempenho de Doncic, conseguiram andar perto do topo.
Por isso, os Mavericks fizeram a troca com os Brooklyn Nets por Kyrie Irving, oito vezes All-Star e campeão em 2016, com o objetivo de criar um dos ataques mais formidáveis do basquetebol, juntamente com Doncic. No processo, perderam uma importantes peça defensiva, Finney-Smith, e ainda Spencer Dinwiddie.
Imediatamente, devido ao passado controverso e mudanças recentes (Boston-Brooklyn) de Irving, surgiram dúvidas sobre se a dupla funcionaria e se encaixaria ao lado de Doncic. Havia também uma enorme preocupação quanto ao facto de ficarem desfalcados defensivamente.
Irving é um dos jogadores com mais talento natural e mais de todos os tempos, tem até o cunho de ser o melhor ball-handler de sempre, por isso ninguém duvidou da qualidade que poderia trazer para Dallas. Para muitos, tratava-se de um risco que não valia a pena correr.
A partir desse momento, a época dos Mavs arrastou-se de forma algo triste. Acabaram por terminar em 11.º lugar, com um registo de 38 vitórias e 44 derrotas, e tiveram a sétima pior defesa da liga. O principal problema foi a falta de defesa. Simplesmente não havia tamanho suficiente para os Mavericks poderem competir.
A dupla Doncic e Irving também não estava a clicar, mas apareceram alguns bons sinais. Destacam-se as prestações na derrota com os Phoenix Suns, em que o primeiro marcou 34 pontos e o segundo 30. Claro que haveria sempre problemas na adaptação ao jogo de cada um e seria preciso paciência, portanto não era propriamente uma preocupação. Por isso, como já foi referido, os Mavs acabaram por perder o último jogo da época, o que lhes permitiu uma melhor escolha no draft.
E, nesse verão, escolheram o poste Dereck Lively II, de 2,16 metros. Uma boa escolha, mas, como rookie, não se esperava que causasse grande impacto. No entanto, devido aos desempenhos impressionantes e a uma maturidade incrível, tornou-se imediatamente titular nos Mavs - com muito bons resultados.
Durante a janela de trocas, os Mavs também adquiriram Derrick Jones Jr., Dante Exum e Grant Williams. O atletismo de Jones provou ser uma mais-valia importante para os Mavs, enquanto o controlo de bola e os lançamentos de três pontos de Exum se revelaram decisivos em várias ocasiões. Mas a troca de Williams foi péssima, não contribuindo em nada nos dois lados do campo.
Assim, a época de 2023/24 começou de forma bastante semelhante à anterior. Com Irving a sofrer uma série de lesões durante os primeiros meses, contaram com o génio de Doncic, enquanto a defesa sentia dificuldades. Lively e Jones foram grandes adições, mas colocar tanta pressão num novato sem grandes alternativas no banco ia ser sempre difícil.
Os Mavs também sofreram uma crise de lesões durante a primeira metade da época, com Irving, Lively, Kleber, Jones e Exum a terem vários problemas. Assim, em fevereiro, tinham de lutar para chegar aos playoffs, ocupando o oitavo lugar na Conferência Oeste. Contavam mais uma vez com Doncic, na melhor época individual até à data, com uma média de 35,8 pontos por jogo.
Se quisessem subir na tabela, precisavam de se fortalecer muito mais defensivamente. Por isso, na data limite de trocas, o diretor-geral Nico Harrison adquiriu P.J. Washington aos Charlotte Hornets, que possui uma envergadura de 2,18m, e o poste Daniel Gafford, que mede 2,08m, aos Washington Wizards. Duas opções grandes e atléticas, sendo Gafford um dos melhores bloqueadores da liga, com uma média de 2,1 abafos por jogo na época regular.
E essas duas negociações viraram do avesso a temporada dos Dallas Mavericks.
No primeiro jogo com Washington e Gafford na equipa, os Mavericks conseguiram uma vitória de 146-111 sobre os Oklahoma City Thunder. Foi um sinal do que estava para vir. Durante os últimos 20 jogos da época, os Mavs perderam apenas quatro, dois dos quais nos dois últimos, depois de já garantido o quinto lugar, aproveitando para descansar os titulares.
Após o fim do prazo de trocas, os Mavs ostentavam a sétima melhor defesa da liga, com um índice defensivo de 111,5. Sinceramente, tornaram-se uma das duas ou três melhores defesas da liga, mas tiveram uma fase em que perderam alguns jogos, à medida que instalavam o cinco inicial mais forte e os jogadores se habituavam a um novo estilo.
Com Gafford a titular e Lively a sair do banco, a equipa tinha tamanho no pintado e dois protetores fenomenais. A dupla Doncic e Irving também finalmente descolou. Após a pausa para o All-Star, Irving teve uma média de 25,9 pontos por jogo, enquanto Doncic teve uma média de 33,2 pontos, 10,3 assistências e 10,1 ressaltos por jogo - ou seja, um triplo-duplo por jogo.
A química que a dupla demonstrava era incomparável e, com a qualidade de passe sublime de Doncic, tornaram-se a maior ameaça de lobs na NBA. Durante o jogo contra os Jazz, os Mavs fizeram 18 afundanços, um recorde da franquia. Gafford fez 10.
Subindo até ao quinto lugar na Conferência Oeste, Dallas tornaram-se de um momento para o outro como outsiders ao título da NBA. O cinco titular formado por Doncic, Irving, Washington, Jones e Gafford tinha uma mistura de tudo. Estavam prontos para uma grande campanha nos playoffs.
E foi exatamente isso que aconteceu.
Os Mavs mandaram os LA Clippers para casa na primeira ronda com uma vitória por 4-2, antes de surpreenderem os Thunder, o primeiro cabeça de série, nas meias-finais, com o mesmo resultado. Em seguida, enfrentaram a melhor defesa da liga, os Minnesota Timberwolves, nas finais da Conferência Oeste, que não tiveram resposta para Doncic e Irving, num claro triunfo por 4-1.
A dupla Doncic e Irving tornou-se tão boa que abriram o debate sobre se formavam o melhor backcourt da história da NBA. É talvez um pouco prematuro, mas era a esse nível que estavam a jogar. Durante as Finais da Conferência, Doncic teve uma média de 32,4 pontos, 8,2 assistências e 9,6 ressaltos por jogo. Era um homem numa missão e foi nomeado MVP.
Ao longo dos playoffs, Irving somou uma média de 22,8 pontos e 5,2 assistências por jogo, aparecendo regularmente nos momentos decisivos do último período quando a equipa precisava dele. Mas a sua experiência e liderança foram igualmente importantes. Aos 32 anos, é um dos jogadores mais velhos de uma equipa jovem. Depois de passagens polémicas por Boston e Brooklyn, Irving parece ter amadurecido e encontrado um lugar onde se sente verdadeiramente feliz.
A defesa continuou a ser fenomenal, sendo considerada por muitos como a melhor equipa defensiva da liga, a par dos Timberwolves.
O surgimento de Lively durante os playoffs também foi surpreendente. Tornou-se o terceiro jogador mais importante dos Mavericks, atrás de Doncic e Irving, o que é um feito espantoso para um rookir. Quando está em campo, os Mavericks são uma equipa melhor. A sua capacidade atlética e inteligência nos dois lados do campo são vitais, com boa capacidade para criar jogadas e bloqueios muito valiosos.
A defesa de Washington e Jones no perímetro fez com que as equipas ficassem sufocadas ofensivamente, e ambos tiveram jogos em que lançaram triplos muito importantes durante os playoffs. Os lançamentos de Washington contra os Thunder foram de extrema importância. Enquanto Doncic se debatia com uma lesão no joelho, Washington foi o melhor marcador dos Mavs no segundo, terceiro e quarto jogos contra os Thunder.
E muito do crédito tem que ser dado ao treinador Jason Kidd. Ele próprio um antigo Maverick - campeão em 2011 -, criou uma ligação e união na equipa. A química é fora de série, e todos os jogadores jogam uns pelos outros. Sendo um dos melhores bases da história, é muito forte taticamente, mostrando uma versatilidade consistente ao adaptar-se defensivament aos adversários.
Mas agora, os Mavs enfrentam o teste mais difícil. Nas finais da NBA pela primeira vez desde 2011, têm de vencer os Boston Celtics - a melhor equipa da fase regular esta época. Se quiserem ganhar o segundo campeonato da sua história, terão de dar o seu melhor para manter num colete de forças um ataque eletrizente, mas já provaram que são capazes de o fazer.
Doncic está a afirmar-se como o melhor jogador do mundo e, juntamente com Irving, os Mavs podem ganhar a qualquer um. Esta promete ser uma das finais mais emocionantes dos últimos anos e, se os Dallas Mavericks conseguirem chegar à meta, ficam marcados por uma das mais dramáticas reviravoltas a meio da época que a NBA alguma vez viu.