Análise: O conto de fadas de OKC - como os Thunder passaram de "olho negro" a joia da NBA
Início forte
Para o início deste conto de fadas, temos de recuar até 2007. Os Seattle Supersonics tinham a segunda escolha no Draft da NBA desse ano, o último como Seattle Supersonics, e depois de os Portland Trail Blazers terem selecionado Greg Oden, os Supersonics estavam "em contagem decrescente". Escolheram o super-talento texano Kevin Durant, escque viria a ganhar o Rookie of the Year. Durant terminou a época com uma média de 20,3 pontos, 4,4 ressaltos e 2,2 assistências por jogo.
No ano seguinte, a equipa mudou-se para Oklahoma City, depois de a administração do estado de Washington se ter recusado a atribuir dinheiro para um novo pavilhão dos Supersonics. O nome da equipa mudou para Thunder e um novo franchise nasceu. Novamente com a primeira escolha, a direção dos OKC escolheu o base da UCLA Russell Westbrook.
Em 2009, o extremo James Harden juntou-se a eles com a terceira escolha do sorteio, e parecia estar a formar-se um Big 3.
E isso manifestou-se bem cedo, chegando à final da Conferência Oeste em 2011, perdendo para os eventuais campeões, Dallas Mavericks. Durant e Westbrook foram eleitos All-Stars e James Harden revela-se uma grande mais-valia com a sua enorme capacidade de fazer pontos. O primeiro Big 3 da história de Oklahoma City afirmou-se e teve muito sucesso nos anos seguintes.
O princípio do fim
Os Thunder estabeleceram-se como uma das melhores equipas da NBA e fortes candidatos ao título. No entanto, o anel tão cobiçado nunca chegou para Durant, Westbrook e Harden em Oklahoma: os Thunder perderam as finais da NBA em 2012, as meias-finais da Conferência Oeste em 2013, as finais da Conferência Oeste em 2014, repetindo o mesmo em 2016.
Esta última foi, e continua a ser, a que mais doeu a Oklahoma City. Os Thunder estavam a ganhar por 3-1 na série melhor de 7 contra os Golden State Warriors de Stephen Curry e Klay Thompson, mas depois de duas derrotas, a série ficou empatada e um infame Game 7 (jogo 7) teve de ser disputado. Os Thunder perderam e sofrem uma derrota historicamente dolorosa no Oeste.
Kevin Durant, eleito MVP em 2014, achou que já era suficiente e virou as costas a Oklahoma City. Para grande desgosto dos adeptos, durante o verão no qual era livre de assinar por quem quisesse na free agency... escolheu os Warriors. A equipa que infligiu o maior sofrimento aos Thunder apenas meses antes.
Sem Durant e com a saída de James Harden por descontentamento, a equipa começou a desmoronar-se. Com Durant, OKC tinha uma equipa que ganhava 50 jogos todos as épocas e chegava longe nos playoffs, mas sem KD, a equipa não sabia o que os próximos anos lhe reservavam.
Thunder rebentam com tudo
Um sólido 2016/17 termina na primeira ronda dos playoffs, mas os Thunder fazem uma última tentativa de restabelecer esta equipa como candidata ao título: Paul George, quatro vezes All-Star, é adquirido aos Indiana Pacers para dar apoio a Russell Westbrook, que, sem Durant, registava números históricos com 31,6 pontos, 10,7 assistências e 10,4 assistências por jogo, o primeiro jogador a terminar uma época com uma média de triplo-duplo na história da NBA.
Os Thunder dão um pequeno passo em frente, vencendo 49 dos 82 jogos em 2017/18, mais um do que no ano anterior, mas voltaram a perder na primeira ronda dos playoffs. Em 2018/19, a equipa dá um passo atrás, vencendo "apenas" 44 dos 82 jogos. Pelo quarto ano consecutivo, os Thunder caem novamente na primeira ronda dos playoffs, graças a um icónico triplo de longa distância de Damian Lillard, de Portland, na cara de Paul George em cima da buzina, que garantiu a vitória. Lillard disse adeus aos Thunder, dando início a uma nova era em Oklahoma: uma era em que tudo teve de ser diferente.
O diretor geral Sam Presti da equipa colocou um ponto final no assunto: Paul George, que ficou em terceiro lugar na eleição do MVP de 2019 e fez parte da equipa All-Defense da NBA, foi enviado para os Los Angeles Clippers na maior troca da história da NBA. Os Thunder receberam sete(!) escolhas de primeira ronda, o atirador italiano Danilo Gallinari e o jovem talento canadiano Shai Gilgeous-Alexander em troca por George.
Depois de George, Jerami Grant também é trocado, poupando aos Thunder 39 milhões de dólares. Alguns dias mais tarde, é também a vez da lenda dos Thunder e antigo MVP Russell Westbrook deixar a "sua" Oklahoma City.
Russ seguiu para os Houston Rockets pelo veterano Chris Paul, um dos melhores bases da história, e quatro potenciais escolhas de primeira ronda. O treinador principal, Billy Donovan, também se despediu, recusando-se a fazer "parte de uma reconstrução". A intenção dos Thunder era clara: mudança de direção, a "reconstrução" estava a chegar.
A formação de SGA
Com Chris Paul como o único grande nome nas fileiras, os Thunder entraram em 2019/20 sem grandes expectativas. Os dados analíticos não lhes davam grandes probabilidades, mas aí começou um ano especial: sem Westbrook, ninguém sabia exatamente a quem deviam estar atentos, exceto Chris Paul, de 34 anos. Shai Gilgeous-Alexander tinha apenas 20 anos quando chegou a Oklahoma e tinha acabado de terminar uma época com os Clippers, na qual contabilizou 10,8 pontos, 3,3 assistências e 2,8 ressaltos por jogo.
Paul pegou na jovem equipa pela mão e, juntamente com um excelente Gilgeous-Alexander (19,0 pontos, 5,9 ressaltos e 3,3 assistências por jogo), levou a equipa a um lugar nos playoffs. Na época COVID-19, o resto da temporada terminou na Disney World, em Las Vegas, onde se encontrava a "NBA Bubble".
Na primeira ronda dos playoffs, os Thunder enfrentaram dois velhos conhecidos: Russell Westbrook e James Harden, que agora jogavam juntos com os Houston Rockets. Houston só venceu o OKC após um decisivo sétimo jogo, encerrando a era Chris Paul em Oklahoma.
Sob o comando de Paul, Gilgeous-Alexander, apelidado de SGA, aprendeu muito sobre a NBA e passou por um desenvolvimento considerável. Para Presti, ficou claro que ele se tornaria o núcleo da nova era dos OKC Thunder. À sua volta, uma série de jogadores transformaram-se em potenciais peões para o futuro, incluindo Luguentz Dort, que se destacou com a sua excelente defesa, e a lenda da TCU Kenrich Williams, que foi adquirido aos New Orleans Pelicans através de uma troca em 2020.
O "olho negro" da NBA
Os Thunder entraram num ano sem grandes nomes e zero expectativas. A equipa era extremamente jovem e inexperiente, grandes nomes e veteranos vieram e foram antes mesmo de pisarem o campo, depois de um conjunto de trocas de Sam Presti, que trabalhava num grande plano.
Terminaram a temporada 2020/21 com um recorde insignificante de 22-50 e com a sexta escolha no Draft da NBA de 2021. Com essa sexta escolha, Sam Presti escolheu o australiano Josh Giddey, que ganharia um lugar na equipa All-Rookie dessa temporada. Entretanto, continuou a negociar jogadore, acumulando lentamente um arsenal de escolhas de draft, que começou com a troca por Paul George.
Os Thunder de 2021/22 começaram a ganhar forma familiar e mais uma vez viram SGA registar a sua melhor época até então, com 24,5 pontos, 5,9 assistências e 5,0 ressaltos por jogo.
Luguentz Dort também se distinguiu com um forte jogo defensivo e os melhores números da sua carreira (17,2 pontos, 4,6 ressaltos e 1,0 roubos de bola por jogo), o que lhe valeu um novo contrato de cinco anos no valor de 87,5 milhões de dólares.
Sinais de vida
Os Thunder jogaram com uma equipa muito jovem (10 jogadores com 23 anos ou menos) sob um treinador jovem (Mark Daigneault foi contratado em 2020 com 35 anos, o segundo treinador mais jovem da NBA) para um registo de 24-58. Giddey estreou-se com 12,5 pontos, 6,4 assistências e 7,8 ressaltos e entrou facilmente na rotação regular de Daigneault.
Com a segunda escolha no Draft de 2022, os OKC seleccionaram Chet Holmgren, o pequeno poste de Gonzaga, com 2,16 metros, depois de a equipa ter terminado em último lugar no que toca a ressaltos.
Holmgren foi a primeira escolha entre os cinco primeiros desde James Harden, em 2009, e gozou de grande entusiasmo, mas não conseguiu estar à altura na época de estreia: sofreu uma lesão num jogo amigável entre profissionais e amadores antes do início oficial e falhou toda a temporada.
Para além de Holmgren, os OKC escolheram os quase homónimos Jalen Williams e Jaylin Williams e ainda o muito jovem Ousmane Dieng. Jalen Williams provou ser a estrela desse ano do draft e começou a sua carreira na NBA com médias de 14,1 pontos, 4,5 ressaltos e 3,3 assistências por jogo
Por seu lado, Jaylin Williams provou ser uma estrela defensiva e provocou o maior número de cargas ofensivas em toda a NBA. Os Williams encaixaram-se perfeitamente na jovem equipa dos Thunder, que já começava a atingir pontos altos com Dort, Giddey e SGA.
Os OKC terminaram com um registo de 40-42 e qualificaram-se para o torneio de play-in da NBA, o último obstáculo antes dos playoffs. Na primeira ronda, os jovens OKC derrotaram os New Orleans Pelicans, mas perderam com os Minnesota Timberwolves no último jogo. A época chegou ao fim, mas um pensamento já ecoava pelas ruas: os Thunder estão de volta.
2023/24 fenomenal
SGA terminou a época com números significativamente melhores do que em 2021/22: 31,4 pontos, 5,5 assistências, 4,8 ressaltos e 1,6 roubos de bola por jogo e foi eleito All-Star. Com Chet Holmgren de volta às fileiras e os nomes já consagrados de Dort, Giddey e Williams, OKC entrou na nova época com esperança, mas nem o maior dos otimistas poderia prever o que os Thunder fariam esta época.
Os Thunder começaram o ano de forma algo instável, mas com bons jogos que viriam a moldar esta equipa naquilo que é hoje. Veja-se o jogo com os Cavaliers, quando OKC esteve a perder por 10 pontos com 2:37 no relógio e mesmo assim conseguiu vencer por 108-105, ou o jogo com os rivais Denver Nuggets, quando SGA fez o resultado final a 0,9 segundos do fim com um jumper fadeaway.
Segundo muitos adeptos dos Thunder, esse foi o momento em que se começou a pensar que este poderia ser um ano especial.
O começo de 5-4 foi seguido de seis vitórias consecutivas e os Thunder alcançaram um recorde de 23-9, o que constituiu o terceiro melhor arranque da história da equipa. Os muitos grandes momentos da época, que se caracterizou por uma série de vitórias consecutivas e em que foi atingida a ilustre barreira das 40 vitórias antes das 20 derrotas, conduziram a um momento histórico na história de OKC.
No domingo passado, 14 de abril, os Thunder venceram os Dallas Mavericks por 135-86, selando o destino dos Thunder como o primeiro cabeça de série da Conferência Oeste.
Com a segunda equipa mais jovem da NBA, um miúdo em crescimento, SGA (30,1 pontos, 6,2 assistências, 5,5 ressaltos, 2,0 roubos de bola por jogo), que se afirmou como candidato a MVP, um rookie historicamente bom em Chet Holmgren (16,5 pontos, 7,9 ressaltos, 2,9 bloqueios por jogo), um Jalen Williams em grande forma (19,1 pontos, 4,5 assistências, 4,0 ressaltos), um letal atirador de três pontos em Isaiah Joe (147/353, 41,6%), um Josh Giddey que recuperou a forma após as adversidades e um temível defensor de perímetro, Luguentz Dort, fazem com que Oklahoma City recupere o seu encanto.
A atitude, a ambição e os resultados a que OKC se habituou há muito tempo... Os Thunder estão de volta. Nesta madrugada de segunda-feira (02:30), dão início à primeira presença nos playoffs desde 2020, ao receberem os New Orleans Pelicans.
Ainda não se sabe até onde a equipa pode chegar este ano. Mas com 15 escolhas na primeira ronda, 22 na segunda ronda e dinheiro suficiente para gastar, o futuro parece estar em mais do que boas mãos. A Loud City está de volta. Nas palavras de Sam Presti, quando OKC iniciou o processo de reconstrução: "quero que isto seja uma chegada e não uma aparição".