Com o rosto bem-humorado e os óculos, Borralho, de 30 anos, não se encaixa no estereótipo dos gigantes brasileiros carrancudos e que infligem dor, que tornaram o país famoso como lar de ícones do Ultimate Fighting Championship (UFC).
Mas faz parte de uma onda de jovens lutadores brasileiros que procuram deixar a sua marca e renovar o domínio do país sul-americano, após a retirada dos ex-campeões Anderson Silva, em 2020, e Amanda Nunes, em junho, considerados por muitos os maiores de todos os tempos.
O Brasil tem desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento do frenesim internacional multimilionário das lutas em jaula de MMA e no lançamento do UFC, a principal competição, em 1993.
Os brasileiros detêm uma série de recordes no desporto e constituem 20 por cento dos lutadores mais bem classificados do UFC nas 13 divisões de peso. Mas o país tem apenas um campeão: Alexandre Pantoja, atual detentor do cinturão dos pesos-moscas.
"Estamos num período de renovação. É preciso haver mais investimento na base", diz Borralho. "Tem havido mais apoio noutros países, onde a modalidade tem crescido muito rapidamente. É isso que faz a diferença nos resultados futuros. O segredo agora é concentrarmo-nos no nível de base, e vamos voltar a dominar num instante".
"Lutadores de MMA nativos"
Borralho está a treinar combate corpo a corpo com cerca de 20 outros lutadores numa academia no centro de São Paulo, procurando cumprir a promessa de trazer para casa o título dos pesos médios do UFC. Desde a estreia no UFC, em abril de 2022, está invicto em quatro lutas. Mas admite que ainda tem trabalho a fazer.
"Preciso de mais tempo de luta, mais experiência", diz Borralho, que cresceu a praticar judo na cidade nordestina de São Luís do Maranhão, começou a praticar MMA aos 19 anos e deixou a universidade um ano antes de se formar para perseguir o sonho no UFC.
Outros lutadores brasileiros, como os ex-campeões Charles "Do Bronx" Oliveira e Alex Pereira, também estão em campanha para restaurar o domínio do país.
O Brasil pode ser a terra do futebol, mas o país foi fundamental para a ascensão do UFC, graças ao interesse internacional no jiujitsu brasileiro - uma reinvenção da antiga arte marcial japonesa - e no "vale tudo", um desporto de combate violento e sem barreiras.
"O UFC está no DNA dos brasileiros", diz Eduardo Galetti, vice-presidente do UFC no Brasil. "Os jovens lutadores começavam em outra modalidade e descobriam o MMA. Agora eles são lutadores de MMA nativos".
O Brasil tem o segundo maior número de lutadores do UFC de qualquer país e é o segundo maior mercado, depois dos Estados Unidos, diz ele.
Espírito de luta
O MMA tornou-se um negócio lucrativo para muitos lutadores brasileiros, alguns dos quais tornaram-se superestrelas ao nível de Neymar.
"Não quero ser apenas um campeão. Quero ser um campeão cuja história tenha um impacto na vida de outras pessoas. Quero inspirar sonhos", diz a lutadora Natalia Silva, de 26 anos.
Desde que estreou no octógono, em junho de 2022, a fenómeno do peso mosca venceu todas as quatro lutas e subiu para a 13.ª posição no ranking do UFC.
"Se Deus quiser, esse cinturão vai ser nosso muito em breve", disse, enquanto treinava em uma academia na periferia de Belo Horizonte.
A lutadora começou a estudar tae kwon antes de descobrir o UFC, cujos torneios femininos cresceram exponencialmente desde o seu lançamento, em 2013 - graças em grande parte a Nunes, a campeã pioneira que detinha tanto o cinturão dos pesos penas quanto o dos pesos galos.
Hoje, as mulheres brasileiras superam os homens, com 23 dos 42 lutadores do país no ranking.
"Os brasileiros nascem com vontade de vencer. É um país onde a maioria das pessoas tem uma vida difícil", diz o treinador de MMA Carlos Junior Lopes. "As dificuldades que enfrentamos fazem crescer o nosso espírito de luta. Combinando isso com a técnica certa, não há como nos parar".