Tour: As histórias de Girmay e Carapaz confundem-se com as dos seus países

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Tour: As histórias de Girmay e Carapaz confundem-se com as dos seus países

Girmay fez história no Tour
Girmay fez história no TourAFP
A terceira etapa da 111.ª edição ficará para sempre na história da Volta a França, após Biniam Girmay ter-se tornado no primeiro ciclista eritreu a ganhar uma etapa e Richard Carapaz o primeiro equatoriano a vestir a amarela.

A mais longa tirada desta Grande Boucle – uns soporíferos 230,8 quilómetros entre Piacenza e Turim - arriscava-se a ficar esquecida na memória de quem a viu não fosse uma queda à entrada dos dois quilómetros finais ter revolucionado as previsões: o pelotão ficou cortado em pequenos grupos, facto aproveitado por Girmay e Carapaz para fazerem história para os seus países.

“Desde que comecei no ciclismo, nunca sonhei fazer parte da Volta a França, e agora não consigo acreditar. Ganhar no Tour, na prova onde estou pelo segundo ano consecutivo, para mim é inacreditável”, disse o emocionado ciclista de 24 anos, depois de bater, num sprint altamente improvável e renhido, o colombiano Fernando Gaviria (Movistar), com o belga Arnaud De Lie (Lotto Dstny) a ser terceiro.

Após tornar-se no primeiro eritreu a vencer uma etapa numa grande Volta, quando triunfou na 10.ª do Giro-2022,esta segunda-feira Girmay estreou o palmarés do seu país no Tour, sendo apenas o terceiro africano a ganhar na Grande Boucle, depois dos sul-africanos Daryl Impey e Rob Hunter.

“Obrigado a todos os eritreus, a África. Temos de estar orgulhosos. Agora, fazemos parte das grandes corridas e com sucesso e vitórias. É o nosso momento, é o nosso tempo”, vincou.

A queda ocorrida a dois quilómetros da meta, que apanhou o ultra favorito Jasper Philipsen (Alpecin-Deceuninck), fez descarrilar o comboio dos sprinters, mas também deixou cortado o camisola amarela Tadej Pogacar (UAE Emirates) e os restantes primeiros da geral, à exceção de Richard Carapaz, o único do top 4 a chegar no primeiro grupo.

Apesar de todos terem sido creditados com as mesmas 05:26.48 horas do vencedor, o ainda campeão olímpico em título, preterido pelo seu país na seleção para Paris-2024, ‘roubou’ a liderança a Pogacar no desempate pelas posições nas três etapas já disputadas.

“Sabíamos que tínhamos uma oportunidade, que era o primeiro final ao sprint, onde há muitos nervos, e que tinha de estar bem colocado, porque podia haver vários perigos, entre os quais quedas. A equipa esteve muito bem, deixaram-me aqui à falta de um quilómetro”, descreveu o equatoriano da EF Education-EasyPost.

Aos 31 anos, Carapaz faz um raro pleno em grandes Voltas, já que também envergou a camisola de líder no Giro, que venceu em 2019, e na Vuelta, em que foi vice-campeão em 2020.

“É um sonho para mim, por todo o respeito que tenho ao Tour. Vestir-me de amarelo é entusiasmante. É a melhor corrida do mundo”, assumiu o novo líder da geral, que continua empatado em tempo com Pogacar, mas também com Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step) e Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike), respetivamente terceiro e quarto na geral.

Ainda bem que houve Carapaz e Girmay para despertar os espetadores no final de uns 230,8 quilómetros percorridos sem pressas e até sem entusiasmo, exceção feita ao irrequieto Jonas Abrahamsen, líder da classificação da montanha e dos pontos, que esboçou um inusitado ataque na companhia do colega Johannes Kulset logo no início.

Vendo que mais nenhum ciclista os seguia, os dois homens da Uno-X pararam mesmo na berma da estrada, aguardando por um pelotão em ritmo de passeio (a média nas duas primeiras horas foi de 37,1 km/h), talvez a poupar energia para a tirada de terça-feira ou a recuperar daquele que foi batizado de Grand Départ mais duro de sempre.

Foi preciso esperar mais de quatro horas para algo acontecer: a 66 quilómetros da meta, atacou Fabien Grellier (TotalEnergies), interrompendo momentaneamente a letargia do pelotão ao ganhar 40 segundos de vantagem.

Sabendo que dificilmente chegaria isolado a Turim (foi apanhado três dezenas de quilómetros depois), o francês de 29 anos lançou-se na luta pelo título de mais combativo da jornada e conseguiu-o.

A aproximação à meta foi feita com vários percalços, nomeadamente a avaria a seis quilómetros da meta do campeão mundial Mathieu van der Poel, o lançador preferencial de Jasper Philipsen, e a decisiva queda a cerca de dois quilómetros do risco, que ‘ajudou’ a consagrar um vencedor inesperado.

Os portugueses Nelson Oliveira (Movistar), que chegou no primeiro grupo, Rui Costa (EF Education-EasyPost) e João Almeida ficaram com o mesmo tempo de Girmay, com o ciclista da UAE Emirates a aproximar-se mesmo do top 20 antes da mítica subida ao Galibier.

O estreante Almeida vai partir na 21.ª posição da geral, a 21 segundos de Carapaz, para a quarta etapa, a da entrada em solo francês, que vai ligar Pinerolo (Itália) a Valloire no total de 139,6 quilómetros, que incluem a subida ao Galibier, com a contagem de montanha de categoria especial instalada a cerca de 20 quilómetros da meta.