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Vuelta: Uma viagem aos bastidores de uma grande Volta em Portugal

Primoz Roglic participa na Vuelta
Primoz Roglic participa na VueltaAFP
A Vuelta despede-se esta segunda-feira de Portugal como um sucesso entre o público, que por estes dias descobriu a essência de uma grande Volta, com as suas maravilhas e debilidades, e elegeu os ciclistas portugueses e Primoz Roglic como ídolos.

Durante três dias foram milhares as pessoas que quiseram vivenciar esta oportunidade única de ter uma grande Volta a partir de território nacional, e entre elas estavam muitos rostos conhecidos do pelotão português, pessoas que gostam da modalidade acima de qualquer coisa e fazem quilómetros simplesmente para estar.

Por estes dias, passaram pela Vuelta ciclistas nacionais como César Fonte (Rádio Popular-Paredes-Boavista), Tiago Antunes (Efapel), António Carvalho (ABTF-Feirense), Bruno Silva ou Gonçalo Carvalho (Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua), com estes três últimos a fazerem esta segunda-feira questão de cumprimentar o emigrado Nelson Oliveira (Movistar) antes do arranque da terceira etapa, na Lousã.

Em redor dos autocarros, aglomeram-se adeptos, que ignoram equipas como as francesas Decathlon AG2R La Mondiale, apesar da presença de Ben O’Connor ou Felix Gall, ou a Groupama-FDJ de David Gaudu, a Lotto Dstny, de Thomas de Gendt, ou a Israel-Premier Tech, que apagou qualquer referência ao seu país de origem de autocarros ou carros.

Mesmo a INEOS, sem cabeças de cartaz nesta Vuelta – o apagado Carlos Rodríguez ainda não o é -, já teve melhores dias em termos de projeção, ficando a anos-luz da expectativa gerada pela Visma-Lease a Bike, onde a mulher do camisola vermelha Wout van Aert se fez notar acompanhada dos filhos, pela EF Education-EasyPost, com a legião de fãs do disponível Rigo Urán e do campeão português Rui Costa, mas sobretudo pela UAE Emirates, onde um enxame cerca em permanência o autocarro de João Almeida.

São os portugueses os principais protagonistas deste início luso da Volta a Espanha, mas se estes não existissem, a estrela indiscutível seria Primoz Roglic.

É preciso ver para crer quão genuíno e afável é o esloveno, conhecido por ser um verdadeiro canibal na estrada e, muitas vezes, criticado por ser tão impiedoso – no ano passado, perdeu fãs por desrespeitar a liderança de Sepp Kuss e por atacar o seu sempre fiel e dedicado escudeiro quando este seguia de vermelho, ao ponto da direção da então Jumbo-Visma ter de intervir e o esloveno acabar por decidir assinar por outra equipa.

Por estes dias, não negou um sorriso a ninguém, desacelerou para que pudessem tirar-lhe fotografias, acenou a fãs até através dos vidros das carrinhas da BORA-hansgrohe, sendo um verdadeiro sucesso entre o público nacional, talvez espantado com a simpatia do três vezes campeão da Vuelta (2019-2021).

“Foi um bom arranque para as etapas que aí vêm”, dizia à partida o líder da BORA-hansgrohe, que é oitavo na geral, revelando estar otimista para os próximos dias, antes de ser abruptamente interrompido pela assessora da equipa alemã, sem que houvesse oportunidade para perguntar-lhe pela experiência portuguesa.

As breves declarações de Rogla aconteceram na zona mista instalada na partida, por onde vão passando todos os corredores requisitados pela imprensa, que vem de paragens tão longínquas como a Colômbia e faz o seu trabalho apenas nos espaços determinados, ao contrário do que acontece nas provas portuguesas onde qualquer lugar é um bom lugar para fazer entrevistas.

Nesta diferença de realidades, é o número de pessoas envolvido na organização que impressiona – mesmo que alguns pouco saibam sobre as suas funções. Com tanta gente, aqui, o segredo é avançar com confiança, sem perguntar nada, e, de repente, está-se na reta de partida, junto dos políticos e dos cortes de fita, algo completamente impensável numa Volta a Portugal.

Desengane-se quem pense que uma estrutura tão gigante não falha – embora a sinalização seja absolutamente irrepreensível -, havendo muitas lacunas de comunicação e ainda mais informações contraditórias, sendo que o mais espantoso é mesmo a falta de proteção aos ciclistas, prontamente rodeados de público no final das etapas, sem que tenham tempo para respirar.

Ainda assim, a grandeza da Vuelta pode ter servido para inspirar organizações de corridas em Portugal, mas, sobretudo, para recuperar o público perdido nos últimos anos, desiludido com os escândalos e a qualidade do ciclismo nacional.

A 79.ª Volta a Espanha começou no sábado em Lisboa e esta segunda-feira despede-se de território luso em Castelo Branco, palco da chegada da terceira etapa.