Ciclismo: Delmino Pereira acredita que deixa a modalidade melhor no fim de uma missão "feliz"
“Creio que nós temos boas razões para dizer que temos hoje um ciclismo melhor do que tínhamos em 2012. A razão principal é o facto de sermos campeões olímpicos. Creio que elevámos a dimensão olímpica do ciclismo. E também a quantidade de resultados importantes em Campeonatos da Europa e Campeonatos do Mundo que foram conquistados durante estes anos. Começou praticamente com o Rui Costa campeão do mundo (em 2013) e acabámos agora com o título de campeões olímpicos”, enumerou.
Líder da FPC desde 2012, Delmino Pereira atingiu o limite de mandatos e irá despedir-se do organismo depois das eleições de sábado, fazendo, em entrevista à agência Lusa, um balanço de mais de uma década de presidência, na qual celebrou o título mundial de fundo de Rui Costa, na estrada, e o olímpico de Iúri Leitão e Rui Oliveira no madison, em Paris2024.
“Estamos a falar de 90 medalhas, o que é algo inédito na história da modalidade. Portanto, acho que há aqui uma afirmação da dimensão olímpica e internacional das seleções nacionais de ciclismo. (…) Apesar das dificuldades, creio que tenho aqui razões para estar feliz com esta missão. É algo fantástico”, enalteceu.
Para o sucesso alcançado nos seus três mandatos muito contribuiu a “generosidade” dos corredores, “que tiveram resultados e desempenhos absolutamente históricos”, salientou.
“Costumo dizer que fizemos muito com pouco. Fizemos muito com pouco, porque tivemos que recorrer sempre a soluções de recurso e pedir a toda a equipa e a toda a estrutura para fazerem mais do que uma coisa, ou fazerem mais do que uma missão, terem várias missões. E creio que tiveram essa disponibilidade e deram-me todos mais do que aquilo que podiam dar”, elogiou.
No entanto, o antigo ciclista reconhece que “é impossível continuar com este ritmo”, porque a estrutura federativa está “no limite de todos os limites”.
“Somos, efetivamente, uma modalidade que está num bom momento internacional, até porque os nossos corredores são jovens, ainda têm mais um ou dois ciclos olímpicos, e, portanto, estamos aqui numa luz que ilumina o ciclismo, mas que também de forma legítima nos dá o direito de reclamar mais apoio à modalidade. Não é possível continuar com este ritmo e continuar a exigir sem haver efetivamente mais recursos”, defendeu.
Olhando para trás, Delmino Pereira admite que teria feito “coisas diferentes”, até porque “ninguém nasce ensinado”, mas, no essencial, o seu percurso na liderança da FPC teria seguido a mesma linha.
“Sou hoje um presidente feliz e tenho um enorme orgulho e satisfação de tudo o que foi feito. Fiz com enorme paixão, com enorme dedicação, mas não posso dizer que estou feliz, porque há sempre algo que me inquieta todos os dias e, por isso, não digo que tenha medo do futuro, mas na verdade sou um presidente feliz, mas não estou feliz”, desabafou.
Instado a escolher o pior e o melhor momento destes 12 anos, o líder federativo não hesitou: “No ano em que começámos, começámos logo com o escândalo do Lance Armstrong, com a troika e com a quebra de financiamento, mas também nesse ano foi o ano em que o Rui Costa foi campeão do mundo”.
Na parte final do mandato, Pereira voltou a viver essa mesma dualidade dos seus inícios, com “o grande escândalo” da W52-FC Porto, que define como “um momento negro” da história da modalidade, ‘atenuado’ pelo título olímpico em Paris2024.
Marcante foi também a salvação da Volta a Portugal em 2020, quando a Podium Events alegou não ter condições para realizar a 82.ª edição da prova e a FPC organizou uma edição especial.
“Foi uma experiência marcante, porque percebemos que, caso surgisse algum problema no futuro, a federação teria condições de organizar a Volta a Portugal”, notou, afastando, contudo, a hipótese de essa passar a ser uma incumbência do organismo.
Assumindo que ainda há “muitas coisas por regularizar” por parte da Podium, com a dívida da empresa à FPC ainda sem estar saldada, Delmino Pereira recordou que já não caberá a si “resolver” o assunto de concessão dos direitos da prova ‘rainha’ do calendário nacional quando o contrato acabar em 2026.
“Obviamente que a nova direção terá de pensar o que quer para o futuro do ciclismo português, e obviamente a Volta a Portugal, como evento-âncora e motor de desenvolvimento do ciclismo profissional português, vai ter que ser equacionada certamente”, alertou.