David Pereira e a Liga dos Campeões de hóquei em patins pelo Sporting: "Foi mágico"
- Está a ser um ano, pelo menos a nível profissional, muito bom. Campeão da Europa com o Sporting, conclusão do mestrado em treino desportivo, e agora a primeira experiência no estrangeiro, na equipa técnica do Trissino…
- Foi um ano muito positivo em termos profissionais e pessoais. É claro que poderia ser sempre melhor, mas já foi muito positivo. Agora com uma experiência nova, mais um passo na minha carreira profissional e vamos ver como corre. Neste momento está a ir super bem e todos os feedbacks têm sido positivos.
- Como surgiu o convite para o Trissino?
- Mal acabou o campeonato em Portugal surgiu uma chamada por parte de um dos elementos do Trissino a perguntar se existia algum interesse da minha parte. Tive de colocar as cartas na mesa, conversar com as minhas pessoas e ver o que era melhor para mim.
- O que te levou a aceitar esta nova experiência?
- Foi o passo certo para a minha carreira como treinador. Vim de estagiário do Sporting para analista, depois adjunto. E os planos que o Sporting tinha para mim, posso revelar sem problemas, era voltar a ser analista, devido ao facto de o novo treinador (Edo Bosch) trazer a equipa técnica. Por isso, quando surgiu esta oportunidade… foi difícil, tive de sair da minha zona de conforto, de um clube que me tratou às mil maravilhas, que tem um grupo espetacular. Mas havia as coisas boas, viver coisas novas, acabou por pesar. Saltar para o desconhecido é um desafio tirar as coisas boas. Eu conhecia o Tiago Sousa do mundo do hóquei, mas mais até do mundo da formação académica, em que ligava a perguntar coisas. Foi unânime que era o passo certo.
- No Trissino tens vários jogadores conhecidos dos portugueses, Alvarinho, Reinaldo Garcia, Giulio Cocco… A nível nacional é recuperar os títulos, mas até onde pode chegar na Europa?
- Primeiro, temos um objetivo claro a nível nacional que é recuperar os títulos perdidos. A nível europeu é aparecer nos momentos de decisão da Liga dos Campeões. Os grupos não são fáceis, mas temos as nossas armas para combater qualquer adversário. Não podemos prometer nada, mas sim muito trabalho, empenho, rigor e queremos ser um dos candidatos a aparecer nos momentos de decisão.
- Na última temporada assumiste o cargo de adjunto do Sporting, mas numa situação especial em que até acabaste por ser o principal algumas vezes.
- Ninguém adivinhava, sabia-se da condição pessoal do mister Alejandro, mas nunca pensei que fossem cinco jogos de extrema importância. A prepararação foi desde o primeiro dia, mesmo quando era analista. Era uma experiência nova para mim, viver tão de perto os ensinamentos de um treinador de topo, os detalhes que fazem a diferença, como abordar o timeout, o intervalo. Foi uma aprendizagem a seu tempo, constante. Claro que o primeiro jogo como principal não foi igual ao último, mas fui melhorando todo o tipo de aspectos. Já de analista para adjunto foi uma aprendizagem gigante. Quem está no desporto tem de se adaptar a todo o tipo de situações.
- O Sporting estava há quase três anos sem troféus, mas tiveram a final four da Champions em que tudo correu bem – vitória sobre o FC Porto e a Oliveirense. O que nos podes contar sobre esse fim-de-semana?
- Foi todo um processo. Quanto ao campeonato, já sabíamos que todas as equipas são competitivas, qualquer deslize – empate em Valongo, com o FC Porto nos últimos minutos – poderia dar origem a qualquer coisa. Num jogo podíamos passar de segundo para quarto. É muito competitivo. Em relação à Liga dos Campões foi mágico, dos melhores fins-de-semana da minha vida. Muito trabalho e no final superou qualquer tipo de esforço anterior. Não quero dizer que não tivesse corrido tudo bem nos jogos anteriores, naquele preparámos tudo ao pormenor, como em todos os outros, e às vezes o desporto é assim. Tivemos bolas no campeonato que podiam ter entrado e não entraram e nesse fim-de-semana a sorte e o trabalho levaram-nos à conquista. Foi a primeira época como adjunto, o primeiro título e logo a Liga dos Campeões.
- Trabalhaste de perto com Alejandro Domínguez e o Paulo Freitas no Sporting, quais são as diferenças?
Um tem escola portuguesa, outro a espanhola. Todos têm coisas boas e coisas más. O estilo de jogo é diferente, a forma de abordar a partida. Também o modelo de treino acaba por ser diferente, mas foi ótimo captar o melhor de cada treinador, como agora estou a fazer. E depois no final vai-me ajudar a percorrer o caminho que quero. A grande diferença é a forma de ver o jogo. Com o Alejandro aprendi uma forma diferente que não via com o Paulo. Cada treinador tem a sua forma de trabalhar, não vou dizer que prefiro uma ou outra.
- Quando decidiste ir para treinador?
- Acho que o bichinho sempre o tive. Quando chegava a casa depois de jogar gostava de desenhar os exercícios, simular um quadro tático. Não veio de ninguém, foi algo que me captou e esta análise foi o primeiro passo para chegar a treinador principal. Já trabalhava nas camadas jovens, mas o que me ajudou a chegar aqui foi a parte da análise. Era uma área que quando era bem aproveitada tinha bastante valor. Na fase de escolher a minha área académica eu já tinha assente que queria estar no desporto, numas alturas se calhar pensei mais em ser professor de educação física que era mais estável do que treinador, mas depois a minha família percebeu que o realmente queria era ser treinador de hóquei em patins.
- Ao longo da tua carreira também trabalhaste com o Luís Duarte no Paço de Arcos. Qual é o principal ensinamento que aprendeste?
- Acho que a palavra que posso dar em comum aos três é o rigor. É o que melhor encaixa em cada um a seu jeito. Rigor no treino, como gerem os atletas, como preparam tudo o que envolve o jogo. É muito por aí.
- No dia 26 de julho de 2019 foste apresentado como treinador do Grândola. Na altura tinhas 23 anos e eras o treinador mais jovem da segunda divisão. O que recordas?
- Foi o primeiro passo, o primeiro desafio grande que tive na minha carreira. Sai da minha zona de conforto, de treinar a formação ou ser adjunto dos seniores para ser eu a liderar atletas que na maioria eram mais velhos que eu. O desafio principal era esse, como é que os ia fazer acreditar em mim. Foi o primeiro pensamento. O que levo? Tudo. É o primeiro passo, saber adaptar-me a todas as circunstâncias num meio diferente do Paço de Arcos. Obrigou-me a crescer em vários sentidos, resolver situações que não estava habituado. Contribuiu para o treinador que sou hoje.
- Atualmente és adjunto no Trissino e no futuro?
- Há pessoas que não sentem esse perfil ou confortáveis com esse tipo de cargo. Eu claramente que depois desta temporada com Alejandro que me deu o clique, e eu agradeci-lhe, voltou o bichinho do treino, a adrenalina. Sem dúvida nenhuma que o passo que mais tarde quero dar é ser treinador principal.