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Depois de tantas subidas ao Atlas, o Leão quebrou: França está na final do Mundial-2022

Bruno Henriques
Theo Hernández faz a festa do golo francês
Theo Hernández faz a festa do golo francêsOpta by Stats Perform, AFP
Chegou ao fim a caminhada histórica de Marrocos. Primeira seleção africana a chegar às meias-finais de um Mundial, a equipa de Walid Regragui viu-se pela primeira vez em desvantagem e não conseguiu responder a uma França madura e cínica que regressa à final. Os gauleses vão disputar a final com a Argentina e tentar a revalidação do título conquistado em 2018.

Mudanças forçadas

Com um onze cada vez mais estabelecido, Didier Deschamps viu-se obrigado a mexer devido a problemas de saúde. Dayot Upamecano e Adrien Rabiot apresentaram sintomas gripais devido ao ar condicionado e não reuniam as condições físicas necessárias (o médio da Juventus ficou mesmo no hotel) e foram rendidos por Konaté e Fofana no onze de França.

Já Walid Regragui fez uma mudança mais estrutural da equipa. Largou o habitual 4x3x3 de Marrocos e optou por montar uma defesa a três, retirando Amallah do meio-campo e colocando Dari (era para ser Aguerd, mas o central do West Ham teve uma recaída no aquecimento) ao lado de Saiss e El Yamiq. Attiat-Allah também cedeu o lugar no lado esquerdo a Mazraoui, que tinha falhado o jogo com Portugal.

Mexer no que estava bem

Se há coisa que era reconhecida a Marrocos era a solidez defensiva. Com cinco jogos disputados (frente a adversários como Bélgica, Croácia, Portugal ou Espanha), os Leões do Atlas sofrerem apenas um golo e nem sequer foi marcado por um adversário (um autogolo no duelo com o Canadá). Fica por isso por perceber a necessidade de alterar a estrutura defensiva num jogo decisivo e que acabou por ter óbvios maus resultados.

Aos cinco minutos, Varane rompeu linhas com um passe para Griezmann que cruzou para a área. Num primeiro momento, Mbappé viu o remate bloqueado pela defesa marroquina, mas na recarga Theo Hernández fez o golo e confirmou que a tradição ainda é o que era: Quatro dos últimos cinco golos que a França marcou em meias-finais do Mundial foram apontados por defesas – Thuram (bisou em 1998 contra a Croácia), Umtiti (marcou à Bélgica em 2018) e agora o lateral-esquerdo do AC Milan, sendo que a única exceção foi o tento de Zidane a… Portugal (2006).

Em desvantagem pela primeira vez neste Campeonato do Mundo, Marrocos respondeu de forma tímida e o remate de Ounahi (para grande defesa de Lloris aos 10 minutos) foi o único esboço que uma equipa magrebina ainda a encontrar-se conseguiu esboçar. Pelo meio, Giroud (17 minutos) acertou no poste, após erro de Saiss.

Regressar às origens

A lesão de Romain Saiss – saiu aos 26 minutos com queixas na perna esquerda – acabou por ser uma espécie de bênção para Marrocos. Sem mais centrais no banco, Regragui viu-se obrigado a regressar ao habitual 4x3x3, o que permitiu à equipa voltar a reencontrar-se e crescer no jogo, conservar a bola e começar a colocar dificuldades a França.

Ainda assim, sempre que França acelerava, conseguia criar perigo. Aos 36 minutos, Tchouaméni arrancou do meio-campo, isolou Mbappé que viu um defesa cortar a bola que se encaminhava para a baliza. Sempre ligado à jogada, o médio do Real Madrid deu de primeira em Giroud que não conseguiu enquadrar com a baliza e perdeu mais uma boa oportunidade.

O médio dominou o meio-campo francês
O médio dominou o meio-campo francêsOpta by Stats Perform

O pontapé de bicicleta de El Yamiq (44 minutos), na sequência de um canto, obrigou Lloris a uma grande defesa e empolgou as bancadas, mas o que é certo é que França controlou a partida durante a maior parte do primeiro tempo.

Reveja aqui as incidências da partida

Marrocos teve mais posse de bola
Marrocos teve mais posse de bolaFlashscore

Excesso de confiança

Em vantagem, França optou por uma estratégia de frente a Portugal e Espanha. Cedeu a bola a Marrocos, uma equipa que estava mais habituada a viver sem ela. Mas se é certo que tudo parece ter funcionado na primeira parte, o regresso do intervalo trouxe um conjunto marroquino diferente.

Com Attia-Allah de novo no flanco esquerdo, os Leões do Atlas mostraram uma agressividade acima da média (que o diga Mbappé), conseguiram colocar Ounahi novamente no jogo e foram empurrando França cada vez mais para trás. E ainda antes do quarto de hora estiveram perto do golo, mas Konaté apareceu quase sempre no caminho da bola.

As arrancadas de Mbappé ainda iam colocando Marrocos em sentido, mas o que é certo é que a França deixou de parecer no controlo e pareceu cada vez mais a tentar sobreviver às sucessivas vagas magrebinas.

A solução foi (mais) velocidade

Griezmann tanto gesticulou para o banco, sinalizando as dificuldades da equipa, que Didier Deschamps viu-se obrigado a mexer. E em vez de tentar consolidar a defesa ou meio-campo, o selecionador gaulês deu mais potência ao ataque. Marcus Thuram rendeu Giroud aos 65 minutos e assumiu o lugar na faixa esquerda do ataque. Além de garantir mais velocidade na frente, conseguiu travar as investidas de Hakimi que Mbappé (agora no centro do ataque) estava a sentir dificuldades para acompanhar.

Foi um tampão na resposta marroquina que, fora um lance de Hamdallah (76 minutos) que o avançado se atrapalhou quando entrou na área, ia sentido dificuldades para voltar a criar perigo perto da baliza de Lloris.

A magia de Mbappé tudo resolve

A estocada final surgiu aos 79 minutos. Novamente equilibrada, França voltou a surgir no elemento natural. Tchouaméni arrancou pelo meio-campo, colocou em Mbappé que combinou com Thuram, entrou na área, tirou dois adversários do caminho e viu a bola sobrar para Kolo Muani marcar ao segundo poste, com o primeiro toque na bola.

Depois de tanto subir ao Atlas (cordilheira em África), o Leão não soube ser mais astuto que o Galo e caiu. Mais madura e cínica, França colocou um ponto final (2-0) numa caminhada absolutamente histórica de Marrocos no Mundial-2022, que se tornou na primeira seleção africana a chegar a uma meia-final, mas agora terá de se contentar, na melhor das hipóteses com um lugar no pódio. Já os franceses continuam a sonhar com os feitos de Itália (1934 e 1938) e Brasil (1958 e 1962) e vão de defender o título diante da Argentina.

As estatísticas finais
As estatísticas finaisOpta by Stats Perform

Homem do jogo Flashscore: Mbappé (França)

O jogador esteve sempre em jogo
O jogador esteve sempre em jogoOpta by Stats Perform