- Que objetivo tinha antes de começar o Rali Dakar?
- O primeiro objetivo era terminar a prova. As estatísticas não são muito favoráveis para os estreantes, apenas 50 por cento conseguem chegar ao fim. Tínhamos um carro e uma equipa forte, além de um navegador experiente. Com base nisso, sabíamos que estar entre os 15 primeiros era algo possível, mas difícil. Um 15.° lugar já seria algo incrível.
- Ter chegado no pódio superou, portanto, todas as expectativas.
- Muito mesmo, não pensávamos nisso. A última vez que um estreante chegou ao pódio foi há 36 anos. O resultado foi muito mais além do que imaginávamos.
- Consegue encontrar o ponto onde conseguiu fazer a diferença?
- Pode parecer cliché, mas creio que mesmo manter a cabeça fria. O Dakar é uma prova longa, acontecem muitas coisas num único dia. Se não olhares para o longo prazo, podes facilmente perder-te. É preciso olhar para o filme e não para a foto, focando a corrida como um todo. O mais importante era não perdermos a cabeça, não tomar decisões baseadas na emoção.
- Teve uma preparação específica para o Dakar? Onde e por quanto tempo?
- Fui para o Peru no início de 2022 para fazer um treino específico em dunas. Estão lá algumas das dunas mais difíceis do mundo e essa preparação ajudou-me muito. Foi um curso de apenas uma semana neste tipo de terreno. Mais próximo de dezembro, 30 dias antes do Dakar, participámos numa prova no Dubai, a Baja International Dubai. Foi a primeira vez em que estive com o Timo (navegador), foi uma experiência muito importante.
- Houve algum momento mais difícil, que tenha sido marcante, e que fique na memória para sempre?
- Foi logo na segunda especial, num trecho de 450 quilómetros, sendo que 350 quilómetros eram só de pedra. Ficámos sem um pneu. Aconteceu com apenas 15 quilómetros de percurso. Foi um momento muito difícil. Não podíamos ficar sem pneu e tivemos a cabeça no lugar para tomar a melhor decisão. Muitos dos que ficaram no top 5 ou no top 10 perderam pneus mais de duas vezes. O segundo momento complicado foi quando fiquei com náuseas, pelo sobe e desce do terreno. Precisei de parar o carro para me recompor, ainda passei mal por alguns segundos, mas consegui chegar à meta e ter um bom resultado.
- Este pódio vai mudar a sua abordagem para outras competições a partir de agora?
- Sei que ainda tenho muito para aprender, não posso perder isso de vista. Ainda mais tendo em conta uma prova como o Dakar, onde é preciso ter um bom ritmo para lutar pelas primeiras posições. Consegui encontrar esse ritmo sem correr muitos riscos, isso foi bem importante para ficarmos sempre entre os primeiros. Ainda quero evoluir e melhorar mais, principalmente em termos de velocidade. Esse é o meu objetivo agora.
- Acredita que a visão dos seus adversários sobre si vai mudar?
- Acredito que sim, até porque eu era um desconhecido. Este resultado aumenta a minha visibilidade diante dos outros pilotos, mas estou tranquilo em relação a isso.
- Qual a importância do seu navegador, Timo Gottschalk, neste resultado, tendo em conta a experiência diante da sua estreia?
- Teve uma importância gigante. Ele é alguém com muita experiência, correto e profissional. Traçámos uma estratégia desde o início e a seguimo-la o tempo todo. O Timo ajudou-me a ter calma para não sairmos do que tínhamos planeado. A navegação foi perfeita, isso foi decisivo no resultado final.
- E como surgiu esta parceria? Já conhecia o Timo?
- Só o conhecia de nome. O chefe da equipa sugeriu, informando que ele estava disponível. Não tive dúvidas em aceitar a sugestão. Demo-nos bem desde o início, a relação foi ótima.
- O que é mais importante para um estreante num Dakar?
- Acredito que seja controlar o ego. Em algumas especiais, podia ter andado mais rápido, mas é um risco que se corre. Sendo um novato, é preciso saber que não vais chegar na frente na tua primeira participação. Aprender o tempo todo era fundamental. Partilhei essa ideia com o Timo, que muita gente perde posições por causa do seu ego, de querer ganhar de qualquer forma, esquecendo o tamanho da corrida. É um percurso longo, muita coisa pode acontecer, é sempre bom ter isso em mente e manter a cabeça no lugar. Espero que este resultado faça o Rali Dakar crescer ainda mais no Brasil.