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Entrevista Flashscore a Martin Škrtel: "Já me conformei, a vida de futebolista chegou ao fim"

Peter Žember
Martin Škrtel ganhou vários troféus e prémios na sua carreira
Martin Škrtel ganhou vários troféus e prémios na sua carreiraTASR
Devido a problemas de saúde, Martin Škrtel terminou a carreira prematuramente, após um ano no Spartak Trnava, da Eslováquia, em 2021/2022. O central deixou os relvados de forma profissional mas manteve-se fiel ao jogo, a nível amador, no Ráztočno, da sua aldeia natal. O Flashscore falou em exclusivo com o antigo internacional eslovaco, não só sobre a sua carreira, nomeadamente a última época no Liverpool, mas também sobre a sua vida para lá do futebol.

Martin Škrtel é um homem de palavra. Prometeu jogar na sua amada Trnava no final da sua carreira e cumpriu. Chegou mesmo a levar a equipa ao triunfo na Taça da Eslováquia. Também prometeu jogar com a camisola da sua aldeia natal - Ráztočno. Claro que, mais uma vez, não foram apenas palavras. Martin Škrtel já cumpriu uma temporada no futebol amador eslovaco.

"Quando entrei nisto, contava que fosse sobre futebol e especialmente sobre promoção. Que as pessoas iriam apreciar e gostar que eu entrasse em aldeias onde nunca tinha estado antes. Estou habituado a isso ao longo da minha carreira, por isso não tive qualquer problema", disse Martin Škrtel, ao Flashscore, quando questionado se já estava cansado dos sorrisos para a fotografia e dos autógrafos a cada fim de semana.

Com lágrimas nos olhos, Martin sai do relvado no último jogo da sua carreira pelo Trnava
Com lágrimas nos olhos, Martin sai do relvado no último jogo da sua carreira pelo TrnavaTASR

A verdade é que Martin Škrtel, que pela seleção da Eslováquia somou 104 internacionalizações, não foi para o futebol amador apenas para a fotografia. Passou de defesa a avançado e fechou a temporada com 13 golos.

"Especialmente com o treinador do Trnava, Michal Gasparik, brincava muitas vezes com ele, dizendo que se ele soubesse como eu rematava de pé direito, ele ainda me colocava a avançado. Claro, tudo com a mente aberta. O nível da oitava divisão da Eslováquia é completamente diferente. Um jogador como eu pode fazer nome nela. Fico feliz por esses golos. Muitas vezes, prefiro passar a bola e deixar que outro companheiro marque. O número 13 é bom, mas podiam ter sido mais", assume Martin Škrtel, que aos 38 anos ainda tem fome por melhorar. Ráztoční terminou a época no segundo lugar e, ao Flashscore, o antigo internacional eslovaco confirma que vai continuar no ativo.

"Sim, vou continuar. Enquanto a minha saúde me servir ao ponto de poder jogar ao nível que quero. Continuo a gostar. De certa forma, é bom para me manter em forma. Não sei quantos jogos vão ser, porque tenho muitas atividades exteriores. Sempre que posso, gosto de participar", acrescentou o ex-jogador de Liverpool, Zenit, Fenerbahçe e Basaksehir.

Os números de Martin Skrtel
Os números de Martin SkrtelFlashscore

- O que o levou a terminar a carreira como profissional? Como está a sua saúde, atualmente? 

- De alguma forma, estou a aguentar-me. Não é o ideal. Se seguir os conselhos dos médicos, dos fisioterapeutas e fizer exercício físico, é possível viver regularmente com a doença. Isso é o mais importante para mim. O futebol não ajuda, claro. Enquanto for como agora, em que dois dias depois de um jogo ainda me sinto maltratado, cansado e dorido, mas com exercício físico vou recuperando gradualmente, posso viver com isso.

- Se as estatísticas não mentem, só viu três cartões amarelos e nunca foi expulso. A sua intransigência já não é a mesma, ou a experiência fez com que se tornasse menos físico?

- Tive de encarar o futebol de forma um pouco diferente. É um estilo diferente. Joguei numa posição diferente. Na prática, entro num jogo não com a intenção de cortar jogadas, mas sobretudo para não me magoar. Para correr bem, suar e beber uma cerveja depois do jogo (sorrisos). Não quero dizer que não tenha havido cartões amarelos, mas o estilo do meu futebol mudou drasticamente na oitava divisão.

Martin Škrtel com a camisola do Ráztocno, clube pelo qual disputou o seu oitavo jogo no campeonato
Martin Škrtel com a camisola do Ráztocno, clube pelo qual disputou o seu oitavo jogo no campeonatoLadislav Szibilla

- O adepto eslovaco é exigente. Depois de ter sido campeão na Turquia e de ter vencido a Taça de Inglaterra, o que sente quando houve críticas vindas da bancada?

- Para ser sincero, já ouvi muita coisa. Por vezes, a minha cabeça quase pára por causa disso. Vim para a village league a pensar que queria praticar desporto, para me divertir, para promover o futebol da aldeia. Depois, chego a um sítio onde nos chamam nomes, mesmo vulgares, e depois do jogo querem tirar uma fotografia connosco... Dá para uma pessoa pensar duas vezes. Na Eslováquia, devemos respeitar, não me refiro a mim, mas no geral, as pessoas que alcançam algo, que significam algo no mundo. É triste quando descobrimos que, algures no mundo, nos respeitam mais do que na Eslováquia.

- Qual foi a crítica que mais lhe ficou na memória? 

- Foram muitas. Vulgar, menos vulgar. Algumas eram engraçadas. A melhor foi quando um senhor, um pouco acima do peso, numa bicicleta, gritou e perguntou porque é que eu estava a rematar se nem sabia chutar uma bola. Acabei por bater o livre e saiu por cima da barra. Ri-me quando vi o estado dele.

"Houve momentos em que quis voltar"

- O Trnava convidou-o para integrar a estrutura do clube após o final da sua carreira. Qual é a sua posição atual? 

- É difícil nomear o cargo. Recebi uma proposta do Trnava, mas ainda não respondi. Ainda não me juntei ao clube. Por outro lado, falo muitas vees com o treinador e com o presidente. Não tenho um cargo oficial no clube. Preocupo-me com o Spartak, para que a equipa possa ter bons resultados. Falo com eles quando o treinador quer o meu conselho e a minha opinião. Tenho sempre todo o gosto em falar com ele. Quer lhe chamemos consultor, embaixador... Sempre que posso, tenho todo o gosto em ajudar o clube.

- Tem também estado a trabalhar para ser treinador. Como está esse processo?

- Tenho já a licença A da UEFA. Expirou, mas estou contente por ter conseguido renová-la quando estive a estagiar no Dunajská Streda e no Spartak. Houve um seminário online. Atualmente, tenho uma licença "A" válida. Veremos. Não estou a dizer que quero ser treinador, mas se a oportunidade surgir, quero estar preparado.

- Os jogadores preferem jogar em vez de estudar. Não o desmotivou o facto de ter de voltar aos seus primórdios através de diferentes teorias?

- Percebi que a posição de treinador é completamente diferente da posição de jogador. O maior teste virá quando me candidatar à licença UEFA PRO. De momento, não estou a pensar nisso. Se fosse treinador, poderia ser adjunto ou treinador numa liga inferior ou possivelmente na formação. Veremos o que o futuro nos reserva.

- Do ponto de vista de um árbitro ou de um treinador, o futebol é diferente do que quando se é jogador. Já se conformou com o fim da sua carreira?

- Já me conformei. Claro, há momentos em que sinto imensas saudades do futebol. Admito que, não é que me arrependa, mas houve momentos em que me perguntei se de alguma forma voltaria ao futebol. Infelizmente, a minha saúde já não me permite fazer isso. Estou conformado com isso. A vida de futebolista de topo chegou ao fim. Estou apenas a olhar em frente para ver que direção vou tomar a seguir.

- Já visitou locais onde viveu muitos momentos fantásticos. O filme sobre a sua carreira, que chegará em breve aos cinemas, ajudou-o a afastar os pensamentos negativos?

- Em parte, sim. Especialmente durante as filmagens, estou contente por ter regressado aos locais onde trabalhei. Tive a oportunidade de rever muitas pessoas, colegas de equipa... Foi uma boa experiência. Estou contente por ter feito o filme. Os dias de filmagem que já passaram foram ótimos.

"A escola é a prioridade"

- A família pode desfrutar muito mais de si neste momento. O seu filho escolheu uma adrenalina ligeiramente diferente - os karts. Ainda tentou que ele escolhesse o futebol?

- Exatamente. Finalmente tenho espaço para estar com a minha família, a minha mulher e o meu filho. Perdi muito tempo longe deles ao longo da minha carreira. Estou a tentar compensar isso. O pequeno escolheu o desporto que escolheu. Apoiamo-lo totalmente, como sempre. Começou no futebol, ainda jogou ténis. Agora joga golfe e conduz karts. Tudo depende dele. Nós encorajamo-lo, sobretudo, a estudar. Além disso, ele pode ter o desporto como hobby. Veremos no futuro em que direção evoluirá a sua eventual carreira desportiva. Para nós, a escola é a prioridade. Tudo o resto é um passatempo.

- Praticamente todos os melhores pilotos de F1 começaram no karting - Hamilton, Verstappen, Leclerc... Partilha dessa mesma visão para o seu filho? 

- A Fórmula 1 é muito popular entre os miúdos, eles admiram os pilotos. Têm a oportunidade de os ver na televisão ou na Internet. É um grande boom no mundo. Nós não olhamos tanto para isso. O meu filho está a correr há um ano e meio. Nota-se que está a ir bem. Neste momento, penso que está em quarto lugar na classificação da Eslováquia. Terminou em décimo sexto no Campeonato do Mundo, o que é um bom resultado. Veremos como correm as coisas a partir daqui. O karting na Eslováquia não está tão difundido como no resto do mundo. Até agora, ele está a ir bem e está a gostar.

"Klopp é o treinador certo no lugar certo"

- Recentemente, participou num jogo de lendas do Liverpool. Os adeptos vão gostar de o ver numa posição semelhante mais do que uma vez? 

- Fiz dois jogos. Gostei muito. Veremos se me convidam de novo. A ideia é fazer com que o maior número possível de ex-futebolistas do Liverpool passe por lá. Se for convidado e se for possível ir, adorava repetir.

Martin Škrtel esteve recentemente ao serviço das lendas do Liverpool num jogo de beneficência contra o Celtic
Martin Škrtel esteve recentemente ao serviço das lendas do Liverpool num jogo de beneficência contra o CelticProfimedia

- O Liverpool teve uma temporada turbulenta. No final, por pouco não conseguiu uma vaga na Liga dos Campeões. Depois dos sucessos anteriores, esperava um ano assim?

- Quando observamos todos os clubes do mundo, todos passam por um período de menor sucesso. O Liverpool esteve no topo durante várias épocas consecutivas. Não diria que era de esperar. Mas uma coisa destas pode sempre acontecer a qualquer clube. Os jogadores e o treinador estiveram juntos durante muito tempo. De certa forma, o declínio poderia ter acontecido. E aconteceu. É por isso que acredito que, com base nas mudanças que estão a acontecer no clube, o Liverpool vai voltar ao seu lugar.

- Jürgen Klopp resistiu a todas as pressões. Qual a importância da sua presença para a continuação do sucesso do clube? 

- A permanência de Jürgen é um passo lógico. Ele é o treinador certo no lugar certo. Conquistou tudo com o clube. Também é evidente que passou por épocas menos bem sucedidas. Acredito que, depois das mudanças que foram feitas e dos novos jogadores que chegaram, o clube vai melhorar. A sua posição neste processo é muito importante. Ele já provou muitas vezes, seja no Liverpool, no Mainz ou no Dortmund, que é capaz de dar a volta a uma equipa. Espero que ele possa fazer isso novamente.

"Críticas à seleção são legítimas"

- Por fim, não podemos deixar de falar da seleção, que tem sido criticada nos últimos jogos. Concorda com o que tem sido dito?

- As críticas foram, para ser sincero, muito acertadas. Exceto contra a Bósnia, as exibições não foram o que deveriam ter sido. Por outro lado, a seleção fez pontos suficientes e ficou muito mais perto da promoção. No fim de contas, a equipa está a jogar principalmente por pontos e pela promoção. Qualquer jogador dir-lhe-á que prefere ter mais pontos e jogar pior do que o contrário. A seleção da Eslováquia ainda se encontra numa fase de transição. Os resultados alcançados vão refletir-se na sua autoestima. Acredito que vão terminar a qualificação, que começaram bem, e os desempenhos também vão subir.

Martin Škrtel disputou 104 jogos pela Eslováquia
Martin Škrtel disputou 104 jogos pela EslováquiaTASR

- As duas vitórias nos dois últimos jogos colocaram a Eslováquia numa posição decente para lutar pelo apuramento. Os próximos duelos serão sem Marek Hamsik. Conseguirá a equipa manter o nível sem ele?

- Acredito firmemente que sim. É claro que Marek é uma personalidade, não só do nosso futebol, mas também do futebol mundial. A sua presença em campo faz-se sentir. Já o disse muitas vezes e vou repetir-me. Temos de começar a olhar para a equipa sem Hamšík, Kucka, Pekarik. Sem jogadores experientes. Precisamos de outros como Lobotka, Škriniar, Duda ou Haraslín para assumir a responsabilidade. Eles têm a qualidade para se tornarem líderes da seleção. Têm de o provar também na personalidade. Espero que sejam bem sucedidos e que o futuro da seleção nacional seja brilhante.