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Entrevista Flashscore a Trmal: "É o meu momento de maior sucesso mas acredito sempre que melhores coisas virão"

Štěpán Šimůnek, Mário Rui Ventura
Entrevista Flashscore a Trmal: "É o meu momento de maior sucesso mas acredito sempre que melhores coisas virão"
Entrevista Flashscore a Trmal: "É o meu momento de maior sucesso mas acredito sempre que melhores coisas virão"Profimedia
Aos 20 anos já era o número 1 no FC Slovacko, tornando-se no mais jovem guarda-redes titular no campeonato da República Checa. Mas não lhe chegava. Depois de duas épocas, 50 jogos (22 sem sofrer golos), Matous Trmal decidiu dar o salto... para Portugal. Chegou ao Vitória de Guimarães, não se afirmou, pediu para sair e foi precisamente com o primeiro treinador que trabalhou no Castelo, João Henriques, que chegou a titularidade no Marítimo e as exibições que o levam, agora, à primeira chamada para a seleção da República Checa, ocupando uma vaga que já foi de Petr Cech. Motivo mais que suficiente para, em exclusivo ao Flashscore, Trmal passar em revista a carreira, a experiência em Guimarães e, agora, no Marítimo.

- Chegou à equipa principal do Slovacko em 2018, estreou-se oficialmente em Plzen, com uma derrota por 1-2. Ainda se lembra?

- Vou lembrar-me para sempre. Nessa altura estávamos em penúltimo no campeonato e precisávamos de algo que abanasse as coisas. Por isso o treinador, como se diz, atirou-me aos lobos. E desde aí que permaneci na baliza por longo tempo.

- E também se lembra do jogo com o Sparta Praga em dezembro de 2018? O Slovacko ganhou por 2-1 e o Trmal defendeu um penálti do Kang e nem Ristic o conseguiu bater, atirando por cima outra grande penalidade.

- Foi um dos meus melhores jogos, lembro-me como se fosse hoje. E não só pelo frio que estava (risos). Não se ganha ao Sparta todos os dias. Além disso tínhamos uma bela equipa.

Trmal está feliz na época de estreia no Marítimo
Trmal está feliz na época de estreia no MarítimoInstagram/Trmal

- Depois dessa época de estreia como titular e com sucesso, recebeu convites de equipas maiores?

- O facto de aparecer um guarda-redes tão jovem a titular desperta sempre alguma curiosidade. Alguma coisa aconteceu mas oficialmente nenhuma proposta me chegou. Ou melhor, a mim nada me foi dito, tudo foi tratado pelo meu agente. Porém, para mim não faria grande sentido sair para qualquer lado, eu queria continuar no Slovacko pelo menos mais uma época para me afirmar.

- Acabou por chegar uma oferta, do Vitória de Guimarães. Foi a única ou houve mais?

- A oferta do Vitória de Guimarães chegou no início da janela de transferências e aconteceu tudo muito rápido. Uma oportunidade daquelas não podia ser recusada, era bom para mim e para o clube. Eu sentia que podia melhorar, tanto no futebol como na minha vida. Naquela altura tudo parecia espetacular, pelo que nem me importei com mais nada. Fui de cabeça...

- Como foi a adaptação a Portugal? Novo país, ambiente, clube, companheiros...

- Naquela altura ajudou-me o facto do Vitória de Guimarães estar a montar um projeto onde 12 jogadores eram estrangeiros. A maioria falava inglês, pelo que a comunicação nem era um problema. Daí que, apesar de ser um ambiente novo, a adaptação não foi assim tão complicada.

- Mas o início em Portugal não foi fácil do ponto de vista desportivo. Na primeira época registou apenas três jogos no campeonato e um na taça.

- Foi difícil, especialmente do ponto de vista psicológico. Naquela altura disseram-me que eu ia para ser titular, porque o anterior guarda-redes ia retirar-se do futebol. Infelizmente foi tudo diferente, eles contrataram outro guarda-redes que deu nas vistas nos treinos. Mas eu lutei, tentei estar sempre preparado e esperar a minha oportunidade. Ela chegou na Taça, contra o Benfica, e depois tive mais alguns jogos no campeonato. Tentei ao menos mostrar as minhas qualidades. É que na República Checa eu já tinha nome mas em Portugal era um anónimo, ninguém tinha ouvido falar de mim. Essa primeira época, apesar de ter jogado pouco, evoluí muito a vários níveis.

- Na época seguinte melhorou mas pouco. Foram nove jogos no campeonato e dois na Taça. Começou a pensar que seria altura de sair para outro lado?

- Depois da primeira época eu queria ser emprestado. Por outro lado, eu sabia que tinha o que era preciso para me afirmar no Vitória de Guimarães. Além disso, o titular lesionou-se, esteve de fora cerca de dois meses, pelo que a oportunidade caiu-me ao colo. Comecei bem, acho que fiz as coisas como devia mas a maior parte dos jogos nós jogávamos para o 0-0, pelo que não estávamos propriamente a progredir. Tive cinco jogos sem sofrer golos mas em três deles também não marcámos. Depois o guarda-redes titular recuperou e só esperaram que perdêssemos um jogo para eu perder novamente o lugar. Isso aconteceu diante do Benfica, perdemos 1-3 e eu voltei ao banco. Depois dessa segunda época estava certo que não queria continuar ali, eu precisava de jogar. O Marítimo foi o clube que mais demonstrou interesse em mim, o treinador e o treinador de guarda-redes ligaram-me e convenceram-me.

- O Marítimo teve um início terrível de época. Nos primeiros oito jogos foram zero pontos, 24 golos sofridos, cinco marcados. E o Trmal no banco... 

- Eu também cheguei tarde, não fiz toda a pré-época, pelo que não esperava ser titular logo no início. Mas também sabia, tendo em conta o que tinha falado com os treinadores e com a direção, que teria a minha oportunidade. Chegou na quarta jornada, perdemos com o Portimonense por 0-1 e eu lesionei-me. Fiquei de fora mais um mês. Além disso o clube despediu o treinador, que basicamente era o responsável pela minha contratação. Mas depois felizmente veio o João Henriques, que me tinha treinado no Vitória de Guimarães na primeira época e tudo mudou a meu favor.

- O que mudou no Marítimo para de repente os resultados melhorarem?

- Nada mudou, só precisávamos daquele clique, de ganhar um ponto que fosse. Ganhámos isso com o Boavista, onde é muito difícil jogar. Têm grandes adeptos, um belo estádio. Foi apenas um ponto é certo, mas foi como ouro para nós. Serviu para acreditarmos que era possível, conseguimos mais alguns pontos e pudemos respirar melhor. A qualidade neste plantel é muito maior do que andarmos a lutar pela manutenção mas se falhas no início depois é mais difícil manter a fasquia.

Trmal quer continuar na Madeira para lá desta época
Trmal quer continuar na Madeira para lá desta épocaCS Marítimo

- O objetivo do Trmal é afirmar-se como titular no Marítimo e assegurar a manutenção?

- Exato. Queremos sair dos lugares de descida o mais rápido possível e, pessoalmente, quero ficar aqui o máximo de tempo que puder.

- Qual é o seu nível de português nesta altura e como é, de facto, viver na ponta da Europa?

- Estou definitivamente melhor do que no início. Já compreendo praticamente tudo e se preciso de alguma coisa consigo pedir. Às vezes ainda demoro algum tempo a pensar nas palavras mas vou melhorando. Especialmente dentro das quatro linhas já percebo todas as instruções, é de facto o mais importante para mim. No que diz respeito à vida em Portugal, é muito relaxante, aqui não há pressa para nada. A qualquer lado que vais, vais ter de esperar (risos). Os portugueses têm o seu próprio estilo, não têm pressa para nada. É bem diferente da República Checa mas a verdade é que eu gosto.

- Os checos não tiveram assim grande impacto em Portugal. Talvez Poborsky, Srnicek e Horvath tenham sido aqueles que deixaram maior marca. Os portugueses perguntam sobre eles ou sobre outros jogadores checos?

- Eles conhecem os mais famosos, claro, talvez conheçam alguns jogadores da atual geração. Mas os portugueses têm muito orgulho nos jogadores deles. Eles não se preocupam muito se vão jogar contra a República Checa ou contra a França, eles focam-se neles próprios.

Trmal chega agora à seleção principal da República Checa
Trmal chega agora à seleção principal da República ChecaInstagram/Trmal

- No SC Braga está outro guarda-redes checo, Lukas Hornicek, que também tem tido dificuldades de afirmação. Tem contacto com ele?

- Sim, claro. Quando eu estava em Guimarães falávamos todos os dias. Quando eu vim para Portugal ajudámo-nos muito um ao outro. Ou ele mais a mim, porque o Lukas já cá estava há um ano. O Lukas está a jogar na 3.ª Divisão, pelo SC Braga B. Ele ainda é muito novo, tem tudo à sua frente. Eu acredito que ele vai mostrar as suas qualidades a toda a gente, tem enorme talento. As pessoas do futebol respeitam-no em Portugal, o ano passado ele foi considerado o melhor guarda-redes jovem.

- Voltemos à República Checa. O Slovacko tem estado bem desde que o Trmal saiu. Continua a seguir o clube?

- Sim, costumo seguir regularmente. Tiveram grandes jogos e foram recompensados com a presença na Liga Conferência. Senti muito orgulho em ver esses momentos.

- Agora chega a altura do Trmal ser chamado à seleção da República Checa. É o maior feito da sua carreira até agora?

- Não penso dessa forma. Claro que estou orgulhoso de se terem lembrado de mim na República Checa. Com 21 anos, fui a todas as seleções de formação e estou contente por agora chegar à principal. É um sonho de criança que se concretiza, todos os miúdos que começam a jogar futebol têm o sonho de representar o seu país. Talvez seja o meu momento de maior sucesso mas eu acredito sempre que melhores coisas virão. 

- Quem conhece dos atuais convocados e quem tem mais curiosidade em conhecer?

- Conheço os jogadores da minha geração, são cerca de cinco nesta convocatória. Os outros conheço basicamente do campeonato checo, pelo que não são totalmente desconhecidos. Estou provavelmente mais curioso em conhecer os guarda-redes, claro. Fico feliz em poder aprender com eles, afinal têm todos mais experiência que eu.

A carreira de Trmal
A carreira de TrmalFlashscore