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Entrevista Flashscore ao Sports Scientist Pedro Lisboa: Os grandes desafios do Mundial-2022

Pedro Lisboa acredita que os campeonatos podem mudar muito de acordo com o que aconteça no Mundial-2022
Pedro Lisboa acredita que os campeonatos podem mudar muito de acordo com o que aconteça no Mundial-2022Pedro Lisboa/Arquivo Pessoal
A edição 2022 do Campeonato do Mundo é inédita, não só por ser a primeira realizada em solo árabe, mas, especialmente, pelo momento em que acontece, a meio da temporada. Quais os impactos e o que podemos esperar quanto ao regresso das competições nacionais? O Flashscore falou com Pedro Lisboa, Sports Scientist especialista em análise de dados desportivos, que passou pelo Real Madrid e trabalhou diretamente com diferentes jogadores de futebol, para perceber de que forma é que os atletas e os clubes podem gerir todo este processo.

"O grande problema e o impacto que tem nos jogadores é o facto de terem trabalhado, até aqui, numa época regular e, agora, durante o período em que vão estar no Mundial-2022, vão trabalhar fora dos clubes que representam", começa por explicar-nos Pedro Lisboa, lembrando que "para uns, será uma realidade em que treinam pouco e jogam pouco, enquanto para outros será um contexto de pouco treino, mas com jogo".

As atenções estão, naturalmente, centradas nos atletas convocados pelas suas seleções, mas Pedro Lisboa destaca também "aqueles que não foram e que vão viver um período com poucos ou nenhuns jogos, mas também com treino mais reduzido, algo que é comum quando existem estas competições".

"O impacto disto é que os próprios calendários nacionais, das competições internas, foram bastante abalados por culpa do Mundial, que é uma competição muito exigente e que se vai realizar numa altura em que normalmente não acontece", reforça.

Numa altura em que os jogadores que integram as seleções "saem do padrão normal do seu treino, porque vão para outra metodologia e para um registo de competição completamente diferente daquele a que estão habituados, num formato muito distinto", a prova traz dificuldades de gestão, incluindo até das expectativas.

"Durante uma época considerada normal, já é comum falar-se sobre o impacto causado pelos jogos internacionais, de seleções. Imagine-se, agora, quando isto acontece a meio de uma temporada, com um registo em que se joga a cada quatro dias", vinca Pedro Lisboa, que, apesar de confiar que "todas as estruturas ficam felizes pelos seus jogadores", acredita que "alguns clubes esperam que os seus jogadores estejam no Mundial o menor tempo possível, para que estejam também o menor tempo possível com metodologias diferentes".

"Os responsáveis sabem que os processos de treino e reintegração diferem para cada jogador e eu acredito que todos os casos serão analisados de forma individual. Se um atleta vai ao Mundial e não joga, também pouco vai treinar. Se for e jogar, terá jogo, mas pouco treino. Quem não vai, por seu lado, estará com uma metodologia completamente diferente e, se pensarmos no caso português, os clubes e plantéis estarão a competir na Taça da Liga, com semanas normais de treino e competição. Noutros países, a competição parou completamente e a última semana foi praticamente de férias para toda a gente", aponta.

Regresso das provas nacionais causa expectativa

Se não é simples avaliar o impacto real da realização de uma competição desta dimensão a meio de uma época, também é difícil prever, para já, em que contexto se dará o regresso das provas nacionais.

"Pouca gente saberá, nesta fase, como é que os jogadores vão regressar do Mundial. Vai depender muito de quantos jogos façam e de até onde possam ir na competição. Isso será muito interessante de perceber depois. Num Mundial realizado nas datas habituais, os jogadores estão em fadiga, já, porque é uma fase final da temporada, com muito trabalho nas pernas. Depois vão de férias e regressam para começar uma nova época. Aqui, não. Os jogadores vão reintegrar os trabalhos das suas equipas após o Mundial, sendo que a competição recomeça logo", diz-nos Pedro Lisboa, admitindo que "será interessante perceber como é que os clubes vão gerir esta questão".

Ainda assim, assume que "os campeonatos podem mudar muito de acordo com o que acontecer no Mundial", já que "as equipas que tenham jogadores que cheguem longe na prova poderão ser mais afetadas no regresso das competições internas".

Na base de todo este processo está uma decisão da FIFA, que optou por ajustar os calendários nacionais e internacionais para dar resposta às particularidades do evento, especialmente pela localização e pelas condições climatéricas esperadas.

Um "hot topic", vinca o Sports Scientist, admitindo que não será "a pessoa indicada" para avaliar a decisão do organismo, mas afiançando que "a FIFA cometeu um erro quando decidiu realizar a competição a meio da temporada".

"Há muitas questões que podemos abordar sobre este tema, mas parece-me ter sido um erro definir o Mundial para esta altura, por vários fatores, como a localização ou o clima, apesar das inovações tecnológicas que permitem maior controlo na temperatura ou humidade. É um período complicado e, para além de tudo o que disse antes, devemos ainda ter em atenção o quanto as ligas nacionais tiveram de se adaptar e a quantidade de jogos que se realizaram até agora, a densidade competitiva que se registou".

"O que foi feito nesta fase inicial da época, com os ajustes e mudanças ao calendário, ao treino e aos jogos, foi incrível e tem exigido a toda a gente uma adaptação regular, com constante reestruturação da forma de trabalhar", conclui.