Paris-2024: Cavaleiro António do Vale quer honrar João Moreira e o cavalo Furst Kennedy Old
"Eu estava presente quando tudo isto aconteceu. Inclusive, quando o cavalo do João começou a mostrar sintomas do problema que estava a ter, fui quem estava ao pé dele e quem ele chamou primeiro. E fui eu que chamei o veterinário. Por isso, o momento foi muito intenso, porque a gente tem uma ligação forte aos animais, não é? E naquela altura o pensamento não foi ‘pronto, vou entrar eu’, foi ajudar o meu colega. É que somos amigos também, ainda por cima”, relatou à agência Lusa.
Suplente da equipa de dressage, o cavaleiro de 42 anos foi-se apercebendo aos poucos de que, devido ao problema de cavalo Furst Kennedy Old, iria substituir João Moreira.
“Foi-me caindo a ficha aos poucos. Naquela altura não foi logo automático... Foi uma coisa progressiva. Fui vendo e fui-me apercebendo do estado do cavalo. Chegou um momento em que disse ‘vou ter que fazer’. E fico, claro, contente, mas é difícil dizer que estou contente, porque a situação é complicada. Agora, passando este tempo, é claro que quero cumprir o meu propósito aqui, como cavaleiro. E estou feliz de ter esta oportunidade”, reconheceu.
António do Vale vai, assim, estrear-se em Jogos Olímpicos, querendo agora “honrar o João e o cavalo”, assim como a sua equipa, “porque a experiência está a ser não só uma experiência enriquecedora na parte desportiva, mas sobretudo na parte de relações humanas”.
“Houve uma altura que quase todos chorávamos ali naquela situação e unimo-nos. (…) Quando se faz um resultado bom e as pessoas nos dão os parabéns, nós sabemos sempre o que está por detrás, mas neste momento os heróis foram mesmo os veterinários, o nosso veterinário, sobretudo o nosso chefe de equipa (António Frutuoso de Melo), que arregaçou as mangas. Ele próprio é que segurou o cavalo e a situação”, contou.
Com o “lado sentimental muito à flor da pele”, o cavaleiro admite estar “com muitas ganas” para entrar em prova já na terça-feira, no Palácio de Versalhes.
“Uma coisa é quando um cavalo coxeia, é uma coisa que nós estamos habituados. É uma lesão, pronto, é chato, ok, mas ali, se o cavalo não tinha sido operado rapidamente, corria riscos de vida. E isto é o que é bonito deste desporto, porque nós queremos o desporto, mas em primeiro lugar está o cavalo. E ali acabou, a gente já não pensava ‘quem é que vai agora, e os Olímpicos’. Toda a gente da equipa se focou no animal”, reforçou.