FC Porto/Eleições: Movimento lamenta data da AG de revisão estatutária
“Infelizmente, a discussão prévia foi centrada em outros temas que não o dos estatutos e dominada quase já por uma campanha pré-eleitoral em curso. O timing não foi o mais adequado”, admitiu o advogado e professor universitário, em entrevista à agência Lusa.
Transferida à última hora de um auditório do Estádio do Dragão para o Dragão Arena, no Porto, devido à ampla afluência, a reunião extraordinária de 13 de novembro de 2023 foi suspensa pelo líder da Mesa da Assembleia Geral, Lourenço Pinto, com vários sócios a deixarem o pavilhão ao fim de pouco tempo, na sequência de altercações nas bancadas.
“Diria que essa participação foi o único ponto positivo de um dos dias mais tristes da vida associativa do FC Porto. Os eventos que se viram, sobretudo no Dragão Arena, e todo o contexto de organização totalmente não conseguida, que causou a mudança de um local para o outro, foram aspetos muito negativos que não podemos esquecer. Pelo contrário, devemos tê-los sempre muito bem presentes para que isso nunca mais se repita”, notou.
A Assembleia Geral seria desconvocada cinco dias depois, face à retirada pelo Conselho Superior da proposta de revisão estatutária em debate, que tinha sido concebida por uma comissão eleita em 2021, aquando da primeira reunião do órgão consultivo no mandato.
“Essa comissão incluía pessoas de todas as sensibilidades e trabalhou na elaboração de uma proposta, que representou o consenso obtido no seio do Conselho Superior. O facto de os trabalhos se iniciarem mais tarde e, por circunstâncias várias, se terem prolongado para lá daquilo que seria desejável, levou a que terminassem em junho de 2023, já mais próximo das eleições, mas não tanto como em novembro”, referiu Miguel Brás da Cunha.
Único conselheiro englobado naquele grupo de trabalho em representação do movimento “Por um FC Porto maior, unido, insubmisso e eclético”, o advogado viu o seu discurso ser interrompido na Assembleia Geral, quando estava a expor a revisão estatutária proposta.
“O Conselho Superior não tinha competência para intervir na organização da Assembleia Geral e na condução dos trabalhos. Ou seja, não me parece correto responsabilizá-lo por algo que não passou por si. O Conselho Superior teve um trabalho relevante em prol dos interesses do clube e penso que há um reconhecimento disso pelos sócios”, considerou.
A hipotética adoção do voto eletrónico e por correspondência, a filiação sénior mínima de 15 anos, em vez dos atuais 10, para se concorrer à presidência ou o acesso ao direito de voto após dois anos ininterruptos como associado eram alterações em debate nos novos estatutos, que rendiam abril por junho como limite máximo para a realização de eleições.
O documento protegia a manutenção do capital social da SAD face à eventual entrada de novos investidores e dava mais abertura à realização de negócios entre os titulares dos órgãos sociais e o FC Porto, desde que resguardassem o “manifesto interesse do clube”.
“É de todo o interesse da próxima direção que olhe para aquele trabalho de uma maneira desapaixonada e veja que há ideias fundamentais para serem implementadas desde já”, vincou Luís Folhadela Rebelo, número dois da lista D, convicto de que o universo portista “saberá distinguir de quem foi a responsabilidade” pelos desacatos na Assembleia Geral.
Três associados estão suspensos pelo FC Porto, enquanto 12 pessoas foram detidas no âmbito da Operação Pretoriano, incluindo dois funcionários do clube e o líder da claque Super Dragões, Fernando Madureira, em prisão preventiva há praticamente três meses.