Pela primeira vez nos oitos anos que leva ao comando da Seleção Nacional, Fernando Santos assumiu algum desconforto com as palavras de Cristiano Ronaldo. Aquando da substituição no jogo com a Coreia do Sul (1-2), o avançado de 37 anos dirigiu algumas palavras menos amigáveis na direção do banco de suplentes, que foram captadas pela transmissão televisiva.
Na conferência de imprensa após o jogo, Fernando Santos desvalorizou o assunto, mas esta segunda-feira, na antevisão do duelo com a Suíça, o selecionador nacional confessou que viu as imagens e mostrou desagrado.
“Antes de mais, referir que quando acabou o jogo fui à entrevista rápido e segui direto para a conferência de imprensa. No campo não ouvi nada, ele estava muito longe e só o ouvi a discutir com o jogador da Coreia do Sul. Agora, já vi as imagens, não gostei, não gostei mesmo nada. A partir daí, este é um assunto que se resolve dentro de casa e está resolvido. Toda a gente está disponível. Agora é pensar no jogo de amanhã (terça-feira), e estão todos focados nele”, começou por dizer recusando falar numa possível saída do onze do jogador: “Os jogadores só vão saber quando chegarem ao balneário. Sempre foi assim desde que aqui cheguei e amanhã também vai ser. Em consciência vou meter a equipa que acho melhor para aquele jogo. Se acerto ou não, isso é outra coisa, mas o meu único pensamento desde que aqui cheguei, em 2014, é servir bem Portugal”.
E ainda dentro da temática Cristiano Ronaldo, Fernando Santos foi questionado sobre a informação avançada pela Marca que dava conta do acordo com o Al Nassr da Arábia Saudita.
“Nem sabia, mas é uma decisão dele, uma questão pessoal. Ele está totalmente focado no Campeonato do Mundo e em ajudar a equipa, quanto ao resto, não sei”, concluiu.
Atenção ao detalhe
Depois do primeiro lugar no Grupo H, Portugal vai agora medir forças com a Suíça (terça-feira, 19 horas), na busca por uma presença nos quartos de final do Mundial-2022. O adversário é bem conhecido da Seleção Nacional e Fernando Santos deixou elogio.
“Esta é uma equipa da Suíça que joga junta há muito tempo. Nós já os defrontámos e são confrontos duras. São muito organizados em campo, sabem bem o que querem do jogo. Ainda no jogo com a Sérvia (terceira jornada do Grupo G) estavam a perder (1-2) e a equipa nunca se desorientou, encarou a partida sempre com o mesmo foco. Não acho que seja uma equipa defensiva em nada, mesmo contra o Brasil não vi assim. Em relação aos duelos da Liga das Nações o que pode ter mudado é a inversão do triangulo do meio-campo com o Sow a jogar um bocado mais à frente. De resto, os laterais sobem bem, é uma equipa sistematicamente tenta sair em posse, até porque o Sommer (guarda-redes) joga bem com os pés. O jogo com a Coreia foi mais vertiginoso, com esta equipa acho que não vai ser. Analisámos isso, temos feito coisas muito boas neste Mundial e num ou noutro detalhe não temos estado bem e é importante erradicar isso que nos pode ajudar”, explicou.
E importante para as ambições portuguesas é a atenção ao detalhe. Algo que faltou na derrota com a Coreia do Sul.
“Eu revi o jogo e tive uma perceção um pouco diferente. Cheguei à conclusão que na primeira parte a equipa de Portugal até jogou bem. Criamos cinco ou seis oportunidades, os jogadores estiveram bem, e depois fomos penalizados um golo num canto. Na segunda parte não conseguimos estar tão assertivos, principalmente em termos ofensivos. Nestes três jogos que disputamos os detalhes marcaram a diferença, agora muito mais num jogo como este, em que temos de ganhar”, atirou.
Intacta está a ambição lusa.
“É um jogo para o qual estamos totalmente focados e acreditamos que é possível. Queremos continuar aqui. Não importa nada se somos favoritos ou não, isso é no papel, o importante é o que fazemos no jogo. Quem joga por Portugal tem de ganhar todos os jogos e acho que é bom sentir essa adrenalina. Queremos muito e temos de fazer tudo para isso”, asseverou.
Fernando Santos falou ainda da evolução de Portugal nas grandes competições e da importância de chegar aos quartos de final do Mundial-2022 pela terceira vez, depois de 1966 e 2006.
"Acho que depois 1966 houve um hiato muito longo em que apesar da enorme qualidade dos jogadores portugueses. Nos últimos 20 anos Portugal esteve sempre presente na fase final. Já chegou duas vezes à final (Europeus de 2004 e 2016) e esteve uma vez nas meias-finais no Mundial da Alemanha. Mas isto é história do futebol, apartir deste momento cada passo que se dá vai-se encurtando e o grau de dificuldade vai subindo. O que temos de fazer é continuar assim, porque sempre que estivermos presente temos uma maior probabilidade de uma meia-final, de chegar a uma final e ganhar a final", disse.
As dificuldades de Rafael Leão
Melhor jogador da última edição da Serie A, Rafael Leão tem sentido dificuldades para se impor na Seleção Nacional. O avançado de 23 anos do AC Milan foi utilizado nos três jogos de Portugal no Mundial-2022, mas em todos eles saiu do banco de suplentes no segundo tempo.
Questionado sobre o jogador, Fernando Santos deixou elogios e explicou as dificuldades que o atleta procura superar na equipa das quinas.
"É um jogador de eleição, tem um potencial enorme. Acho que vai ter uma carreira fortíssima, mas sente as dificuldades normais de quem joga num clube em que tem uma liberdade, que não equilibra tanto o jogo nos momentos defensivos. Na minha equipa joga de pé para pé, envolvido com os outros, e está a setnir mais dificuldade. Ele tem feito um esforço imenso e isso não retira em nada o grande talento e confiança que eu tenho nele", concluiu.