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João Carlos Pereira: "Queremos ver muitos jovens pela cidade com a camisola do Marinhense"

João Carlos Pereira tomou posse como presidente do Marinhense
João Carlos Pereira tomou posse como presidente do MarinhenseArquivo Pessoal/Flashscore
João Carlos Pereira assumiu, na passada segunda-feira, a presidência do Atlético Clube Marinhense. Depois de passagens como jogador e treinador, eis que chegou a hora de abrir a porta do gabinete e aplicar todas as ideias que tem em mente para o futuro do emblema da Marinha Grande. Algumas novidades foram anunciadas nesta entrevista exclusiva ao Flashscore.

As primeiras memórias de infância têm um impacto muito relevante naquilo que pode ser o futuro. De tenra idade começam a definir-se os gostos e os caminhos, muitas vezes por influência de quem é mais próximo.

O futebol é um "vírus" antigo e que apaixona facilmente quem com ele se relaciona. Há 40 anos os tempos eram, efetivamente, outros mas a "paixão" também acontecia. E dizem que não há amor como o primeiro.

Marinha Grande. É nesta cidade portuguesa no distrito de Leiria, a pouco mais de 130 quilómetros da capital portuguesa, que encontramos o protagonista desta história: João Carlos Pereira. O adepto e sócio do Atlético Clube Marinhense, que teve passagens ainda como jogador e treinador pelo clube da "sua" cidade, decidiu que estava na hora de "arregaçar as mangas" e abraçar um novo desafio, mais de vinte anos depois da última ligação profissional ao clube. É ele o novo presidente do Marinhense para o biénio 2024-2026.

João Carlos Pereira tomou posse como novo presidente do AC Marinhense
João Carlos Pereira tomou posse como novo presidente do AC MarinhenseArquivo Pessoal/Opta by Stats Perform

De jogador a treinador do Marinhense

"Comecei a ouvir os relatos dos jogos do Marinhense antes ainda de ir ver os jogos com o meu pai. Lembro-me das enchentes no Campo da Portela. Havia uma grande envolvência entre o clube e a comunidade da Marinha Grande. Lembro-me de alguns dérbis contra a UD Leiria... Lembro-me de ir ver jogos ao Algarve, por exemplo", recorda João Carlos Pereira, em entrevista ao Flashscore.

Aos 11 anos ingressa na formação do Marinhense e foi aí que começou a relação com o futebol de "forma estruturada", até aos dias de hoje. Por lá passou as várias etapas de formação até ao futebol sénior, saindo para experienciar outras realidades, antes de voltar em 1994 para as últimas três épocas de uma carreira de jogador que chegou a passar pelos palcos da primeira divisão.

O passo seguinte não passava pelo desporto, julgava ele, e foi por isso que se formou em Relações Empresariais na Católica, para enveredar por outro tipo de carreira. Mas o "vírus" voltou a infetá-lo. O chamamento para assumir o comando técnico do Marinhense falou mais alto.

"Eu nunca me tinha imaginado como treinador, nem me tinha preparado para tal. Achava que não tinha perfil", introduz.

"Cheguei a declinar um convite para ser o responsável da formação, mas, um mês depois, quase que me empurraram para ser o treinador principal. O sr. José João estava doente e eu pensei que eram 2-3 meses até ele recuperar... E a verdade é que ainda aqui ando. A partir do momento em que abracei o projeto comecei a frequentar os cursos e desenvolvi um gosto tremendo. Já não me vejo fora do futebol", justifica.

João Carlos Pereira tomou posse para o biénio 2024-2026
João Carlos Pereira tomou posse para o biénio 2024-2026Atlético Clube Marinhense

Após três anos de enorme aprendizagem na Marinha Grande, o treinador seguiu viagem para outras paragens. Pombal, Coimbra, Madeira, Moreira de Cónegos, Farwaniya (Kuwait), Estoril, Lisboa, Aradippou (Chipre), Genebra (Suíça), Doha (Catar) e Zurique (Suíça). Sem nunca esquecer o "seu" Marinhense. E passados vinte e quatro anos dá-se o reencontro.

Aos 59 anos, João Carlos Pereira é desafiado para assumir a presidência do clube da Marinha Grande e não diz que "não". A experiência que traz consigo na bagagem e as ideias são os principais pilares para criar um projeto que seja um "exemplo".

"Se não encontro um desafio certo, porque não criar aqui?"

- Quando surge a ideia de avançar para a presidência do Marinhense?

- Nos últimos tempos tenho estado mais por casa e isso permitiu-se acompanhar mais os jogos e a vida do clube. Fui falando com várias pessoas e muitas iam lançando o desafio. A determinada altura, o Mário Fernandes anunciou publicamente que não se ia candidatar e percebi que não se vislumbrava ninguém para a sucessão.

Com a idade ficamos mais críticos e eu comecei a questionar o rumo dos clubes de futebol, em particular do Marinhense. Como treinador tive sempre dificuldade para encontrar projetos sólidos e com as condições ideias para desenvolver o meu trabalho. Nesta fase não estava a encontrar um clube com o projeto certo, então questionei-me: 'Se não encontro o desafio certo, porque não criar aqui?' É uma ideia que fui amadurecendo nos últimos dois meses.

- Qual a situação atual do clube?

- Nos últimos anos, durante os mandatos do Mário Fernandes, melhorou bastante as condições de trabalho no Campo da Portela, que a determinada altura estava em decadência, e a Câmara Municipal também foi criando condições para servir os clubes do concelho, nomeadamente a nível de instalações. Em termos competitivos o clube foi perdendo as vantagens competitivas que teve no passado. Hoje em dia o futebol também é visto de forma diferente, sendo uma indústria muito mais profissional, e o Marinhense ainda tem algumas práticas amadoras. As pessoas entregam-se de alma e coração a esta causa, mas têm uma vida pessoal e não são especialistas na área. Sempre deram o melhor de si e os clubes de futebol devem muito a pessoas como esta. Não é isso que está em causa. (...) A Marinha Grande tem um contexto industrial forte, mas passa período de menos pujança económica e isso afeta a vida financeira do clube.

João Carlos Pereira confiante para o novo desafio no Marinhense
João Carlos Pereira confiante para o novo desafio no MarinhenseArquivo Pessoal

- A reestruturação do clube é, portanto, um passo fundamental, não é verdade?

- Tenho uma visão clara para o clube. Gostava que fôssemos uma instituição moderna, digital e inovadora. Gostava que fôssemos reconhecidos como referência no desenvolvimento de futebolistas. Gostava que o clube fosse gerido de forma sustentada e pudessemos competir em campeonatos profissionais. E quero que seja um clube conectado com a comunidade.

- Muitos desafios pela frente...

- Esta é a nossa visão. Sem dúvida, temos um grande desafio pela frente. Apesar de o Marinhense não ter subido à Liga 3 por muito pouco, a verdade é que o clube não tem condições financeiras para dar esse passo, porque implica duplicar o orçamento e não temos condições para isso. Primeiro temos de criar condições e estrutura para que o clube possa começar a desenvolver o seu projeto desportivo. Queremos aumentar a capacidade de atrair e reter talento. Acreditamos que é algo que vai demorar algum tempo, mas vamos conseguir.

As pessoas costumam dizer que é preciso dinheiro. É verdade, sim, mas acho que mais do que ter dinheiro é preciso ter projeto, ideias e termos as pessoas certas a bordo. Assim vamos conseguir encontrar soluções para encontrar dinheiro e para desenvolver o projeto que temos em mente.

Os cinco pilares do projeto

- O que gostaria de trazer a médio/longo prazo para o Marinhense?

- Vamos desenvolver este projeto baseado em cinco pilares. Um: aproximação à comunidade. Queremos ser um clube com transparência e saúde financeira e fiscal, um clube sem tendência a fechar-se em si mesmo; dois: melhores infraestruturas. Queremos construir uma academia. É fundamental, mas para tal precisamos de desenvolver alguns passos primeiro; três: tranformação digital e gestão moderna; quatro: projeto global para todo o futebol do clube; e cinco: desenvolvimento de jogadores. Queremos ter impacto no desenvolvimento de homens. Queremos um clube com propósito social.

Vamos criar o provedor de sócios, a newsletter, parceirias com empresas, órgãos de comunicação social e queremos desenvolver relações de proximidade. Queremos criar uma metodologia inovadora centrada no jogador, mas também no treinador. Quem sabe se um dos nossos treinadores não pode chegar um dia à Liga.

- Noto um entusiasmo muito grande.

- O clube tem de abraçar este projeto e desafio. Temos de assentar as nossas decisões nos valores do clube e não olhar para trás. Temos de rejuvenescer a nossa massa adepta e para isso temos de aproximar-nos do que são as necessidades. Queremos ir para os campeonatos profissionais e isso obriga-nos a ter ambição. Mas queremos fazer isto de forma sustentada.

- Por tudo o que já viveu no clube, é difícil manter de lado a parte emocional?

- Quem anda no futebol e tem responsabilidades enquanto treinador e dirigente tem de despir o equipamento de adepto e enfrentar as coisas com racionalidade. As nossas decisões têm de ser baseadas em evidências e dados factuais, nunca perdendo o norte e sabendo o destino que pretendemos. 

João Carlos Pereira muito entusiasmado para a nova etapa no Marinhense
João Carlos Pereira muito entusiasmado para a nova etapa no MarinhenseArquivo Pessoal

"Vai ser uma aventura entusiasmante"

- Tomou posse na passada segunda-feira, dia 3 de junho. Quais os primeiros dossiês a abraçar?

- Já começamos a desenvolver os pilares do nosso plano individual e constituímos uma equipa que ajudará a implementar as coisas. Aqui na Marinha Grande há pessoas com muito talento e capacidade. Tenho a certeza absoluta que reuni pessoas altamente qualificadas e que vão ajudar-nos, juntamente com os nossos adeptos, a levar isto para a frente. 

Numa fase inicial temos de tomar conta da situação real do clube. Será necessário fazer um diagnóstico a todas as áreas para depois arrancarmos com o nosso plano. É arregaçar as mangas e pôr as mãos à obra.

- Por último: que mensagem gostaria de deixar aos adeptos do Marinhense?

- As pessoas têm respondido de forma muito positiva. Queremos envolver mais as pessoas no nosso dia-a-dia. Gostávamos de em pouco tempo ver muitos jovens com a camisola do Marinenhnse pela cidade. Vamos fazer o que estiver ao nosso alcance para estarmos na boca das pessoas e para que elas sintam orgulho em transportar o símbolo do Marinhense ao peito.

Vai ser uma aventura entusiasmante. Vêm aí tempos bons, mas para chegar ao mel é preciso aceitar a picada das abelhas. Temos de enfrentar este tipo de desafios e obstáculos, mas também oportunidades.