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Um Amor(a) de passado, presente e futuro: "Nunca podemos perder a nossa identidade"

Rodrigo Coimbra
Adeptos no Estádio da Medideira
Adeptos no Estádio da MedideiraAmora FC - Futebol, SAD
O passado diz-nos aquilo que fomos. O presente aquilo que somos. E o futuro aquilo que queremos ser. Com o Cristo Rei no horizonte, na margem sul do Rio Tejo, há um clube com um passado rico que procura encontrar no presente um caminho para um futuro igualmente recheado de momentos de glória entre a elite do futebol português.

O Amora Futebol Clube cresceu da vontade e trabalho das pessoas. Cresceu, agigantou-se e caiu. Passaram 29 anos desde a última presença na Liga 2, 41 desde a última participação no principal escalão e tem vivido numa montanha russa de emoções ao longo das últimas décadas. Após momentos de alguma instabilidade diretiva e de rumo, há quatro anos encontrou um pouco de tranquilidade pelas mãos do espanhol José Maria Gallego, que também é conselheiro do Real Betis, da La Liga.

Uma figura que não gosta de holofotes. Uma pessoa que se diferencia do tradicional perfil do investidor estrangeiro. O resultado é importante, sim, mas o "processo" e a "história" são pilares essenciais nesta relação.

A forma recente do Amora
A forma recente do AmoraFlashscore

A SAD do Amora liderada por José Maria Gallego reformulou completamente o clube, com importantes desenvolvimentos nas infraestruturas, sendo o caso mais evidente as melhorias significativas no Estádio da Medideira, e olhou para a sua formação como o ingrediente para fomentar o ADN Amora. Sem nunca esquecer a importância de uma forte ligação aos adeptos.

"A minha entrada coincidiu com a primeira época do nosso presidente aqui, em 2021/22. Nesse ano, ele não teve muito tempo para implementar as suas ideias, mas um dos grandes objetivos era valorizar a formação do Amora e da região de Setúbal. Estamos numa condição geográfica privilegiada, com proximidade às academias de Benfica e Sporting. Ele acreditava que podíamos ser um pólo interessante para potenciar jogadores para a elite", introduz Pedro Paiva, diretor desportivo do Amora, em conversa com o Flashscore.

"Quando o nosso presidente comprou a SAD, tínhamos um estádio abandonado. Hoje, está completamente diferente. Tem mais uma bancada, uma cara nova e, a nível de infraestruturas, temos escritórios renovados. Pouco a pouco, o nosso presidente tem se preocupado em tornar este clube um clube de futuro. Continuamos a trabalhar todos os anos para dar conforto e melhores condições à velhinha Medideira", acrescenta.

Amora compete atualmente no Campeonato de Portugal
Amora compete atualmente no Campeonato de PortugalAmora FC - Futebol, SAD

"A relação com o clube é fundamental"

A memória mais recente aponta-nos para uma série de maus exemplos na relação entre clubes e SAD's em Portugal. A desconfiança e o medo invade muitas vezes a mente do adpeto que olha para o seu clube de futebol como um dos seus bens mais preciosos. O futebol tem esse efeito.

Pedro Paiva chegou ao Amora para abraçar o desafio de assumir a coordenação da formação do Amora (clube) e aceitou, mais recentemente, a proposta para integrar a estrutura "reduzida" da SAD.

"A relação com o clube é fundamental. É lá que encontramos a sua identidade e um clube sem identidade não tem vida. Nem todos os jogadores vão chegar a profissionais, mas, se fizermos o nosso trabalho, muitos deles vão ser adeptos do Amora. E, se um clube quiser mística, identidade e história, tem de valorizar isso. A questão entre clube e SAD ainda é um tabu em Portugal, mas as pessoas precisam mudar a mentalidade. É um trabalho conjunto", destaca.

E é aqui que entra a matriz formativa. Identificar jovens talento dentro e fora de portas para o potenciar e moldar com o ADN Amora é um dos desafios e propósitos do projeto. E os exemplos de sucesso são muitos: Bruno Langa (Almería), Alexsandro Ribeiro (Lille), Hélio Varela (Gent), Geny Catamo (Sporting), Guilherme Fernandes (Betis), Diogo Ferreira (Portimonense), Beni Souza (Benfica), Rúben Rendeiro (Beroe) e João Casimiro (Portimonense) são apenas alguns exemplos.

"Quem trabalha aqui sabe que trabalha para ganhar, mas também para desenvolver e valorizar. É esse o projeto que apresentamos aos treinadores. Não basta ganhar ao fim de semana, temos de vencer, olhar para a formação e valorizar jogadores. Este ano já estreámos dois jovens da formação, e há mais a caminho", assinala o diretor.

"Também nunca podemos perder essa identidade de clube vencedor e ambicioso. Essa questão permite tornar o clube mais sustentável. Ou seja, queremos ganhar e subir já nesta época, mas também queremos que os mais (jogadores) velhos ajudem e apoiem o crescimento dos nossos jovens", completa.

Pedro Paiva, diretor desportivo do Amora
Pedro Paiva, diretor desportivo do AmoraAmora FC - Futebol, SAD

"Objetivo continua a ser estabilizar o Amora na Liga 2"

O passado diz-nos que o Amora já andou nas ligas profissionais. O presente mostra-nos que a realidade atual é o Campeonato de Portugal (quarto escalão). E o futuro, bem... O futuro ainda não é conhecido, mas a ambição é clara.

"O José Maria tem uma visão diferente, fez vida e carreira em outros setores de negócio e traz isso para o futebol. Ele educa-nos a pensar de forma diferente, a não aceitarmos que somos apenas um clube de Campeonato de Portugal nesse aspeto. É uma pessoa super interessada, não está aqui todos os dias, é verdade, mas fala comigo diariamente. Tem muito carinho pelo clube, acompanha tudo, mesmo o que não está diretamente ligado à SAD. É alguém que percebeu que só fazia sentido estar aqui se, de certa forma, compreendesse o clube e sua história", defende Pedro Paiva ao Flashscore.

"Mesmo com a descida (n.d.r. o Amora desceu da Liga 3 para o CP na última temporada), isso não abalou a sua ambição de tornar o Amora mais organizado e profissional. Ele continua com o objetivo de estabilizar o Amora na Liga 2", sustenta.

Os próximos jogos do Amora
Os próximos jogos do AmoraFlashscore

Pedro Paiva tem muito claro qual é o caminho. A identidade será sempre o ponto mais importante para a construção de uma história que se espera de final feliz.

"Cresci na Margem Sul, não sou sócio do Amora desde que nasci, mas desde miúdo que venho ver os jogos. A origem do Amora sempre esteve ligada às pessoas. O estádio foi construído pelos adeptos. O Amora tem de ser um clube de Liga 2, e temos de conseguir empurrar o clube até lá. As pessoas têm de olhar para a história não só com orgulho, mas também lembrar que foram sócios que levantaram o clube, e os mais novos têm de honrar os antepassados", atira. 

"Aqui, temos de garantir que há um balneário com identidade do Amora. Temos 10 jogadores com passado na formação do clube. A nossa realidade é o quarto escalão, e temos de sair daqui o mais rápido possível. Temos muitos jogadores de qualidade na formação, e precisamos continuar a projetá-los para a elite do futebol português", remata.

Acompanhe o Amora no Flashscore

Reportagem de Rodrigo Coimbra
Reportagem de Rodrigo CoimbraFlashscore