Um Amor(a) de passado, presente e futuro: "Nunca podemos perder a nossa identidade"
O Amora Futebol Clube cresceu da vontade e trabalho das pessoas. Cresceu, agigantou-se e caiu. Passaram 29 anos desde a última presença na Liga 2, 41 desde a última participação no principal escalão e tem vivido numa montanha russa de emoções ao longo das últimas décadas. Após momentos de alguma instabilidade diretiva e de rumo, há quatro anos encontrou um pouco de tranquilidade pelas mãos do espanhol José Maria Gallego, que também é conselheiro do Real Betis, da La Liga.
Uma figura que não gosta de holofotes. Uma pessoa que se diferencia do tradicional perfil do investidor estrangeiro. O resultado é importante, sim, mas o "processo" e a "história" são pilares essenciais nesta relação.
A SAD do Amora liderada por José Maria Gallego reformulou completamente o clube, com importantes desenvolvimentos nas infraestruturas, sendo o caso mais evidente as melhorias significativas no Estádio da Medideira, e olhou para a sua formação como o ingrediente para fomentar o ADN Amora. Sem nunca esquecer a importância de uma forte ligação aos adeptos.
"A minha entrada coincidiu com a primeira época do nosso presidente aqui, em 2021/22. Nesse ano, ele não teve muito tempo para implementar as suas ideias, mas um dos grandes objetivos era valorizar a formação do Amora e da região de Setúbal. Estamos numa condição geográfica privilegiada, com proximidade às academias de Benfica e Sporting. Ele acreditava que podíamos ser um pólo interessante para potenciar jogadores para a elite", introduz Pedro Paiva, diretor desportivo do Amora, em conversa com o Flashscore.
"Quando o nosso presidente comprou a SAD, tínhamos um estádio abandonado. Hoje, está completamente diferente. Tem mais uma bancada, uma cara nova e, a nível de infraestruturas, temos escritórios renovados. Pouco a pouco, o nosso presidente tem se preocupado em tornar este clube um clube de futuro. Continuamos a trabalhar todos os anos para dar conforto e melhores condições à velhinha Medideira", acrescenta.
"A relação com o clube é fundamental"
A memória mais recente aponta-nos para uma série de maus exemplos na relação entre clubes e SAD's em Portugal. A desconfiança e o medo invade muitas vezes a mente do adpeto que olha para o seu clube de futebol como um dos seus bens mais preciosos. O futebol tem esse efeito.
Pedro Paiva chegou ao Amora para abraçar o desafio de assumir a coordenação da formação do Amora (clube) e aceitou, mais recentemente, a proposta para integrar a estrutura "reduzida" da SAD.
"A relação com o clube é fundamental. É lá que encontramos a sua identidade e um clube sem identidade não tem vida. Nem todos os jogadores vão chegar a profissionais, mas, se fizermos o nosso trabalho, muitos deles vão ser adeptos do Amora. E, se um clube quiser mística, identidade e história, tem de valorizar isso. A questão entre clube e SAD ainda é um tabu em Portugal, mas as pessoas precisam mudar a mentalidade. É um trabalho conjunto", destaca.
E é aqui que entra a matriz formativa. Identificar jovens talento dentro e fora de portas para o potenciar e moldar com o ADN Amora é um dos desafios e propósitos do projeto. E os exemplos de sucesso são muitos: Bruno Langa (Almería), Alexsandro Ribeiro (Lille), Hélio Varela (Gent), Geny Catamo (Sporting), Guilherme Fernandes (Betis), Diogo Ferreira (Portimonense), Beni Souza (Benfica), Rúben Rendeiro (Beroe) e João Casimiro (Portimonense) são apenas alguns exemplos.
"Quem trabalha aqui sabe que trabalha para ganhar, mas também para desenvolver e valorizar. É esse o projeto que apresentamos aos treinadores. Não basta ganhar ao fim de semana, temos de vencer, olhar para a formação e valorizar jogadores. Este ano já estreámos dois jovens da formação, e há mais a caminho", assinala o diretor.
"Também nunca podemos perder essa identidade de clube vencedor e ambicioso. Essa questão permite tornar o clube mais sustentável. Ou seja, queremos ganhar e subir já nesta época, mas também queremos que os mais (jogadores) velhos ajudem e apoiem o crescimento dos nossos jovens", completa.
"Objetivo continua a ser estabilizar o Amora na Liga 2"
O passado diz-nos que o Amora já andou nas ligas profissionais. O presente mostra-nos que a realidade atual é o Campeonato de Portugal (quarto escalão). E o futuro, bem... O futuro ainda não é conhecido, mas a ambição é clara.
"O José Maria tem uma visão diferente, fez vida e carreira em outros setores de negócio e traz isso para o futebol. Ele educa-nos a pensar de forma diferente, a não aceitarmos que somos apenas um clube de Campeonato de Portugal nesse aspeto. É uma pessoa super interessada, não está aqui todos os dias, é verdade, mas fala comigo diariamente. Tem muito carinho pelo clube, acompanha tudo, mesmo o que não está diretamente ligado à SAD. É alguém que percebeu que só fazia sentido estar aqui se, de certa forma, compreendesse o clube e sua história", defende Pedro Paiva ao Flashscore.
"Mesmo com a descida (n.d.r. o Amora desceu da Liga 3 para o CP na última temporada), isso não abalou a sua ambição de tornar o Amora mais organizado e profissional. Ele continua com o objetivo de estabilizar o Amora na Liga 2", sustenta.
Pedro Paiva tem muito claro qual é o caminho. A identidade será sempre o ponto mais importante para a construção de uma história que se espera de final feliz.
"Cresci na Margem Sul, não sou sócio do Amora desde que nasci, mas desde miúdo que venho ver os jogos. A origem do Amora sempre esteve ligada às pessoas. O estádio foi construído pelos adeptos. O Amora tem de ser um clube de Liga 2, e temos de conseguir empurrar o clube até lá. As pessoas têm de olhar para a história não só com orgulho, mas também lembrar que foram sócios que levantaram o clube, e os mais novos têm de honrar os antepassados", atira.
"Aqui, temos de garantir que há um balneário com identidade do Amora. Temos 10 jogadores com passado na formação do clube. A nossa realidade é o quarto escalão, e temos de sair daqui o mais rápido possível. Temos muitos jogadores de qualidade na formação, e precisamos continuar a projetá-los para a elite do futebol português", remata.