A jogadora de 37 anos confirmou que esta será, "sem dúvida", a sua última participação no Mundial, em entrevista ao canal do YouTube CazeTV, pouco antes de a treinadora Pia Sundhage anunciar a lista de convocadas.
Mas as hipóteses do Brasil despedir-se da histórica jogadora com o primeiro título mundial parecem pequenas, com Marta a lutar contra uma lesão no final da carreira e a equipa numa encruzilhada geracional.
"É normal que eu não seja mais a Marta de há 20 anos, mas fisicamente sinto-me bem e mentalmente estou ainda melhor", afirmou.
Marta, no entanto, passou uma vida inteira a superar obstáculos, desde uma infância de pobreza até ao sexismo e, mais recentemente, a pior lesão da sua carreira.
A melhor jogadora de todos os tempos esteve muito perto da glória internacional com a seleção brasileira, chegando à final do Mundial em 2007 e conquistando medalhas de prata nos Jogos Olímpicos de 2004 e 2008.
Marta é a melhor marcadora de todos os tempos em Mundiais - masculinos ou femininos - com 17 golos em cinco edições, mais um do que o alemão Miroslav Klose.
Agora, ela terá a possibilidade de aumentar esse seu recorde.
Ausência de quase um ano
Marta não contará, neste Mundial, com duas das suas companheiras mais experientes.
Formiga retirou-se da seleção em 2021, após sete Mundiais, enquanto a avançada Cristiane, de 38 anos, não foi convocada.
A própria Marta passou quase um ano afastada dos relvados com uma grave lesão no joelho.
A tricampeã da Copa América (2003, 2010 e 2018) não participou na competição no ano passado, quando o Brasil defendeu com sucesso o seu título.
Voltou apenas em fevereiro, na vitória do Brasil por 1-0 sobre o Japão, na Taça SheBelieves.
"É a primeira vez que fico tanto tempo sem jogar. Sofri muito", disse Marta após o regresso à competição.
Marta pode não ter vencido três Mundiais, como Pelé, mas é uma das jogadoras mais condecoradas da história, tendo sido eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo pela FIFA. Porém, a sua maior conquista foi escapar à miséria de uma infância difícil em Dois Riachos, no estado de Alagoas, no árido nordeste do Brasil.
Embaixadora da ONU para a igualdade de género, é uma inspiração para muitas mulheres brasileiras que gostam de jogar futebol, mas que são muitas vezes estigmatizadas num país onde o machismo ainda impera.
Uma carreira brilhante
Marta Vieira da Silva perseguiu os seus sonhos durante toda a sua vida, começando por tentar acompanhar os seus irmãos quando estes jogavam. A vida em casa era difícil - os pais separaram-se antes de ter um ano de idade e a mãe ficou sozinha com quatro filhos.
A família não tinha dinheiro para comprar material escolar, pelo que Marta só começou a estudar aos nove anos. Jogou nos campeonatos escolares até ao dia em que um treinador se recusou a deixar a sua equipa competir se ela não desistisse.
Nessa altura, um olheiro local levoua para o Rio de Janeiro para fazer testes em clubes femininos nascentes. Aos 14 anos, Marta nunca tinha saído do seu estado natal.
Impressionou num teste e assinou contrato com a equipa juvenil do Vasco da Gama. Sissi, considerada a melhor jogadora do Brasil, estava na equipa principal do clube e lembra-se da primeira vez em que viu Marta.
"A capacidade técnica e a velocidade explosiva dela eram incomparáveis. Todo o mundo nasce com um dom, e esse é o dela", disse Sissi à AFP.
Em 2003, Marta estava na equipa do Brasil para o Campeonato do Mundo, com apenas 17 anos.
Meses depois, foi contratada pelo clube sueco Umea, com o qual conquistou a Taça UEFA Feminina - antecessora da atual Liga dos Campeões.
Naquele ano, foi nomeada pela primeira vez para o prémio de melhor jogadora do mundo, conquistando cinco títulos consecutivos, de 2006 a 2010.
Depois mudou-se para os Estados Unidos, onde atualmente joga pelo Orlando Pride. Marcou um recorde de 122 golos pelo Brasil - superando Pelé e Neymar, que estão empatados no recorde masculino, com 77 golos cada.
A conquista de um título mundial completaria o seu currículo brilhante.