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Mundial feminino: Argentinas querem sair da sombra de Messi e da seleção masculina

Julieta Cruz depois de vencer o campeonato feminino pelo Boca Juniores
Julieta Cruz depois de vencer o campeonato feminino pelo Boca JunioresReuters
Jogadoras, adeptos e árbitros argentinos tentarão sair da sombra de Lionel Messi e da seleção masculina, campeã do Mundo no Catar, quando entrarem em campo no Munduial de Futebol Feminino, na Austrália e na Nova Zelândia, este mês.

A Argentina, onde o futebol é quase uma religião e os adeptos ostentam tatuagens com imagens de Messi ou do falecido ídolo Diego Maradona, está a aquecer o jogo feminino, que tem crescido rapidamente desde que se tornou profissional em 2019.

Embora não sejam favoritas ao título, as argentinas esperam gerar uma onda de entusiasmo semelhante à que saudou a conquista do título masculino em dezembro do ano passado e transformar jogadoras como Estefania Banini, Yamila Rodriguez e Laurina Oliveros em nomes conhecidos.

"A única diferença é o género, mas fazemos a mesma coisa", afirmou Laurina Oliveros, guarda-redes do Boca Juniors, que viajará para o Campeonato do Mundo mas não jogará devido a lesão.

Oliveros disse que ela e outras jogadoras querem o mesmo respeito e condições de trabalho que os atletas masculinos, mas também estão a conquistar o seu próprio espaço dentro do desporto.

"Temos o nosso próprio estilo de jogo, a nossa própria dinâmica", disse Oliveros.

"Entendemos o jogo de forma diferente e queremos jogá-lo de forma diferente", acrescentou a guarda-redes.

Laurina Oliveros segura um prémio por ser a melhor guarda-redes do torneio depois de vencer a final do campeonato de futebol feminino
Laurina Oliveros segura um prémio por ser a melhor guarda-redes do torneio depois de vencer a final do campeonato de futebol femininoReuters

Espera-se que o nono Campeonato do Mundo Feminino, que começa a 20 de julho, atraia a maior audiência televisiva da história do futebol feminino e a FIFA pagará 30.000 dólares a cada jogadora participante.

As jogadoras, os adeptos e os árbitros estão a ganhar destaque, como nunca antes tiveram, alcançando maior visibilidade nas redes de televisão e atraindo multidões maiores, conseguindo mesmo - por vezes - jogar nos mesmos estádios que os homens.

Laura Fortunato, árbitra argentina de 38 anos, que está entre as seis mulheres latino-americanas que apitam no Mundial, lembrou que havia apenas dez árbitras na Argentina quando começou a apitar, em comparação com as 50 atuais.

Nos seus primeiros dias, ter uma árbitra era um choque para os jogadores.

"De como era quando eu comecei até agora, a situação avançou muito. Antes, chegávamos ao campo e eles olhavam para ver onde vinha o árbitro, e nós dizíamos-lhes: 'Olá, aqui estou eu'", lembra a árbitra.

Torcedores do Boca Juniors aplaudem e agitam bandeiras durante partida de futebol feminino contra o Gimnasia La Plata
Torcedores do Boca Juniors aplaudem e agitam bandeiras durante partida de futebol feminino contra o Gimnasia La PlataReuters

Na Argentina, os grandes clubes locais nem sempre abrem as portas dos seus estádios para os jogos de futebol feminino, que são disputados em locais menores.

Mesmo assim, as adeptas dizem que cada vez mais mulheres estão a comparecer em estádios como o La Bombonera, do Boca Juniors, com capacidade para 54 mil pessoas, para torcer pelos seus ídolos em espaços tradicionalmente masculinos.

"Sentes-te em pé de igualdade (com os homens), és mais uma adepta", disse Martina Borgatello, 31 anos, adepta do Boca.

Jacinta D'Andreiz, também ela adepta do Boca e ativista feminista, disse que as mulheres sempre acompanharam o futebol, mas agora estão a ganhar mais reconhecimento.

"Esperemos que um dia nós, mulheres, sejamos as mesmas donas das bancadas, do desporto e das decisões que os homens", disse D'Andreiz.

Torcedores do Boca Juniors comparecem para apoiar a equipe feminina
Torcedores do Boca Juniors comparecem para apoiar a equipe femininaReuters

Diferenças salariais entre homens e mulheres

Apesar do progresso, ainda há muitas diferenças entre o desporto masculino e o feminino na Argentina, especialmente quando se trata de finanças.

Oliveros disse que a diferença salarial entre homens e mulheres ainda é grande, embora esteja a diminuir.

"Pouco a pouco está a melhorar. Ano após ano, os salários melhoram, os clubes contribuem um pouco mais, mas ainda estamos longe", disse Oliveros.

Matildas fala com a imprensa
Reuters

A Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) reconhece a disparidade entre o futebol masculino e o feminino e disse recentemente que estava a tomar medidas para reduzi-la.

"A CONMEBOL abordou o desequilíbrio financeiro entre o futebol feminino e o masculino, criando competições, investindo em infra-estruturas, encontrando patrocinadores e acordos comerciais, além de promover as seleções femininas", disse a organização.

Animados com a classificação da Argentina para o quarta Mundial feminino, os adeptos esperam que o avanço para a fase a eliminar gere mais apoio ao desporto.

As argentinas terão muito trabalho pela frente, num grupo que também inclui Itália, Suécia e África do Sul, mas Borgatello acredita que a simples presença da Albiceleste no torneio já é um feito, por si próprio.

"Um jogador masculino é diferente. Você diz: 'ele vai conseguir, já que tem talento, ele vai conseguir'. No futebol feminino, tudo é mais difícil. Por isso, vê-las ali é um motivo de orgulho", assumiu.

A Argentina inicia a sua campanha no Campeonato do Mundo contra a Itália, a 24 de julho.