Análise: Portugal não perdia no arranque de um Europeu sub-21 desde... 2006
Recorde as principais incidências da partida
Entrada com o pé esquerdo. Foi desta forma que o Flashscore classificou a tarde de má memória para os jovens portugueses, depois de terem sofrido dois golos nos dois primeiros remates do adversário, que resultou numa derrota no primeiro jogo da fase final do Euro-2023, algo que não acontecia para a equipa das quinas desde o Euro-2006 (cinco edições).
Ou seja, há 17 anos que a seleção de esperanças não entrava numa fase final de um Campeonato da Europa com o sabor amargo da derrota. Na altura, a equipa de João Moutinho, Ricardo Quaresma, Nani e companhia sucumbiu aos pés da França (1-0), de Yoann Gourcuff, Lassana Diarra e Mandanda. Para infelicidade lusa, agora, foi a vez da equipa de João Neves, Pedro Neto, Francisco Conceição, por exemplo, escrever o nome no livro de registos que ninguém quer.
"Foi um jogo ingrato para nós, o resultado não traduz o que se passou. Mas a alta competição é assim. Digo muitas vezes: candidatos e favoritos provam-se dentro de campo", admitiu o selecionador Rui Jorge, após o final do encontro.
Finalista vencido em 2015 e 2021, Rui Jorge ainda procura a glória europeia pelos sub-21, numa caminhada que iniciou junto da Federação Portuguesa de Futebol em 2011. Pelas suas mãos já passaram inúmeros talentos, alguns deles já presenças destacadas na seleção principal de Portugal, e qualidade também é algo que não falta a esta nova geração.
"Quando não estamos ao nível que temos de estar, podemos ser penalizados. Hoje (quarta-feira) aconteceu isso", advertiu.
Soluções que não se esgotam
Apesar da ausência de vulto de Fábio Vieira, que saiu da lista à última da hora devido a um problema físico, e da presença de outros nomes selecionáveis no escalão acima, como são os casos de Gonçalo Inácio, António Silva, Vitinha e Gonçalo Ramos, Rui Jorge tem à sua disposição um leque forte de opções, e não é por falta de qualidade que se pode justificar a derrota perante a Geórgia.
Quando falamos sobre o escalão sub-21, última porta de entrada para a elite das seleções nacionais, a multiplicidade de soluções é excelente para o futuro, neste caso para o futuro da equipa das quinas, mas pode ser um pau de dois bicos para o selecionador numa competição tão curta.
A concorrência que se espera sadia entre os jogadores é fundamental para o aumento da exigência e incremento dos padrões qualitativos, no entanto obriga a escolhas. Uns vão jogar mais, outros menos, e por vezes a escolha nem tem por base a tal questão da qualidade, mais o entrosamento entre as peças. Mas também convém não exagerar nesse entrosamento. Como podemos ver na imagem abaixo, Pedro Neto e Afonso Sousa ocuparam o mesmo espaço - apesar deste último ter saído ao intervalo - e acabaram por simplificar a tarefa defensiva dos georgianos.
E é sobretudo aí, no meio-campo, que as soluções parecem inesgotáveis. Houve Tiago Dantas (PAOK), João Neves (Benfica), André Almeida (Valência) e Afonso Sousa (Lech) como titulares no primeiro jogo, todos eles a competir ao mais alto nível, mas há ainda Samuel Costa (Almería), Paulo Bernardo (Paços Ferreira) e Vasco Sousa (FC Porto B).
Esquecendo a prestação de má memória de Tomás Araújo, que ficou muito mal na fotografia dos golos da Geórgia, além de ter sido expulso, aos 76 minutos, o meio-campo português, de onde se espera que saia a criatividade, esteve longe da perfeição.
André Almeida foi dos mais inconformados. O médio do Valência criou cinco oportunidades de golo, mas foram visíveis algumas dificuldades na ligação com os colegas de setor - Dantas, Neves e, sobretudo, Afonso Sousa não ajudaram. O camisola 10 até protagonizou um dos primeiros remates à baliza de Kutaladze, mas perdeu gás e foi um dos dois sacrificados ao intervalo. Francisco Conceição entrou e entrou muito bem.
No ataque, Fábio Silva (PSV), por exemplo, nem sequer foi utilizado frente à Geórgia. Vitinha foi o escolhido para titular e, como se pode ver pela imagem (acima), esteve muito afastado do jogo. Uma das (grandes) desilusões da tarde. O ex-SC Braga é um avançado muito forte fisicamente e explosivo, no entanto parece marcado pelo parco rendimento em França. De facto, Rui Jorge retirou-o ao intervalo para lançar Henrique Araújo que trouxe mais presença dentro da grande área.
Também Leonardo Lelo e André Amaro, duas das grandes revelações da última edição da Liga Portugal, viram tudo a partir do banco. Se Lelo tem a tarefa dificultada por um Nuno Tavares que teve uma prestação positiva no primeiro jogo, André Amaro deve mesmo merecer a confiança para ocupar o lugar do castigado Tomás Araújo no eixo defensivo.
Países Baixos e Bélgica
No outro encontro do grupo A, Países Baixos e Bélgica empataram sem golos, um resultado positivo para Portugal. A seleção de esperanças vai defrontar os neerlandeses no próximo sábado, dia 24, e fecha a fase de grupos contra os diabos vermelhos na próxima terça-feira, dia 27.
Dois encontros teoricamente mais complicados para Portugal do que o duelo com a Geórgia, mas já se percebeu que a teoria de pouco vale quando não se consegue marcar qualquer golo em campo.