Exclusivo com Mónica Jorge: "Queremos mais e melhor para todo o futebol feminino português"
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Há mais de uma década no cargo de diretora da FPF, Mónica Jorge tem acompanhado bem de perto a evolução do feminino em Portugal e tem sido uma voz importante na luta pelo desenvolvimento da modalidade e, por consequência, na criação de mais e melhores condições para as atletas. "É sempre um trabalho pensado nelas e para elas, para que o palco seja, um dia, delas. E, neste momento, isso está a acontecer", assinala a dirigente, em declarações ao Flashscore.
Um desenvolvimento sólido e irreversível de Federação, associações, clubes e demais agentes desportivos, que permite encarar o futuro de Portugal com muita "responsabilidade", mas também muita "confiança". E tudo isso está refletido num prémio individual, que tem muito de coletivo, defende Mónica Jorge: o seu nome integra a lista das 50 personalidades mais influentes no futebol feminino.
"Tem sido um privilégio poder ajudar as jogadoras"
- Estamos muito perto do play-off que pode dar a Portugal a presença no Euro-2025. Como se está a viver internamente este momento de antecâmara do duplo compromisso diante a República Checa?
- Encaro sempre de forma positiva, acreditando que temos qualidade e capacidade para passar o play-off, mas respeitando o adversário, que também vai querer o mesmo: marcar presença numa fase final e lutar com tudo o que tem. No entanto, temos de acreditar no nosso processo, na nossa qualidade, nas nossas jogadoras e na ambição que demonstraram nos últimos play-offs. Este é um play-off muito importante para nós, para a instituição e para o futebol feminino português. Acreditamos que é possível, apesar das dificuldades. É uma ansiedade acompanhada de um grande compromisso, sustentada pela nossa capacidade de trabalho e pela identidade que nos une nestes momentos difíceis.
- O primeiro jogo será disputado no Estádio do Dragão (dia 29 de novembro, às 19:45) e as últimas notícias apontam para a possibilidade de um recorde histórico de assistência no feminino. Acredito que esse apoio do público será muito importante para as jogadoras.
- É sempre um ambiente muito motivador. Alegra-nos jogar em casa, com o carinho do público que nos apoia, mas este jogo será muito particular pelo estádio mítico que é e por todo o envolvimento que está a ser criado em torno deste encontro. Pode ser um jogo marcante no que diz respeito a recordes, mas, acima de tudo, estamos focados na vitória para que tudo se torne perfeito.
- A Mónica Jorge foi a primeira mulher a exercer funções como diretora de futebol na Federação Portuguesa de Futebol e conta já com mais de uma década de trabalho nesse papel. Entretanto, a Seleção marcou presença em dois últimos Europeus (2017 e 2021) e no último Mundial (2023). Como tem sido o seu trabalho e como tem sido assistir a este crescimento?
- Tem sido um privilégio poder ajudar as jogadoras. É sempre um trabalho pensado nelas e para elas, muitas vezes deixando de lado as nossas tarefas pessoais para nos dedicarmos ao projeto. Sempre a pensar nelas, para que o palco seja, um dia, delas. E, neste momento, isso está a acontecer. É um motivo de grande orgulho e uma enorme responsabilidade ter contribuído para lhes dar o melhor, sustentando o futuro que está por vir, que acreditamos que será melhor, mais capaz, com mais qualidade, maior capacidade e ainda mais praticantes. Tem sido um privilégio e uma honra servir o futebol feminino nos últimos anos.
- E como é que perspetiva esse futuro tendo por base tudo aquilo que evoluiu nos últimos anos?
- Pensar no futuro significa que isto não pode parar. Há muito por fazer, há muito a melhorar – processos competitivos a aperfeiçoar, outros patamares a alcançar no ranking mundial e europeu, enquanto as outras federações continuam a trabalhar e a evoluir de forma fantástica. Não podemos ficar para trás. Os próximos dez anos serão fundamentais para cumprir o objetivo do plano estratégico que a Federação apresentou até 2030: chegar aos mais altos patamares, estar entre as 5-6 melhores equipas do ranking europeu. Não será fácil, mas isso significará uma sustentabilidade muito maior.
Com essa sustentabilidade vem a qualidade. E com a qualidade, o aumento de raparigas e mulheres no futebol, seja como jogadoras, treinadoras, dirigentes ou até árbitras. Temos de incluir todas as agentes envolvidas no futebol feminino. Precisamos de mais mulheres no processo, pois isso trará mais qualidade a todos os níveis. Há muito por fazer nestes campos. Apesar de termos alcançado um patamar muito bom, temos de continuar a trabalhar.
- Muito trabalho pela frente...
- Queremos mais e melhor para todo o futebol feminino português e alcançar um nível onde o masculino já está. Isso exige trabalho, dedicação e, sobretudo, investimento. O patamar alcançado é muito bom, e tem sido um privilégio servir até agora, mas há novos desafios e vertentes que precisam de ser explorados e desenvolvidos. Estes desafios são muito diferentes dos dos últimos 10 anos.
Vai ser um processo dispendioso e de grande investimento, não só por parte da Federação, mas também de todas as associações envolvidas. Só posso agradecer por todo o trabalho realizado, porque sem elas não teríamos evoluído e crescido como até agora, e aos clubes, que têm sido fundamentais neste processo. Os próximos 10 anos serão desafiantes, mas tenho a certeza de que, com uma base bem sustentada e delineada agora, alcançaremos novos sucessos no futebol feminino português.
"Mundial abriu os olhos do mundo para o nosso futebol"
- Tem sentido o respeito dos pares pelo trabalho que tem sido desenvolvido em torno da Seleção Nacional Feminina?
- Tenho sentido muito por parte da UEFA, principalmente, onde também estou integrada no Comité do Futebol Feminino. Tenho notado esse aproximar, os elogios e a forma incrível como têm falado das nossas seleções e do nosso futebol português. Também da parte da FIFA. A nossa presença no Mundial foi extremamente importante, a nossa prestação foi bastante positiva e abriu os olhos do mundo para o nosso futebol. Tem sido fantástico receber tantas notas positivas e tanto feedback. Acreditam muito que Portugal, nos próximos anos, será uma das melhores seleções a representar e a praticar futebol feminino.
- A Mónica Jorge integra a lista das 50 personalidades mais influentes no futebol feminino, elaborada pela plataforma "The Rise of Women's Football", composta por um grupo multifacetado de jornalistas de futebol, jogadoras profissionais, especialistas em negócios desportivos, marketing e direito, cujo objetivo é promover o crescimento do futebol feminino. Que comentário lhe merece esta distinção?
- Orgulho. É uma honra estar entre as 50 líderes a nível mundial do futebol, nesta bonita plataforma que acabou de surgir e que está a enaltecer a modalidade na vertente feminina, no meio de campeãs do mundo. Continuo a achar que sou pequenina, mas quem votou dignifica imensamente o trabalho realizado, sobretudo pela FPF. Eu apenas dou a cara pelo futebol feminino como diretora, mas represento todo o nosso trajeto. Não é a Mónica Jorge que está entre as 50 personalidades distinguidas, é o nosso futebol.
Por isso, o meu agradecimento vai para o futebol feminino e para todos os que ajudaram que a nossa modalidade atingisse um patamar mais elevado.