Copa América: Argentina defende um título que assombra o Brasil
A edição de 2024 do torneio de seleções mais antigo do mundo, que se disputará de 20 de junho a 14 de julho, será o palco de uma receção estelar a jovens estrelas e de despedidas de ilustres habitantes do Olimpo do futebol.
Legado guardado a sete chaves
O património da América do Sul parece estar bem guardado. Jogadores de elite como Messi, Angel Di María, Luis Suárez, Casemiro e James, que marcaram uma era, partilham o balneário com jovens em ascensão, em alguns casos quase 20 anos mais novos do que eles, e em equipas europeias de topo.
Os três jogadores do Liverpool, o colombiano Luis Díaz, o uruguaio Darwin Nuñez e o argentino Alexis MacAllister, bem como os brasileiros Vinicius Junior e Rodrygo, recém-campeões da Liga dos Campeões com o Real Madrid, e ainda jogadores mais jovens, como o argentino Alejandro Garnacho (Manchester United),
Albiceleste gulosa
O mais ilustre deles, Lionel Messi, oito vezes vencedor da Bola de Ouro, jogará a sua sétima e certamente última Copa América, pela primeira vez aliviado e relaxado por uma safra abundante de albicelestes nos últimos anos.
O cenário em 2021, para encerrar uma série maldita de 28 anos, não poderia ter sido melhor: o mítico estádio do Maracanã contra o arquirrival Brasil.
A partir daí, a Argentina ganhou a Finalisima e o Campeonato do Mundo no Catar, e está agora no bom caminho para se qualificar para o evento mais importante da América do Norte em 2026.
Apesar de ter preenchido todos os requisitos, nada é suficiente para o capitão da Albiceleste.
"Digo às pessoas o de sempre, que vamos jogar, dar o nosso melhor, que queremos continuar a tentar e conseguir as coisas", disse "La Pulga" após o último particular, com uma vitória por 4-1 contra a Guatemala, com dois golos do capitão.
A poucos dias do seu 37.º aniversário, no dia 24 de junho, em plena competição, Messi sabe que tem as costas bem protegidas e que a mudança não traumática que o técnico Lionel Scaloni está a enfrentar não apresenta grandes obstáculos.
Um processo que pode ser facilitado para a Argentina, com um Grupo A acessível na Copa América, que dividirá com Peru, Chile e Canadá, os seus adversários na abertura do torneio, na quinta-feira, em Atlanta, Geórgia.
Será que a tristeza não tem fim?
O Brasil, por outro lado, já atravessa um longo período de infortúnio e desorientação, resumido pelo inédito sexto lugar nas eliminatórias sul-americanas para o Mundial-2026, entre dez seleções.
Entre lesões e polémicas extra-desportivas, Neymar não se afirmou nos últimos anos como o sucessor dos grandes ídolos Pelé, Ronaldo ou Zico. A seleção brasileira sofre com um vácuo de liderança e, sobretudo, de futebol.
Mas o que está por vir é lisonjeiro: Vinicius Junior e Rodrygo (ambos com 23 anos) já sabem o que é festejar no topo. Com o Real Madrid, encerraram uma temporada de sonho, coroada com a conquista da Liga dos Campeões.
Além do lesionado Neymar, o selecionador Dorival Júnior deixou de fora da Copa América outros jogadores experientes como o capitão Casemiro e Richarlison, multiplicando o peso para os jovens que terão de enfrentar um Grupo D contra a ascendente Colômbia, o sempre difícil Paraguai e a Costa Rica, liderada pelo argentino Gustavo Alfaro.
Pouco barulho colombiano
O silencioso Néstor Lorenzo, discípulo e compatriota do argentino José Pekerman, está invicto há 24 jogos no comando dos Cafeteros, o segundo mais longo da história da seleção nacional.
Lorenzo, no entanto, não se intimida com o rótulo de favorito à Copa América.
"Estamos a ir bem, não acho que sejamos favoritos. A Argentina - atual campeã do mundo e da América -, o Brasil e o Uruguai" são os favoritos ao título, disse o técnico.
O habilidoso Luis Díaz lidera o substituto colombiano, que ameaça as potências da região na luta pelo título que os Cafeteros não comemoram há 23 anos, quando venceram a sua única competição continental em casa.
Mas para o Uruguai, a Copa América é o seu habitat natural.
À sua tradicional competitividade na competição regional somam-se a experiência e a orientação do exigente técnico Marcelo Bielsa, que está a liderar uma mudança geracional e cultural na Celeste.
O médio Federico Valverde, de 25 anos, que brilhou no campeão europeu Real Madrid, assumiu o comando de um grupo que já se despediu do avançado Edinson Cavani e prepara-se para a retirada do maior artilheiro da história, Luis Suárez.
A Celeste, que lidera a Argentina na classificação da Copa América, com 15 títulos, tem hipóteses de ir longe na competição, que divide um razoável Grupo C com os anfitriões Estados Unidos, Panamá e Bolívia.
Do seu lado, o Chile tem de deixar de viver na memória como bicampeão da Copa América (2015 e 2016) e concentrar-se numa etapa que também reclama lugar para caras novas, quando alguns membros da "geração de ouro", como Gary Medel e Arturo Vidal, fora desta Taça, caminham para a reforma da Roja.
O grande desafio
O grande desafio para as três grandes seleções da CONCACAF - Estados Unidos, México e Canadá - é comparar-se com as suas congéneres sul-americanas.
Os três anfitriões do Mundial-2026, além de Costa Rica, Jamaica e Panamá, terão um calendário exigente de Copa América, que lhes permitirá ver qual é a sua posição no cenário internacional.
Os campeonatos da CONCACAF, que contam com equipas muito menos cotadas, não são uma medida adequada.
Mas, pelo que aconteceu nos particlares que antecederam o torneio, as perspetivas não são muito animadoras.
Os Estados Unidos foram goleados por 5-1 pela Colômbia e depois ficaram no 1-1 com o Brasil, enquanto o México foi goleado por 4-0 pelo Uruguai e depois perdeu com o Brasil por 3-2.
Apesar de anos de esforços para impor o "soccer", a MLS, a liga norte-americana onde Messi e Suárez jogam, ainda não explodiu.
A oportunidade imbatível de expandir o futebol começa com esta nova Copa América, que será disputada em 14 cidades dos Estados Unidos.
O torneio continental abre um período de três anos de grandes eventos internacionais de futebol no país, incluindo o inédito Mundial de Clubes da FIFA em 2025 e o Mundial-2026, que o país vai sediar com o México e o Canadá.