Exclusivo com Pintinho, ex-Farense: "Vinícius é um provocador, tem de se concentrar em jogar"

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Mais
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Exclusivo com Pintinho, ex-Farense: "Vinícius é um provocador, tem de se concentrar em jogar"

Pintinho no Brasil
Pintinho no BrasilJesús Toledano
Carlos Alberto Gomes Montero, Pintinho (Rio de Janeiro, 1954) foi um médio e defesa brasileiro que jogou em Espanha pelo Sevilha e pelo Cádiz. Também representou Fluminense, Vasco da Gama e Farense. Foi internacional pela seleção canarinha e disputou a Copa América de 1979. Em conversa com Jesús Toledano, do Flashscore Audios, faz um balanço da sua carreira e da sua participação no mais antigo torneio de selecções.

- Pintinho, claro que tenho de te perguntar sobre o Sevilha, mas também sobre a seleção brasileira. Para esta 48.ª edição da Copa América, que tem a Argentina como uma das principais favoritas, mas pergunto-lhe se a seleção brasileira é a equipa a bater neste momento. 

- Sabemos da rivalidade e da tradição que esses dois países têm. Quando se defrontam, é como se o mundo parasse, tanto os jogos no Brasil como na Argentina. São duas equipas que dão tudo por tudo, uma quer vencer a outra, assumindo assim o melhor futebol da América do Sul. A rivalidade é muito grande. Tive a sorte de jogar jogos com o Fluminense e o Vasco da Gama e com a seleção brasileira contra os argentinos em geral, tanto a nível nacional como de clubes, e se vencermos um ao outro, já somos campeões. A rivalidade é muito grande. Olha, eu tive a felicidade de jogar com vários argentinos quando joguei no Fluminense e no Vasco da Gama. E nós falávamos sobre isso, queremos comer-nos uns aos outros para ver quem é o melhor dos dois países. E não saímos disso, até hoje. Parece que se jogarmos uma partida, Brasil-Argentina ou Argentina-Brasil, é uma final. E no início da competição é uma final. E, claro, as equipas sul-americanas, ambas de um país, tanto a Argentina como o Brasil, quando jogam entre si é algo que parece... que o mundo está a acabar. É para isso que vivemos. Bem, recentemente houve um jogo entre uma equipa argentina (Boca) contra o Fluminense na final da Libertadores. E foi tremendo. Eles foram ao Rio, não para ver o jogo. Foram ver o jogo, mas estavam em Copacabana e praticamente deram cabo o meu Rio de Janeiro. Mas as pessoas não foram para ver o futebol, uns queriam ver o futebol, outros queriam estar na praia a festejar e à procura de diversão e nada. Como os países não estão muito longe um do outro, a rivalidade é tremenda.

- Suponho que haverá um espírito de vingança depois da última final da Copa América, que o Brasil perdeu para a Argentina. Isso também dói, não é?

- Dói, dói. Como eu disse antes, se perdermos contra outros países sul-americanos, nada acontece. Mas não gostamos de perder para a Argentina. É uma rivalidade que vai durar para sempre. Ela existe desde sempre. Lembro que, quando era pequeno, costumava ir ao Maracanã para assistir a um jogo Brasil-Argentina. Isso acontecia. Isso vai durar para sempre.

- Qual é a opinião sobre a convocatórria Dorival Júnior para esta Copa América, onde ele tem jogadores jovens e também há algumas ausências notáveis, como Casemiro?

- Estou com o Dorival porque não gosto nem um pouco do Casemiro. Sempre disse isso. Quando joguei no Brasil, joguei nessa posição de '6'. É um médio que recupera muitas bolas, mas depois não sabe o que fazer com elas. Para mim, eles deveriam estar fora do futebol brasileiro. Porque, olha, eu devo dizer que o técnico que ganhou o Mundial-1994, ele foi meu preparador físico no Fluminense, o Brasil ganhou com o Dunga e o Mauro Silva como '6'. Eu joguei como '6' no Brasil- Por isso é que eu sou um bocado contra jogadores que sabem recuperar bolas, que jogam à frente da defesa mas depois não sabem o que fazer com elas.

Pintinho, durante a sua passagem pelo Sevilha, 1982
Pintinho, durante a sua passagem pelo Sevilha, 1982Profimedia

Por isso, sou muito crítico. Critiquei muito o Parreira na época porque ele colocou o Dunga e o Mauro Silva, o Brasil ganhou o Mundial e desde aquela época, em 1994, o Brasil nunca mais levantou a cabeça. Eu sou um jogador que começou a jogar como número 8 aqui, mas no Brasil joguei como '6' na posição do Casemiro, do Fernando, do Fernandinho, de toda essa gente que eu não gosto.

- Dorival tem um problema bom na frente, não é? Com talentos como Rodrigo, Vinicius, Savinho, Endrick ou Martinelli, pode ser um problema gerir minutos para jogadores de tanta qualidade? 

- Sim, sim, é melhor assim. Como treinador, gosto de ter essas opções. Ter este problema e ter jogadores que, como dizemos aqui, os treinadores que são do sudeste do Brasil, gostamos de jogar bom futebol e os jogadores do sul do Brasil são mais combativos, são mais europeus, como dizemos. Portanto, ele está a levar jogadores que são brilhantes, que ainda têm muito para jogar, porque há alguns que têm mais nome do que futebol. Espero que o Brasil se saia bem e que nos represente, porque lá o futebol é tudo. Por isso, espero que ele reúna um bom grupo e que aqueles que têm de jogar joguem, e não que a imprensa pressione. O técnico tem que estar presente para todos. Vamos ver se o Brasil recupera um pouco daquele futebol da minha época, do Zico, do Pelé, do Tostão, de todo esse pessoal. Tem que ganhar porque a verdade é que depois de 1994 o futebol do Brasil foi ladeira abaixo porque os treinadores querem colocar as pessoas para correr feito loucos e o que eu dizia que na Europa eles corriam muito e não jogavam muito futebol, agora na Europa eles jogam futebol e na América do Sul o que a gente faz mais é correr.

- Há um nome próprio na seleção brasileira, o do muito jovem Endrik. Já contratado pelo Real Madrid, ele está indo muito bem com a Canarinha. Ele pode ser decisivo.

- Depende da oportunidade que tiver, a verdade é que este miúdo está a destacar-se porque é um jogador que, apesar da sua juventude, tem muita personalidade e é um jogador que está a fazer uma competição brilhante. Vem do ano passado, quando começou a jogar e as pessoas têm muita esperança de que venha a ser um excelente jogador. Mas deixemos de o comparar com Pelé e coisas do género, isso pode estragar tudo.

- Vê com bons olhos no Real Madrid ou acha que ele deve esperar um pouco mais para dar o salto definitivo?

- Sou daqueles que acham que os jogadores devem aproveitar um pouco o país e se preparar para dar o salto. No meu tempo, eu e o Dirceu fomos dos pioneiros a vir para a Europa e fizemo-lo com 24, 25 anos. É bom que os jogadores sejam formados primeiro para depois darem esse passo, mas agora vai tudo resolver os problema económico e os jogadores fazem três bons jogos no Brasil e vão logo para a Europa. As pessoas têm de estar mais conscientes de que devem ter uma melhor preparação para que possam realmente ter sucesso, porque há jogadores que chegam aqui com muito nome da América do Sul, não só no Brasil, e depois e desaparecem do futebol europeu. Os filhos, a família devem pensar um pouco nisso.

-  Outro dos jovens jogadores que chegaram à Europa é Rodrygo, que com a chegada de Mbappé houve quem o colocasse na porta de saída. O que deve fazer Rodrygo?

- Veremos, Rodrygo é um jogador de que gosto particularmente, veremos se tem oportunidade de jogar. Se não, vamos procurar outro lugar, porque é um jogador que desaparece do mapa se não jogar. Espero que jogue no Real Madrid, que é uma equipa que tem sempre um plantel muito grande e isso é bom para o treinador, eu gostaria de ter o plantel do Real Madrid. Mas gosto mais do Rodrygo do que do Vinicius.

- Queria apenas falar do Vinicius, há uma parte da imprensa que o aponta como Bola de Ouro.

- Eu tenho sido muito crítico em relação ao Vinicius. É um jogador que saiu do Flamengo, foi para a Espanha e as pessoas deram-lhe todo o apoio do mundo. Mas ele começou com a questão do racismo? Eu estou aqui há 44 anos e nunca fui chamado de "negro". Mas o que acontece é que ele, como é um provocador... Bem, agora está um bocadinho melhor... Ele é um bocado palhaço, o que ele tem de fazer é jogar futebol. Agora os miúdos que são jovens, bebem duas cervejas, vão para o campo de futebol e provocam-no para que ele se descontrole e não faça o que tem de fazer no campo de futebol, que é jogar, que é a sua profissão. Já o critiquei muito, mas agora está um pouco melhor, deram-lhe um pequeno toque e está um pouco melhor da cabeça. Mas a verdade é que ainda não me convenceu a ser jogador... de forma alguma, não estou a falar apenas de futebol. Ele tem de ser um exemplo para os mais novos e a questão da provocação dele não me entra na cabeça, mas está a melhorar e espero que melhore ainda mais para o bem dele, para o bem do futebol e para o bem de toda a família, para a família dele, para ele ser uma pessoa que dê o exemplo, coisa que não fazia antes.