Javier Aguirre vai ser selecionador do México: velhos problemas, velhas soluções
Em 2009, Javier Aguirre sentou-se durante uma conferência de imprensa da seleção mexicana de futebol como seleccionador em modo bombeiro, que chegava pela segunda vez à equipa com a missão de apagar um incêndio e colocar os aztecas para a fase final do Mundial-2010.
Tal como fizera no início do século, quando assumiu as rédeas de um conjunto com dificuldades para se qualificar para o Mundial Coreia-Japão 2002, Aguirre tomou as rédeas da narrativa pessimista que rodeava El Tri na imprensa e, com a sua personalidade descontraída e frontal, centrou as atenções em si próprio para aliviar a pressão sobre os jogadores.
O melhor técnico mexicano da história
Com mais de 25 anos de carreira, Aguirre é, para muitos, o melhor seleccionador mexicano da história. A eliminação do México na fase de grupos da última Copa América foi um duro golpe para a ilusão nacional, mas foi também um contundente golpe de realidade que acabou por colocar, a par do fracasso do Mundial-2022 no Catar, as expectativas de dirigentes e adeptos, que acabaram por perceber que não estavam perto da elite futebolística como o discurso otimista instalado nos últimos tempos.
Como se não bastasse, a atitude cómoda de vários dos melhores futebolistas mexicanos, que preferem regressar a terras conhecidas ou ganhar dinheiro na MLS dos Estados Unidos, acabou por frustrar a paixão daqueles que cresceram a ver uma seleção competitiva que, acreditavam, só precisava de dar um passo para estar entre as melhores equipas do mundo.
Mundial-2026 em casa
Duas semanas depois da eliminação frente ao Equador, com a cabeça no Mundial que será - pelo menos parte dele - em casa e com Jaime Lozano a deixar o cargo, no México os dirigentes ignoraram as vozes que pediam um golpe autoritário para contratar um treinador de grande renome internacional e tudo parece indicar que vão voltar ao básico e a uma fórmula que funcionou no passado, apenas num momento de grande pressão social e mediática.
Jaime Lozano, que não teria aceitado ter a pesada sombra de Javier Aguirre como adjunto ou noutro cargo dentro da organização federativa, ficará para trás, saindo com o saco roto que estava cheio de ilusões, depois de uma medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020.
Javier Aguirre será, pela terceira vez na sua carreira, o treinador da seleção mexicana de futebol, e chegará como um veterano que não teve medo de grandes desafios.
Aguirre regressa a casa... que está a arder. E fá-lo-á com a bagagem cultural e futebolística adquirida nos últimos anos, com a intenção de dar uma identidade a uma equipa com falta de ideias e de fome. E chegará também para se rir a meio das conferências de imprensa, mandar os jornalistas dar uma volta, proferir frases memoráveis e, sempre que possível, servir-se de um whisky Lagavulin de oito anos antes de se deitar.