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Canadá com Mauro Eustáquio: "Vão aparecer mais Alphonso Davies, Jonathan David..."

Mauro Eustáquio é adjunto no York United FC, do Canadá
Mauro Eustáquio é adjunto no York United FC, do CanadáYork United FC/Flashscore
O Flash pelo Mundo é a nova rubrica mensal do Flashscore. Neste espaço, traremos entrevistas exclusivas com portugueses que elevam bem alto a bandeira nacional além-fronteiras. O nosso primeiro convidado é Mauro Eustáquio, treinador-adjunto do York United, do Canadá.

Acompanhe o York United no Flashscore

"Retirei-me cedo, mas na altura certa"

- O Mauro decidiu terminar a sua carreira de jogador aos 28 anos. Três anos depois dessa tomada de decisão, está arrependido ou ainda mais convicto de que foi a melhor opção?

- Acho que foi uma das melhores decisões da minha vida profissional. Como jogador, gostava muito do que fazia e tinha condições para continuar, mas fui sempre um estudante do jogo, que gostei sempre do lado tático e psicológico. A relação jogador-treinador sempre foi importante para mim e achei por bem começar o processo mais cedo. (...) No início da pandemia, com os campeonatos parados, decidi tirar o primeiro curso. Depois as oportunidades surgiram e retirei-me cedo, mas na altura certa.

Mauro Eustáquio trabalha no Canadá
Mauro Eustáquio trabalha no CanadáArquivo Pessoal/Opta by Stats Perform

- Nasce em Portugal, mas muda-se para o Canadá com apenas dois anos, depois regressa, depois volta… Tem uma relação quase umbilical ao Canadá, não é verdade?

- Acaba por ser o meu mercado. Nasci em Portugal, mas vim muito cedo para o Canadá. Eu e meu irmão (Stephen Eustáquio) temos passaporte canadiano e isso abriu-me muitas portas desde muito cedo, com as idas às seleções sub-18, sub-19 e sub-20. Acabei por ir construindo algumas relações e o meu network é muito pela América do Norte. É uma escolha natural. Obviamente que estou muito dividido, mas o Canadá tem-me dado muitas oportunidades para seguir no mundo do futebol como treinador. É um país que me agrada e onde me sinto bastante confortável.

- Como apresenta o campeonato em termos de competitividade e condições?

- São clubes com muitas condições em termos de balneários, estádios e que são bastante organizados. Muitos deles estão em estádios de 15, 20 e 30 mil pessoas. Ano após ano estão a melhorar nesse aspeto. É uma liga ainda muito jovem, mas é uma liga que desde o primeiro ano tem aumentado o interesse das pessoas. A nível competitivo, é uma liga bastante competente, que está a crescer e diria que a maioria dos clubes tem estrutura de primeira divisão (portuguesa). Temos vagas para entrar na Concacaf Champions, onde jogamos com equipas como Cruz Azul, Los Angeles, Orlando, etc. 

- Sente que tem todas as condições para desempenhar o seu trabalho?

- Temos as nossas condições. Agora temos um treinador que esteve no Atlas, da Liga MX, e esteve ainda nove anos no Johor, da Malásia, onde ganhou sete títulos. Já não estamos só a trazer jogadores com nível alto como também trazemos treinadores com muita experiencia e outro pedigree. Isso traz valor à liga. O nosso trabalho aqui é feito de forma muito rigorosa e muito profissional.

A forma recente do York United
A forma recente do York UnitedFlashscore

- Acredito que essa aposta também contribui para o aumento do nível da seleção do Canadá. Sente que começam a aparecer cada mais jovens de qualidade?

- Sim, sim! Isso dá-se porque o jogador chegava com 16-17 anos e não tinha para onde ir. Ou ia para a universidade da liga dos Estados Unidos ou para o Canadá e tinha de passar pelo processo todo de ir ao draft. Acaba por ser um processo muito mais longo e o jogador acabava por perder o interesse em ser profissional a uma idade muito cedo e a pensar noutras prioridades na vida. 

Nesta liga, já estreamos um jogador, de 16 anos, que tem um grande futuro pela frente e muitas condições. Neste caso, há 10 anos, este miúdo estaria numa equipa do bairro e não tinha condiões para ser profissional. Agora tem treino com treinadores profissionais e um acompanhamento detalhado elaborado da nossa parte - análise do que faz e não faz, nutricionista e ginásio. As equipas já estão numa fase de criar equipas B e sub-20 para termos esse caminho bem estruturado.

- Como imagina esta evolução dentro de 10 anos?

- Evolução constante. Para o ano já vao existir mais duas equipas no campeonato - vamos elevar para 10 - e nos próximos dois anos vão meter mais três equipas. Vamos ser parecidos a um campeonato como a Escócia. Imagino um campeonato competitivo, que tem o seu budget, e que vai poder crescer a nível coletivo e na Concacaf. Vamos ter também uma seleção mais competente, não só os AA como os mais jovens. Vão aparecer mais Alphonso Davies, Jonathan David e tudo isso. Este é ainda um país muito de hóquei, basebol e basquetebol, mas como é um país de muitos emigrantes, a paixão pelo futebol já se começa a ver muito nas ruas.

Mauro Eustáquio trabalha no York United
Mauro Eustáquio trabalha no York UnitedArquivo Pessoal

"Futebol português é uma potência mundial"

- O York United está na luta pelo 1.º lugar. É possível fazer história?

- Espero bem que sim. Trabalhamos para isso. Houve investimento recente por parte de uma sociedade de uma família mexicana e a nossa cultura mudou drasticamente para melhor. Os últimos donos largaram o clube e ficamos um pouco ao abandono, mas com estes novos donos estamos melhores. Eles investiram nas infraestruturas e também em jogadores e isso tem dado resultado dentro de campo. Um clube vive de resultados dentro de campo para crescer e estabilizar. Estamos a ser muito competitivos e competentes. Ainda faltam algumas jornadas, mas vive-se um bom momento.

York United segue na luta pelo título
York United segue na luta pelo títuloFlashscore

- Aos 31 anos, quais as suas ambições do ponto de vista pessoal?

- Obviamente que todo o treinador tem as suas metas individuais e eu não fujo a regra. Neste momento estou a crescer como treinador jovem, estou rodeado de pessoas muito competentes que me têm ajudado. A verdade é que queremos sempre mais, mas não podemos pensar no amanhã se não fizermos o hoje corretamente. Trabalhar com o (Benjamin) Mora tem sido excelente, pois temos uma boa ligação. Agora, claro que tenho ambições de chegar a uma grande liga na América do Norte, como a MLS ou a Liga mexicana. Ou até na Europa. 

- Trabalhar em Portugal é algo que está no seu horizonte?

- O futebol português é uma potência mundial. A liga é muito boa e organizada. Eu tenho o bichinho de estar envolvido em Portugal numa determinada fase da minha carreira. Não sei se hoje ou daqui a uns anos, mas como português é natural ter esse desejo de estar ligado a um clube em Portugal. Não deixa de ser um campeonato que eu acompanho e onde está o meu irmão. Seria muito bom trabalhar com ele um dia. Mas não é coisa que pense no imediato. A verdade é que também nunca surgiram muitas oportunidades para voltar nas condições que eu procuro.

Stephen Eustaquio, irmão de Mauro, joga no FC Porto
Stephen Eustaquio, irmão de Mauro, joga no FC PortoLUSA

"Já falei com o meu irmão sobre um dia estarmos a treinar juntos"

- A entrevista é sobre o Mauro, mas aproveito essa referência ao seu irmão para lhe perguntar se já teve conversas com ele sobre a possibilidade de trabalharem juntos? Ou até de formarem uma equipa técnica no futuro...

- Por acaso, já tivemos algumas conversas de jantar sobre isso. Já chegamos a fazer o nosso dream team como staff. Seria um prazer poder trabalhar com ele, não só por ser meu irmão, mas também pelo profissional que é. Seria um sonho. (...) Falamos diariamente sobre nós, sobre o nosso futuro e sonhos. Mas, sim, falamos mais sobre um dia estarmos a treinar juntos do que eu ser treinador dele.

- Enquanto português que está fora, qual a sua perspetiva sobre o produto "futebol português"?

- A verdade é que o futebol português é muito respeitado nos países fora da Europa e na Europa. É um campeonato que tem muitos olhos sobre si pela qualidade. Os grandes estão sempre nas bocas do mundo.

Os próximos jogos do York United
Os próximos jogos do York UnitedFlashscore

- Por último: o que significa o futebol para o Mauro?

- As pessoas que andam no futebol esquecem-se do sonho que é poder fazer uma coisa que gostamos. O futebol sempre fez parte da minha vida e estar neste mundo há 15 anos é um sonho. Sou apaixonado pelo futebol e faço sempre o meu trabalho com um sorriso na cara. Gosto da pressão e da intensidade que o futebol me dá e acordo todos os dias muito agradecido por estar no futebol.

Entrevista de Rodrigo Coimbra
Entrevista de Rodrigo CoimbraFlashscore