Análise: Defesa é a marca de campeões e das surpresas no Euro-2024
“Ataques ganham jogos, defesas ganham campeonatos”. Não podíamos abrir este artigo de outra maneira. A famosa frase cunhada por Phil Jackson (arquiteto de duas dinastias campeãs na NBA) ajuda a explicar a importância de defender bem, sobretudo para quem aspira a patamares mais altos no desporto.
Este Euro-2024 destacou-se pela vertente ofensiva. Nos 36 jogos já disputados foram marcados 81 golos (uma média de 2,25 por jogo). Olhando para os resultados, só quatro jogos (Países Baixos diante da França, Inglaterra com Eslovénia, Dinamarca frente à Sérvia e Ucrânia com a Bélgica) é que não tiveram golos.
Perante isto, não deixa de surpreender que apenas uma equipa não tenha sofrido golos na fase de grupos: Espanha. Frente a Croácia, Itália e Albânia, La Roja mostrou-se impenetrável (utilizou dois guarda-redes com Unai Simón e David Raya) e também por isso foi a única a terminar com nove pontos.
Das oito melhores defesas do Euro-2024, apenas a Sérvia não seguiu em frente. Sendo que a Eslovénia conseguiu fazê-lo, mas como uma das melhores terceiras. Espanha, Inglaterra e Alemanha ficaram no topo do grupo.
No lado oposto da tabela, a Escócia foi quem mais golos sofreu (sete), muito por causa da goleada diante da Alemanha (5-1) na ronda inaugural. Polónia e Croácia completam o pódio com seis.
Das oito defesas mais batidas, só Turquia e Geórgia estão nos oitavos de final.
De Diogo Costa a Mamardashvili
Defender bem é sinónimo muitas vezes de um guarda-redes ter pouco trabalho. No caso de Portugal, infelizmente, não se pode dizer isso. Diogo Costa foi o guarda-redes (que fizeram os três jogos) que menos defesas fez na fase de grupos (quatro), mas sofreu três golos. De resto, em linha com as estatísticas que indicam que os sete remates de que foi alvo deveriam ter dado 2,7 golos. Ou seja, não fez a diferença na baliza.
No lado oposto está Mamardashvili. O guarda-redes do Valência tem sido um dos destaques do torneio e está a provar que é um dos melhores na sua posição. Em três jogos defendeu 20 remates. De acordo com os dados da Opta, esses 20 disparos teriam resultado em 7,5 golos, mas acabou por sofrer só quatro. Manteve ainda a baliza inviolada diante de Portugal.
De entre os 29 guarda-redes utilizados, 13 não conseguiram manter a baliza inviolada nos jogos que disputaram. Yann Sommer (Suíça), Gianluigi Donnarumma (Itália), Patrick Pentz (Áustria), Jindrich Stanek (República Checa), Thomas Strakosha (Albânia), Dominik Livakovic (Croácia) e Angus Gunn (Escócia) foram os únicos que disputaram os três jogos da fase de grupos.
Trabalho compensa
Defender será das coisas menos favoritas de um jogador. Quando todos sonham com a carreira profissional pensam em marcar golos, fazer coisas maravilhosas com a bola, não andar a correr atrás dela. Contudo, a abnegação defensiva também tem os seus méritos.
A Geórgia foi a equipa que mais bolas recuperou (134), mais desarmes fez (55), que mais desarmes ganhou (27) e que mais alívios de bola conseguiu (100). Um feito da equipa de Willy Sagnol que lhes permitiu chegar aos oitavos de final sem sofrer golos de Portugal.
No segundo lugar das bolas recuperadas (132) e desarmes feitos (51) não podia estar outra que não a Áustria. Ralf Rangnick é um dos ideólogos do gegenpressing e colocou Das Team a praticá-lo para ficar à frente de Países Baixos e França na fase de grupos.
Das oito equipas que mais bolas recuperaram, só a Croácia destoou e não seguiu para a fase a eliminar.
O líder da Eslovénia
Há que dar destaque a Jaka Bijol. O central da Udinese tem sido o líder defensivo da Eslovénia e destaca-se pela forma como tem repelido as investidas adversárias.
Com 27 alívios, o central destaca-se neste domínio e por larga margem. Guram Kashia da Geórgia é quem se segue com 21. Van Dijk (Países Baixos) e Bednarke (Polónia) fecham o pódio com 15.
Bijol precisará de estar no top da sua forma se quiser impedir Portugal de marcar e avançar para os quartos de final.
Ainda no que toca às ações defensivas individuais, crédito tem de ser dado a Nico Seiwald (Áustria), que foi o jogador que mais desarmes tentou nesta fase de grupos – um total de 13. Strahinja Pavlovic, o futuro da defesa da Sérvia, foi o melhor a travar dribles (nove) e Josip Sutalo (Croácia) foi quem mais interceções fez, com 13.
Números que ajudam a explicar a fase de grupos de um Europeu que tem sido marcado pelos muitos golos, mas onde as defesas também estão a ter muita influência. Afinal de contas, não é por acaso que consideramos a Espanha como uma candidata e a Geórgia como a grande revelação.