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Análise treinador Flashscore: Ganhou quem jogou naquilo em que acredita

Jogadores espanhóis recebem o troféu das mãos do Rei
Jogadores espanhóis recebem o troféu das mãos do ReiAFP/Flashscore
O Euro-2024 chegou ao fim. O treinador António Barbosa partilha a sua derradeira análise da competição com o Flashscore, relativamente à final em Berlim, entre Espanha e Inglaterra.

A abordagem à final teve por base fundamentos diferentes, fruto das regras de jogo, em particular o afastamento de jogadores devido a cartões, uma vez que não havia lesões. Com todas as possibilidades em aberto, os selecionadores optaram por valorizar dimensões diferentes: o selecionador de Espanha manteve-se com o seu sistema 1x4x3x3, abordando a final com um forte apoio na dimensão tática (a forma de jogar da sua equipa). Por sua vez o selecionador de Inglaterra alterou o seu sistema para 1x4x2x3x1 abordando a final numa dimensão mais estratégica (condicionar a forma de jogar do adversário).  

O posicionamento da Espanha
O posicionamento da EspanhaOpta by Stats Perform/AFP
O posicionamento de Inglaterra
O posicionamento de InglaterraOpta by Stats Perform/AFP

Qual a influência que estas abordagens tiveram no jogo

Fruto do que referimos em cima, percebendo que era uma final, durante a primeira parte a tendência para as equipas foi estarem em superioridade numérica nas zonas próximas da sua baliza, estarem em equilíbrio, compactas com grande concentração em redor do centro de jogo (a bola). Todos os dados expõem esta vontade de assegurarem a vitória. Entre todas as prestações deste europeu, neste jogo as duas equipas apresentaram o maior índice xG (a qualidade de uma oportunidade calculada à probabilidade de ser marcada usando informações semelhantes de remates no passado (xG) de toda a competição. 

A seleção da Inglaterra diminuiu fortemente a percentagem de posse de bola e, comparativamente a outros jogos, a Espanha naturalmente aumentou o tempo de posse, mas uma posse na largura e com poucas ações no último terço na direção da baliza adversária.

Estatística final da partida
Estatística final da partidaOpta by Stats Perform

Na seleção inglesa, equilíbrio e o foco numa dimensão estratégica condicionaram a forma de jogar do adversário, mas principalmente a forma de jogar de Inglaterra. Podemos realçar como positivo o equilíbrio demonstrado. Algo que permitiu que Inglaterra apenas recorresse à falta por duas vezes, mas tornou-se um jogo com pouco espaço para rematar a baliza, com sete situações de golo (quatro da Espanha e três da Inglaterra) um cruzamento e um remate à baliza. 

Qual a estratégia que mudou a forma de jogar de Inglaterra 

Um dos aspetos que podemos enumerar, em concreto, foi fixar/travar posicionalmente jogadores que tiveram um grande impacto nos jogos anteriores, em que tiveram missões com maior liberdade de ação. Concretamente no momento defensivo, a colocação de Phil Foden fixo procurando eliminar a intervenção da construção de Rodri. O comportamento de Kane, que tinha como missão condicionar a bola num corredor lateral, procurando que Normand e Laporte não conseguissem circular a bola na largura. O jogo de pares dos alas Bellingham/Carvajal e Saka/Cucurella.   

O mapa de calor de Rodri
O mapa de calor de RodriOpta by Stats Perform/AFP
O mapa de calor de Phil Foden
O mapa de calor de Phil FodenOpta by Stats Perform/AFP

A segunda parte

Realçando alguns elementos com impacto no jogo e a história que o jogo teve e quando forçado a substituir, o selecionador de Espanha colocou em campo Zubimendi retirando Rodri por lesão. Quando a seleção inglesa tentou condicionar, na sua primeira etapa de construção, os jogos de pares e as dimensões estratégicas condicionaram as missões dos seus jogadores no seu jogo defensivo. Ao minuto 47, por exemplo, a seleção espanhola atraiu apoio, mudou de lado com velocidade e intencionalidade e sobrelotou a zona de finalização chegando ao primeiro golo. 

Este golo mudou o jogo e o seu sentido. Passou a ser um jogo em que foi solicitada mais vezes a reorganização e menos o equilíbrio; passaram a existir mais situações de golo, mais chegada à baliza, ou seja, um jogo mais aberto, menos controlado e com maior necessidade dos treinadores intervirem, através de substituições com a finalidade de darem ferramentas às equipas para se manterem no jogo. Com maior necessidade de um ponta-de-lança com capacidade de condicionar e pressionar os defesas-centrais espanhóis, Harry Kane foi substituído para entrada de Watkins. 

Com maior necessidade de colocar um ponta-de-lança mais móvel, Morata é substituído e por Oyarzabal procurando aproveitar situações de um para um em movimentos de diagonais. 

Mainoo também é substituído e Cole Palmer entra para dar maior capacidade de remate exterior e chegada na área com bola ou atacando o espaço. Num lance em que a Espanha esteve perto de fazer o segundo golo, e fruto do jogo partido – faltava o equilibrador da seleção espanhola – em contra-ataque a seleção inglesa conseguiu chegar ao golo. Apesar da Espanha ter-se conseguido reorganizar rapidamente, tendo já uma linha de quatro defesas e dois médios fechando as zonas de finalização dentro da grande área, contra cinco jogadores da Inglaterra que encontraram o espaço livre fora da área num remate rasteiro Palmer faz o golo ao minuto 73. 

O golo de Cole Palmer
O golo de Cole PalmerOpta by Stats Perform/AFP

Jogo da Espanha representa o que é esta seleção e um país ligado ao desporto 

Numa segunda parte mais disputada, mais aberta, com ascendente de Espanha em todos os indicadores significativos do jogo. Podemos realçar os jovens com uma participação fundamental neste jogo como Yamal e Nico Williams.

Os números de Nico Williams
Os números de Nico WilliamsOpta by Stats Perform/AFP

Podemos realçar os laços forte numa forma de jogar mas devemos ter uma visão de um ponto mais alto, visão helicóptero: a política desportiva aplicada de forma transversal por uma federação em convulsão, um selecionador nacional com vários anos de ligação à formação, aos jovens jogadores (11 anos de seleções espanholas), um conjunto de jogadores de elevado valor, com alguns jogadores que seriam escolhas menos populares, uma seleção que não tem na sua base um grande Barcelona, Real Madrid ou Atlético de Madrid e que termina o mais importante torneio de seleções da Europa com sete vitórias em sete jogos, 15 golos marcados e apenas quatro sofridos porque foi melhor do que as outras equipas, porque jogou um jogo que lhe assenta, um jogo que representa Espanha, representa a sua formação e como se expressa no futebol. Porque quem decide, decidiu por convicção e não por limitação, porque teve a coragem e capacidade para se impor… não é o único exemplo, não é o melhor exemplo de todos, mas é uma forma de relembrar que os campeões aparecem na adversidade e criam a sua oportunidade sempre por base naquilo em que acreditam e naquilo que são.

António Barbosa, treinador de futebol
António Barbosa, treinador de futebolFlashscore