Análise Treinador Flashscore: Oportunidade para vários jogadores criarem a ocasião
Contra a Geórgia, no último jogo da fase de grupos deste Europeu, a Seleção Nacional apresentou um onze com juventude, irreverência e qualidade. Mas a falta de sinergia foi clara, principalmente na criação de oportunidades de golo.
Alterações do jogo anterior
Relativamente ao segundo jogo da fase de grupos, Portugal voltou a alterar o seu sistema de jogo. A possibilidade de ser primeiro do grupo e a garantia de apuramento para a fase a eliminar, permitiu dar tempo de jogo a vários jogadores, algo que pode ser muito importante já na próxima fase. Entre os jogadores com mais minutos, apenas Diogo Costa e Cristiano Ronaldo se mantiveram titulares (iniciaram os três jogos) e Palhinha transitou do jogo anterior. O selecionador, Roberto Martínez, aproveitou e deu minutos a vários jogadores menos utilizados ou que ainda não se tinham estreado. Em virtude disso, Portugal apresentou ritmo de jogo baixo, característico de uma equipa com pouco tempo de jogo.
Porque a seleção portuguesa criou menos do que habitualmente?
Pela importância que o jogo tinha para a seleção da Geórgia e pela característica de jogo desta seleção (grande combatividade defensiva, proximidade das linhas defensivas) e uma transição ofensiva que recorria ao contra-ataque para chegar à baliza adversária, Portugal iniciou a partida com um bloco mais fixo, com cinco jogadores com funções determinantes na etapa de construção do processo ofensivo e equilíbrio: Gonçalo Inácio, Danilo, António Silva, João Neves e Palhinha.
Na etapa de construção, a circulação curta sem saltar linhas ou estações e sem procurar os jogadores na diagonal, muitas vezes circulação no mesmo jogador, frequentemente para trás, no mesmo espaço do terreno, sem mudar o lado. E quando mudava de lado, a bola era lenta. Dos três jogos realizados, em termos de posse de bola, este desafio com o a Geórgia foi muito semelhante ao primeiro com a República Checa (72% - 28% neste e 73% - 27% no primeiro), mais passes realizados na primeira etapa de construção, mas sem entrar efetivamente no bloco ofensivo do adversário, o que fez com que a Seleção portuguesa produzisse um jogo com poucas oportunidades de golo.
O jogo e o jogar
A organização ofensiva da Seleção era feita com o bloco fixo de cinco jogadores, Pedro Neto a dar largura no corredor lateral-esquerdo (terá sido o jogador que realizou mais cruzamentos, embora com reduzido grau de eficácia), com João Félix a jogar na zona mais interior, Ronaldo com missões de apoio, Francisco Conceição preso na largura e o lateral-direito, Diogo Dalot, muitas vezes ao lado de Cristiano Ronaldo.
Mais do que esta distribuição inicial, e ao contrário dos outros jogos, em concreto dos jogos desta fase de grupos, a Seleção marcou o ritmo de jogo com pouca velocidade, conseguindo construir o seu jogo ofensivo nos corredores laterais, espaço deixado pela seleção georgiana, mas em virtude da forma lenta como construía e criava, o que condicionava a forma com procurava terminar o processo ofensivo, a seleção da Geórgia já estava montada num bloco baixo com grande agressividade no jogo aéreo, fruto de um posicionamento frontal para a bola. Este tipo de jogo mais lento é característico de equipas que têm pouco tempo de jogo e treino em conjunto. De realçar, também, a falta de ligação entre os três jogadores do setor mais ofensivo João Félix, Cristiano Ronaldo e Francisco Conceição com dificuldade em ligarem passes entre si.
O equilíbrio que foi salvaguardado pelo número de jogadores com essas caraterísticas, cinco jogadores, não se efetivou fundamentalmente porque no momento da construção os dois médios estavam lado a lado, a par, o que obrigava os defesas-centrais a colocarem-se numa zona mais alta e lateralizada, assim aumentando o espaço entre os defesas-centrais e os médios no momento da transição defensiva, e entre os médios e os jogadores posicionais em zonas mais altas do terreno. Um exemplo concreto desta situação, foi o lance que originou o primeiro golo: na transição defensiva, Cristiano Ronaldo era muitas vezes quem iniciava a pressão, mas a distância que se verificou entre a linha média e a ofensiva e a linha defensiva e a média, permitiu que a seleção georgiana, com arte e engenho e muita vontade encontrasse o espaço para transitar.
A seleção da Geórgia saiu mais vezes no contra-ataque, criou mais jogadas de perigo e situações iminentes de golo. Essas jogadas de perigo tiveram, como padrão, menos de quatro jogadores envolvidos. A direção da bola era quase sempre colocada para a frente, na direção da baliza de Portugal, recorrendo ao método do contra-ataque. Em organização defensiva, os jogadores da Geórgia defendiam em bloco baixo, como uma defesa à zona pressionante, mas transitavam em velocidade, dando ao jogo aquilo que o jogo pedia. A Geórgia venceu com mérito, compromisso e determinação. E também aqui a sorte voltou a proteger os audazes. Que neste caso foram os homens da Geórgia.
Alterações ao intervalo
Houve alterações relativamente aos jogadores em campo, mas em relação à forma de jogar, apesar de no final da partida Portugal conquistar algumas ocasiões de golo. Mas as alterações não trouxeram mudanças na forma de jogo de Portugal.
Nas análises anteriores falámos em história do jogo. E a história deste jogo foi que a seleção georgiana venceu, por vezes conseguindo controlar o jogo e sendo eficaz nas suas ações ofensivas. Quanto à Seleção Nacional, tem capacidade para fazer melhor, jogando de forma que sirva os seus jogadores e as suas caraterísticas. Colocando, por exemplo, João Félix numa zona mais central e o Francisco Conceição em zonas mais interiores, com um lateral ou um médio interior próximo a fazer movimentos de rotura para desse modo criarem espaços de forma a concretizar situações de um para um.
Foi um bom jogo para aprender. O apuramento em primeiro lugar do grupo estava garantido. Com as alterações processadas no onze, houve jogadores que descansaram e há agora mais jogadores com ritmo de jogo, capazes de ajudar a Seleção.