Análise Treinador Flashscore: Portugal passou, Diogo Costa brilhou

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Análise Treinador Flashscore: Portugal passou, Diogo Costa brilhou

Diogo Costa foi o herói português
Diogo Costa foi o herói portuguêsAFP
Portugal marca presença no Euro-2024, prova que reúne a nata das seleções do Velho Continente na Alemanha, entre 14 de junho e 14 de julho. No dia seguinte a cada jogo da equipa das quinas, o treinador António Barbosa partilha a sua análise com o Flashscore.

O que se sabia antes de iniciar o jogo

Portugal tinha perdido por 2-0 contra a Eslovénia na preparação para este Europeu. Já na Alemanha, a seleção eslovena passou a fase de grupos com três empates, um deles contra a Inglaterra, e Portugal passou em primeiro lugar, com duas vitórias e uma derrota, esta contra a seleção com o ranking mais baixo deste Europeu, a Geórgia

A seleção eslovena foi penúltima no ranking da posse de bola, aproximadamente 37%; já Portugal teve em média 70% da posse de bola. Os eslovenos chutaram 25 vezes, menos de metade que a Seleção Nacional; cometeram 34 faltas e tiveram seis cartões amarelos; Portugal contabilizou 25 faltas assinaladas contra e sete cartões amarelos (sendo que três foram por simulações). Nos três jogos realizados, os jogadores eslovenos correrem 339,58 km, sensivelmente mais 100 km do que Portugal, o que dá cerca de mais 3 km por jogo por cada jogador. A Eslovénia não fez qualquer alteração ao seu sistema tático, jogando num 1x4x4x2, a nossa Seleção variou entre o 1x3x5x2 e o 1x4x3x3. 

Reveja aqui as principais incidências da partida

Os dados apontavam para duas seleções que se encaixavam na forma de procurar ganhar o jogo. Podíamos esperar, por isso, uma Eslovénia a procurar fechar o espaço no setor médio/médio defensivo e através de transições ofensivas, recorrendo ao contra-ataque, para tentar fazer o golo. Já da Seleção Nacional, podíamos antecipar uma tentativa de controlar e dominar. Esperavam-se duas equipas a agir percebendo o que iria acontecer no jogo, com muito rigor tático e estratégico, algo característico de jogos a eliminar. 

As equipas com mais bolas recuperadas
As equipas com mais bolas recuperadasFlashscore

Alteração do sistema tático, alteração dos homens que dão vida às ideias 

A Seleção e o seu selecionador, Roberto Martínez, voltaram a um sistema bem conhecido do futebol português, ainda que com dinâmicas especificas. Por exemplo: Em organização ofensiva, Portugal jogava preferencialmente com um bloco mais fixo, com Nuno Mendes, Pepe e Rúben Dias; com um bloco mais próximo com dois médios de apoio, Palhinha e Vitinha; com Cancelo na zona interior, mas muitas vezes muito alto e próximo dos adversários (principalmente durante a primeira parte); a largura era a referência dos dois extremos, Rafael Leão e Bernardo Silva; Bruno Fernandes algumas vezes jogava baixo em apoio, mas principalmente nas costas dos médios eslovenos, próximo de Cristiano Ronaldo

A posição média de Portugal
A posição média de PortugalOpta by Stats Perform

O que devia ter feito Portugal

Portugal devia entrar em jogo de uma forma que se percebesse claramente que queria vencer. Como? Recorrendo a um jogo ofensivo com equilíbrio e organização, produzindo um caudal contínuo e variado de ações ofensivas na direção da baliza eslovena. Um jogo sem pressas, mas sem pausas. E foi aquilo que a Seleção fez, principalmente e naturalmente na primeira parte. 

Para ilustrar o que escrevo, só na primeira parte do jogo, ao minuto 3, Portugal criou um lance de cruzamento em que Rafael Leão ao segundo poste não chega, mas resultou em canto a favor de Portugal; desse canto, ao minuto 4 Rúben Dias, rematou dentro área; ao minuto 6, num livre no corredor lateral, a bola foi ao segundo poste e Bijol tirou com cabeamento; ao minuto 7 transição com Ronaldo a escorregar dentro da área; depois, Bernardo Silva cruza para a área e Cristiano Ronaldo e Bruno Fernandes ficaram próximos do golo; ao minuto 26, cruzamento e corte para canto da Eslovénia, Nuno Mendes faz passe em profundidade para Bruno Fernandes; corte para canto ao minuto 28; Cancelo cruza para Ronaldo ao minuto 30; minuto 31, Rafael Leão em contra-ataque força o um para um e cria uma situação de livre frontal à baliza à entrada da grande área eslovena e o defesa central Drkusic vê cartão amarelo: livre no corredor central e Cristiano Ronaldo bate por cima da baliza; minuto 34, contra-ataque de Rafael Leão, canto curto e no cruzamento quase chega à bola; minuto 35, livre no corredor lateral, Cristiano remata ao lado; minuto 45+2, lance de perigo de Rafael Leão, que força a ação contra o defesa central já amarelado, cruza atrasado e Palhinha chutou ao poste. 

A Seleção fez bem, fez muito de diferentes formas. Na primeira parte, Portugal teve 70% da posse de bola e a Eslovénia teve o seu primeiro remate ao minuto 43, que surgiu de uma transição ofensiva, onde Nuno Mendes fez um corte em zona atrasada, com cruzamento rasteiro. 

Os números ao intervalo
Os números ao intervaloOpta by Stats Perform

Segunda parte - o impacto que a história do jogo tem no jogo

O desafio foi para intervalo sem golos. As equipas que têm mais a ganhar acreditam que podem chegar a golo, que podem vencer, que precisam da sua oportunidade. O que fez a Seleção Nacional na etapa de construção, os dois médios a iniciarem o jogo mais baixos, por vezes a encaixar na linha dos três defesas mais fixos, com Rúben Dias a jogar mais alto – isto porque durante a primeira parte os avançados da Eslovénia, Sporar e Sesko, tinham como missão fechar a linha de passe para os médios – e a intenção era invadir com Rúben Dias e depois encontrar o corredor central ou outro médio, principalmente Vitinha. 

Leia a crónica do jogo

As oportunidades sucederam-se, ainda que mais pelo lado direito, onde Bernardo Silva estava mais baixo a libertar o espaço e João Cancelo realizava diagonais do corredor central para o corredor lateral-direito. Neste período do jogo ofensivo de Portugal, João Cancelo foi o jogador em destaque, criando vários lances de perigo quase sempre da mesma forma. e depois vieram as substituições.

As substituições

Na génese, Portugal pretendia manter ou melhorar a sua performance, mas na realidade o jogo tornou-se mais partido, menos controlado, mais dividido. Vitinha é substituído e entra Diogo Jota, mais tarde entra Francisco Conceição e sai Rafael Leão. A Seleção perde a fluidez na capacidade de construção e perde o extremo, Rafael Leão, que estava a conseguir, através de situações de um para um, chegar de forma repetida ao último terço ofensivo. Conceição inicialmente joga como extremo-esquerdo e tem pouco impacto no jogo. Portugal deixa de conseguir chegar com situações de perigo à baliza adversária. 

A evolução dos golos esperados (xG)
A evolução dos golos esperados (xG)Flashscore

O prolongamento

Cada minuto que passava, era um minuto a menos em que a seleção menos candidata estava mais próxima de vencer. Ao intervalo, Francisco Conceição passou para o corredor lateral-direito e Diogo Jota passou para extremo-esquerdo. As primeiras situações de perigo foram da Eslovénia, a transitar quase sempre da mesma forma, mas com eficácia, com movimentos dos avançados entre os defesas-centrais ou entre os defesas-centrais e os defesas-laterais. Em alguns momentos, Pepe teve dificuldades em definir o momento de reduzir o espaço para o avançado, quando condicionar, pressionar ou intersetar. Neste período, os principais lances de perigo surgiram com movimentos de Diogo Jota no corredor central, como o exemplo da penalidade que foi atribuída a Portugal. 

À medida que o tempo avançava, havia menos espaço, as ideias coletivas eram menos conseguidas. E quando assim acontece, os erros na fase de construção são mais comuns: Foi o caso de Pepe, ao falhar um atraso em que se isolou o ponta-de-lança da Eslovénia. Valeu Diogo Costa a fazer uma intervenção que valeu o jogo a Portugal. 

O desfecho em penáltis

Oblak, que durante o prolongamento defendeu um penálti a Cristiano Ronaldo (primeiro falhado em 14 penáltis) seria até ao momento o homem do jogo. Mas… em todas as histórias há um mas. Diogo Costa, como depois disse no final da partida, preparou-se para agarrar a oportunidade e ajudar a Seleção: defendeu três penalidades; Cristiano Ronaldo bateu o primeiro penálti e marcou, assim como Bruno Fernandes e Bernardo Silva. 

Diogo Costa foi preponderante: Depois de passar quase 120 minutos onde realizou duas defesas conseguiu manter-se no jogo e estar preparado para o momento decisivo. A Seleção ganhou e passou a eliminatória. Agora espera-se que Portugal consiga impor desafios muito diferentes dos que até aqui passou a seleção francesa.  

António Barbosa, treinador de futebol
António Barbosa, treinador de futebolFlashscore