O que se sabia antes de iniciar o jogo
Portugal tinha perdido por 2-0 contra a Eslovénia na preparação para este Europeu. Já na Alemanha, a seleção eslovena passou a fase de grupos com três empates, um deles contra a Inglaterra, e Portugal passou em primeiro lugar, com duas vitórias e uma derrota, esta contra a seleção com o ranking mais baixo deste Europeu, a Geórgia.
A seleção eslovena foi penúltima no ranking da posse de bola, aproximadamente 37%; já Portugal teve em média 70% da posse de bola. Os eslovenos chutaram 25 vezes, menos de metade que a Seleção Nacional; cometeram 34 faltas e tiveram seis cartões amarelos; Portugal contabilizou 25 faltas assinaladas contra e sete cartões amarelos (sendo que três foram por simulações). Nos três jogos realizados, os jogadores eslovenos correrem 339,58 km, sensivelmente mais 100 km do que Portugal, o que dá cerca de mais 3 km por jogo por cada jogador. A Eslovénia não fez qualquer alteração ao seu sistema tático, jogando num 1x4x4x2, a nossa Seleção variou entre o 1x3x5x2 e o 1x4x3x3.
Reveja aqui as principais incidências da partida
Os dados apontavam para duas seleções que se encaixavam na forma de procurar ganhar o jogo. Podíamos esperar, por isso, uma Eslovénia a procurar fechar o espaço no setor médio/médio defensivo e através de transições ofensivas, recorrendo ao contra-ataque, para tentar fazer o golo. Já da Seleção Nacional, podíamos antecipar uma tentativa de controlar e dominar. Esperavam-se duas equipas a agir percebendo o que iria acontecer no jogo, com muito rigor tático e estratégico, algo característico de jogos a eliminar.
![As equipas com mais bolas recuperadas As equipas com mais bolas recuperadas](https://livesport-ott-images.ssl.cdn.cra.cz/r900xfq60/777bc00f-4f61-45d7-a742-f1282582e84b.jpg)
Alteração do sistema tático, alteração dos homens que dão vida às ideias
A Seleção e o seu selecionador, Roberto Martínez, voltaram a um sistema bem conhecido do futebol português, ainda que com dinâmicas especificas. Por exemplo: Em organização ofensiva, Portugal jogava preferencialmente com um bloco mais fixo, com Nuno Mendes, Pepe e Rúben Dias; com um bloco mais próximo com dois médios de apoio, Palhinha e Vitinha; com Cancelo na zona interior, mas muitas vezes muito alto e próximo dos adversários (principalmente durante a primeira parte); a largura era a referência dos dois extremos, Rafael Leão e Bernardo Silva; Bruno Fernandes algumas vezes jogava baixo em apoio, mas principalmente nas costas dos médios eslovenos, próximo de Cristiano Ronaldo.
![A posição média de Portugal A posição média de Portugal](https://livesport-ott-images.ssl.cdn.cra.cz/r900xfq60/6a649f97-d460-43fd-9940-e9971c2e1032.jpg)
O que devia ter feito Portugal
Portugal devia entrar em jogo de uma forma que se percebesse claramente que queria vencer. Como? Recorrendo a um jogo ofensivo com equilíbrio e organização, produzindo um caudal contínuo e variado de ações ofensivas na direção da baliza eslovena. Um jogo sem pressas, mas sem pausas. E foi aquilo que a Seleção fez, principalmente e naturalmente na primeira parte.
Para ilustrar o que escrevo, só na primeira parte do jogo, ao minuto 3, Portugal criou um lance de cruzamento em que Rafael Leão ao segundo poste não chega, mas resultou em canto a favor de Portugal; desse canto, ao minuto 4 Rúben Dias, rematou dentro área; ao minuto 6, num livre no corredor lateral, a bola foi ao segundo poste e Bijol tirou com cabeamento; ao minuto 7 transição com Ronaldo a escorregar dentro da área; depois, Bernardo Silva cruza para a área e Cristiano Ronaldo e Bruno Fernandes ficaram próximos do golo; ao minuto 26, cruzamento e corte para canto da Eslovénia, Nuno Mendes faz passe em profundidade para Bruno Fernandes; corte para canto ao minuto 28; Cancelo cruza para Ronaldo ao minuto 30; minuto 31, Rafael Leão em contra-ataque força o um para um e cria uma situação de livre frontal à baliza à entrada da grande área eslovena e o defesa central Drkusic vê cartão amarelo: livre no corredor central e Cristiano Ronaldo bate por cima da baliza; minuto 34, contra-ataque de Rafael Leão, canto curto e no cruzamento quase chega à bola; minuto 35, livre no corredor lateral, Cristiano remata ao lado; minuto 45+2, lance de perigo de Rafael Leão, que força a ação contra o defesa central já amarelado, cruza atrasado e Palhinha chutou ao poste.
A Seleção fez bem, fez muito de diferentes formas. Na primeira parte, Portugal teve 70% da posse de bola e a Eslovénia teve o seu primeiro remate ao minuto 43, que surgiu de uma transição ofensiva, onde Nuno Mendes fez um corte em zona atrasada, com cruzamento rasteiro.
![Os números ao intervalo Os números ao intervalo](https://livesport-ott-images.ssl.cdn.cra.cz/r900xfq60/09daa451-d394-41fc-b3f5-3d8ce6733df1.jpg)
Segunda parte - o impacto que a história do jogo tem no jogo
O desafio foi para intervalo sem golos. As equipas que têm mais a ganhar acreditam que podem chegar a golo, que podem vencer, que precisam da sua oportunidade. O que fez a Seleção Nacional na etapa de construção, os dois médios a iniciarem o jogo mais baixos, por vezes a encaixar na linha dos três defesas mais fixos, com Rúben Dias a jogar mais alto – isto porque durante a primeira parte os avançados da Eslovénia, Sporar e Sesko, tinham como missão fechar a linha de passe para os médios – e a intenção era invadir com Rúben Dias e depois encontrar o corredor central ou outro médio, principalmente Vitinha.
Leia a crónica do jogo
As oportunidades sucederam-se, ainda que mais pelo lado direito, onde Bernardo Silva estava mais baixo a libertar o espaço e João Cancelo realizava diagonais do corredor central para o corredor lateral-direito. Neste período do jogo ofensivo de Portugal, João Cancelo foi o jogador em destaque, criando vários lances de perigo quase sempre da mesma forma. e depois vieram as substituições.
As substituições
Na génese, Portugal pretendia manter ou melhorar a sua performance, mas na realidade o jogo tornou-se mais partido, menos controlado, mais dividido. Vitinha é substituído e entra Diogo Jota, mais tarde entra Francisco Conceição e sai Rafael Leão. A Seleção perde a fluidez na capacidade de construção e perde o extremo, Rafael Leão, que estava a conseguir, através de situações de um para um, chegar de forma repetida ao último terço ofensivo. Conceição inicialmente joga como extremo-esquerdo e tem pouco impacto no jogo. Portugal deixa de conseguir chegar com situações de perigo à baliza adversária.
![A evolução dos golos esperados (xG) A evolução dos golos esperados (xG)](https://livesport-ott-images.ssl.cdn.cra.cz/r900xfq60/d87a4e65-70ba-4d27-9e1b-b1c6675d8b8f.jpg)
O prolongamento
Cada minuto que passava, era um minuto a menos em que a seleção menos candidata estava mais próxima de vencer. Ao intervalo, Francisco Conceição passou para o corredor lateral-direito e Diogo Jota passou para extremo-esquerdo. As primeiras situações de perigo foram da Eslovénia, a transitar quase sempre da mesma forma, mas com eficácia, com movimentos dos avançados entre os defesas-centrais ou entre os defesas-centrais e os defesas-laterais. Em alguns momentos, Pepe teve dificuldades em definir o momento de reduzir o espaço para o avançado, quando condicionar, pressionar ou intersetar. Neste período, os principais lances de perigo surgiram com movimentos de Diogo Jota no corredor central, como o exemplo da penalidade que foi atribuída a Portugal.
À medida que o tempo avançava, havia menos espaço, as ideias coletivas eram menos conseguidas. E quando assim acontece, os erros na fase de construção são mais comuns: Foi o caso de Pepe, ao falhar um atraso em que se isolou o ponta-de-lança da Eslovénia. Valeu Diogo Costa a fazer uma intervenção que valeu o jogo a Portugal.
O desfecho em penáltis
Oblak, que durante o prolongamento defendeu um penálti a Cristiano Ronaldo (primeiro falhado em 14 penáltis) seria até ao momento o homem do jogo. Mas… em todas as histórias há um mas. Diogo Costa, como depois disse no final da partida, preparou-se para agarrar a oportunidade e ajudar a Seleção: defendeu três penalidades; Cristiano Ronaldo bateu o primeiro penálti e marcou, assim como Bruno Fernandes e Bernardo Silva.
Diogo Costa foi preponderante: Depois de passar quase 120 minutos onde realizou duas defesas conseguiu manter-se no jogo e estar preparado para o momento decisivo. A Seleção ganhou e passou a eliminatória. Agora espera-se que Portugal consiga impor desafios muito diferentes dos que até aqui passou a seleção francesa.
![António Barbosa, treinador de futebol António Barbosa, treinador de futebol](https://livesport-ott-images.ssl.cdn.cra.cz/r900xfq60/e862768b-bc4a-4559-88c6-1a26b0261cf7.jpg)