Espanha, a casa do futebol europeu: Inglaterra volta a perder na final

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Não há jogo decisivo em que esta frase não venha à memória: "As finais não são para jogar, são para ganhar". Talvez o facto de essa frase ser quase uma verdade eterna do futebol tenha feito com que esta final, como tantas outras nos últimos anos, começasse de uma forma tão desinteressante.

Inglaterra sabia ao que vinha. Depois de um Europeu tão pobre a nível exibicional, exceção feita ao jogo com os Países Baixos, ninguém esperava que Gareth Southgate chegasse a Berlim com intenções de fazer o jogo mais espetacular de sempre, até porque os ingleses vivem uma espécie de trauma com este jogo.

Depois da final perdida nos penáltis em 2021, apesar do golo precoce de Luke Shaw, os Três Leões entraram nesta final com uma mentalidade muito mais digna de um gato ainda a tentar perceber o seu espaço. Fechada na sua caixa, a ideia inglesa passava por atacar de forma felina a área espanhola assim que conseguisse recuperar a bola.

Do outro lado, claro, a Espanha procurou também manter a identidade que a levou até à final como equipa mais entusiasmante na Alemanha. Só que uma final é para ganhar e até esse lema fez tremer os espanhóis. Houve mais iniciativa do que do lado inglês, é certo, mas também mais nervosismo no momento de definir - os constantes cruzamentos pela linha de fundo foram uma prova disso mesmo.

Nico Williams e Lamine Yamal procuraram desbloquear pelos flancos, mas a postura defensiva da equipa inglesa, que voltou a apresentar uma tática de três centrais, com Saka a fazer a ala direita, e a exibição dominante de John Stones mostrou que La Roja ia ter vida difícil para visar a baliza de Pickford.

A solidez inglesa e as dificuldades espanholas fizeram com que a equipa de Southgate ganhasse mais confiança, mas o nível da primeira parte dificilmente fazia prever a existência de golos em qualquer uma das balizas e os números mostram-nos isso mesmo.

Espanha voltou para os balneários sem fazer qualquer remate à baliza de Pickford, enquanto Inglaterra só atirou à baliza de Unai Simón num lance de bola parada finalizado por Phil Foden (45 minutos). É certo que no final do jogo só o vencedor fica na memória, mas pedia-se um espetáculo bem melhor em Berlim, até porque a abertura foi quase tão desinteressante como os primeiros 45 minutos.

Pedra, papel, tesoura

Ao longo do Euro-2024, Espanha foi fazendo o inesperado. Com jovens a despontar quando muitos esperavam que a pressão de uma fase final de uma grande competição pudesse trair La Roja, a equipa de De la Fuente afastou a incógnita que recaia sobre si, mas certamente que ninguém esperava que Rodri, habituado a decidir finais, ficasse no balneário ao intervalo (diz-se que foi por lesão). O certo é que a entrada de Zubimendi e o reposicionamento dos extremos desbloqueou o jogo e o marcador.

Em apenas dois minutos, Yamal encontrou o espaço que não teve em toda a primeira parte, encarou Shaw e partiu com a confiança de um menino acabado de celebrar 17 anos. 

Da direita para o meio, como tanto gosta, encontrou o novo amigo favorito no mundo do futebol, Nico Williams. Aos 47 minutos, o futuro jogador do Barcelona (e por isso colega de Yamal) não tremeu perante a aparição repentina de Kyle Walker e bateu Pickford com um remate tão frio como a forma como a equipa espanhola procurar encarar o jogo a partir daí.

Se aquele primeiro ditado é uma verdade absoluta do futebol, também todos sabem o quanto um golo pode mudar a história e o ritmo de uma partida. A seleção espanhola voltou bem melhor dos balneários e encontrou espaços que até então pareciam não existir. Inglaterra ainda não tinha arriscado, mas faltava outra capacidade para ter bola e voltar a entrar na discussão do jogo.

Dani Olmo podia ter feito o 2-0 logo a seguir e Lamine Yamal esbarrou em Jordan Pickford, que fez uma intervenção decisiva para os Três Leões. Desde o banco, Southgate decidiu finalmente arriscar, embora de forma inesperada. Harry Kane deu o lugar a Ollie Watkins, numa tentativa de encontrar uma solução diferente para chegar à baliza espanhola, mas desta vez foi outro suplente a salvar Inglaterra.

Suplentes de luxo

Nunca a alcunha se ajustou tão bem a Cold Palmer. Tantas vezes pretendido pelos adeptos ingleses e ignorado por Southgate, o extremo do Chelsea, que tinha assistido na meia-final, marcou o golo que relançou a partida, apenas dois minutos depois de ter lançado e gelou o ímpeto espanhol.

Saka conduziu pela direita, Bellingham conseguiu fazer o passe para trás e o extremo do Chelsea deu o único motivo de alegria aos ingleses em toda a partida (73 minutos).

Só que no banco espanhol também havia armas secretas. Oyarzabal saiu do banco aos 68 minutos e aos 86' tornou-se o novo herói espanhol ao corresponder de forma perfeita a um cruzamento rasteiro de Marc Cucurella.

De bola parada, Rice e Guehi ainda ameaçaram um novo golpe inesperado nos descontos, mas esta noite a casa do futebol voltou mesmo a ser espanhola.

Homem do jogo Flashscore: Nico Williams (Espanha)