Destaques do dia 22 do Euro-2024: Mbappé superou o ídolo, o adeus de uma lenda e o exemplo do pai
No auge
Caro leitor, sei que hoje jogou Portugal, que perdeu contra a França e ficou eliminado nos quartos de final do Europeu-2024, mas o primeiro destaque deste 22.º dia do Campeonato da Europa tem de ir para Toni Kroos.
5 de julho de 2024 marca o ponto final na carreira do brilhante médio de 34 anos, decidida pela derrota da Alemanha contra a Espanha (leia aqui a crónica). Os passes teleguiados, a tranquilidade no centro do campo e os remates colocados fizeram dele um dos melhores jogadores do mundo e é assim que se retira. Não o faz numa fase descendente, mas sim como um belo vinho que aprimorou as qualidades e que acabou de liderar o Real Madrid à vitória na LaLiga e na Liga dos Campeões.
O futebol vai sentir falta dele, dentro e fora do campo. Porque se era certeiro com as chuteiras, com as palavras também nunca se atrapalhou. Com valores e ideais definidos foi dos primeiros a criticar abertamente o êxodo para Arábia Saudita e ele próprio a negar o apelo dos milhões (não que lhe faltem na conta bancária, sejamos honestos).
Despediu-se sentado no relvado, desgastado depois de 120 minutos em que mostrou uma outra faceta – muito faltoso. Não conseguiu o adeus de sonho, com um título europeu, mas vai ficar na história do futebol.
A festa
Agora sim, vamos a Portugal. As exibições da Seleção Nacional ainda não impressionaram, mas fora dele os adeptos têm goleado no que toca a apoio. Esta sexta-feira não foi exceção.
Hamburgo foi invadida por uma maré vermelha e verde. Antes da procissão para o estádio, ouviu-se música popular, dançou-se e comeu-se no Portugiesenviertel, o bairro português da segunda maior cidade da Alemanha.
De falta de apoio a equipa das quinas não se pode queixar.
O aprendiz superou o ídolo
Não é segredo para ninguém que Kylian Mbappé idolatra Cristiano Ronaldo. Na véspera do jogo, o capitão de França voltou a confessar a admiração que tem pelo capitão de Portugal.
De gerações diferentes não estiveram muitas vezes em campo. No total foram cinco ocasiões, três por seleções e duas por clubes, com uma curiosidade: Mbappé nunca tinha vencido Cristiano Ronaldo.
Em 2018, nos oitavos de final da Liga dos Campeões, o Real Madrid venceu o PSG nos dois jogos para arrancar mais uma caminhada triunfal na Champions. Voltaram a encontrar-se dois anos depois, num nulo entre Portugal e França, a contar para a Liga das Nações.
Até esta noite, o último encontro tinha sido precisamente no Euro-2020, quando Portugal empatou com a França no Grupo F. Na altura o resultado serviu para ambas as equipas seguirem em frente.
Esta sexta-feira, porém, Kylian Mbappé pôde regozijar-se de vencer pela primeira vez Ronaldo (pode ler aqui a crónica). Ainda que tenha sido nos penáltis. E acontece no momento em que se torna jogador do Real Madrid, seguindo os passos do ídolo.
Uma noite duplamente feliz para o homem da máscara, amarga para um Cristiano Ronaldo que fez o último Europeu da carreira.
Fúria deu lugar à Wut
Certamente que ao ver um jogo de Espanha o leitor já se deparou com a expressão Fúria Roja (a fúria vermelha). A expressão alcunhada em 1920 por um jornalista neerlandês, que ficou pasmado com a impetuosidade da equipa espanhola nos Jogos Olímpicos, foi caindo em desuso em 2004, quando Luis Aragonés apelou a que fosse só La Roja – curiosamente seguiu-se o período do tiki-taka.
Atualmente, Espanha em pouco se assemelha à Fúria dessa altura e apresenta um estilo de jogo mais estético e atrativo. Contudo, esta sexta-feira os jogadores espanhóis voltaram a ter flashsbacks dessa designação.
Talvez pelos nervos normais de ser o anfitrião, a Alemanha entrou demasiado agressiva. Toni Kroos, alguém que não associamos a um jogador muito faltoso, terminou a partida com sete das 22 infrações cometidas pelos germânicos durante os 120 minutos. Uma das quais deixou o jovem Pedri possivelmente fora do Europeu (pode ler aqui).
É caso para dizer que a Fúria Roja deu lugar à weiße Wut (fúria branca).
Tal pai, tal filho
Mikel Merino foi o herói de Espanha nestes quartos de final. Já nos instantes finais do prolongamento, o médio da Real Sociedad apareceu na área e cabeceou para o fundo das redes de Manuel Neurer, colocando La Roja nas meias-finais (leia aqui a crónica).
Depois do êxtase natural de quem percebeu o golo decisivo, o médio teve uma celebração curiosa: deu uma volta à bandeirola de canto. O motivo? Uma homenagem ao pai.
A 6 de novembro de 1991, Angel Merino colocou o Osasuna em vantagem diante do Estugarda, na segunda mão da segunda ronda da Taça UEFA (a equipa de Pamplona venceu por 3-2). Depois de marcar foi a correr e de uma volta à bandeirola de canto.
Mais de 30 anos depois o filho prestou homenagem ao pai, exatamente no mesmo sítio.
Banho dos craques
Ao ver Espanha a jogar é impossível não ficar deliciado com os dois meninos que ocupam as faixas ofensivas. Nico Williams é o mais experiente com 21 anos, isto porque do outro lado está um adolescente Lamine Yamal que com com 16 anos está na Alemanha preocupado ainda com trabalhos da escola.
É, muito provavelmente, o maior prodígio a sair de La Masia desde um tal de Lionel Messi. Nunca se encontraram na equipa principal do Barcelona, mas contam com um passado junto e uma história absolutamente deliciosa que o Sport foi descobrir esta sexta-feira.
É em dezembro de 2007, com apenas cinco meses, o Lamine Yamal foi banhado por Messi numa sessão fotográfica para um calendário solidário do diário catalão, fotograda por Joan Monfort. O astro argentino estava na terceira época no plantel principal, e a dois anos de vencer a primeira Bola de Ouro.
Decerto que terá partilhado parte do seu dom com Yamal. Afinal de contas, um canhoto adolescente a brilhar na faixa direita do ataque Barcelona faz lembrar alguma coisa.