Destaques do dia 27 do Euro-2024: Foi preciso chamar a polícia, o adeus laranja e afirmação do prodígio
Holanda? Países Baixos
Decerto que o leitor já se deparou com esta dúvida. Até 2019 não existiam grandes dúvidas e para nos referirmos à Laraja Mecânica falávamos na Holanda, nos jogadores holandeses. De há cinco anos para cá vemos jogar os Países Baixos e os atletas passaram a ser neerlandeses, um palavrão que pouca gente teria visto até então. Esta quarta-feira, na antecâmara da meia-final não foi exceção (leia aqui a crónica)
A decisão foi tomada pelo governo de Haia, em conjunto com a família real, numa tentativa de mudar a designação mundial do país que em neerlandês se designa por Nederland (terras baixas) e que passou para o resto do mundo como Holland.
Porquê? Porque historicamente as duas províncias com o nome de Holanda - norte (Amesterdão) e sul (Roterdão) – dominam o país em todos os parâmetros e ganharam prevalência. Contudo, existem mais 10 províncias e é a união delas que forma os Países Baixos.
Não é uma modernice, mas um preciosismo. Em caso de dúvida temos sempre a Laranja Mecânica, porque a cor característica nunca mudou – numa alusão à casa de Orange-Nassau, a dinastia que reina na Hola... Países Baixos, digo.
Foi preciso chamar a polícia?
É uma das seleções que mais desiludiu. Quando se olha para a convocatória de Inglaterra e vemos estrelas do Manchester City, Arsenal, a figura do Real Madrid ou o melhor marcador da Bundesliga pensamos numa seleção forte com qualidade para criar um estilo de jogo apetecível, mas não é bem assim.
Pese embora estar na terceira meia-final com Inglaterra (Mundial-2018, Euro-2020 e 2024), Southgate é um treinador com um futebol pragmático, pouco divertido e até podemos dizer aborrecido.
Quando se vê tanta estrela a ser desperdiçada quase que dava vontade de chamar a polícia. E talvez com medo de ver o sósia a entrar pela porta dentro, Southgate conseguiu colocar a equipa a jogar um futebol interessante durante a primeira tempo (pela primeira vez existiu um entusiasmo genuíno num jogo de Inglaterra). Obviamente que nos segundos 45 minutos o ritmo diminuiu e voltou tudo ao mesmo.
Certo é que com um golo aos 90+5 minutos, um desempate por penáltis e um remate de Watkins aos 90+1 minutos, a Inglaterra está na final do Europeu, a segunda consecutiva, a primeira que não é em Londres. Bonito? Não, mas já dizia alguém: Pouco importa, pouco importa...
A afirmação de Xavi
Longe vão os tempos de uns Países Baixos que encantavam quando se ouvia o 11 titular. Não precisamos de recuar a Cruyff, van Basten ou Gullit, podemos ficar por Robben, van Nistelrooy, Kluivert, Overmaars e Roy Makaay, a frente de ataque que esteve em Portugal no Euro-2004, a última meia-final da Laranja Mecânica no Campeonato da Europa.
20 anos volvidos, a convocatória não desperta suspiros, com exceção de um jovem: Xavi Simons. Formado em La Masia, um fenómeno precoce das redes sociais (tinha 14 anos quando superou o milhão de seguidores no instagram), tardou em afirmar-se dentro de campo.
Guiado por Mino Raiola trocou a Catalunha por Paris, onde também se sentiu dificuldades em impor-se estre a constelação de estrelas da capital francesa. Contudo, com 20 anos teve a maturidade de perceber que precisava de dar um passo atrás para concretizar o potencial que se adivinhava.
Regressou a casa para brilhar no PSV, esta época foi recomprado pelo PSG mas optou por seguir para a Saxónia, onde se destacou no RB Leipzig. Neste Europeu foi a estrela dos Países Baixos e apesar de não ter conseguido guiar a Laranja Mecânica ao jogo que todos queriam, despediu-se com um belo golo, no jogo que marcou a afirmação do prodígio.
As fronteiras do futebol
Por estes dias, Lamine Yamal é o nome que marca o Europeu. Com 16 anos, o extremo do Barcelona encantou na meia-final com a França, ajudou Espanha a chegar à decisão do título e já é visto por muitos como um potencial vencedor do prémio de melhor marcador.
Além de esbater as barreiras da idade (o que estava o leitor a fazer com 16 anos?), Yamal também parece ajudar a quebrar os mitos da nacionalidade. Lamine Yamal Nasraoui Ebana não é um nome que convencionalmente associamos a um espanhol, mas nasceu em Mataró, um município na Catalunha, filho de pai marroquino e mãe da Guiné Equatorial.
Tal como Nico Williams, outro nome que não associamos de imediato a um espanhol, nasceu em Pamplona. Ao contrário do que Del Bosque tentou passar, não são dois emigrantes que estão a carregar a seleção de Espanha, mas sim dois espanhóis, de pleno direito, nascidos e criados em território de nuestros hermanos.