Destaques do dia 8 do Euro-2024: Emoção ucraniana, o maldito racismo e a "falsidade" Mbappé
Cinco autogolos
Em 2021, no Euro-2020, adiado devido à pandemia e dividido por vários países europeus, talvez a bússola tenha desorientado os jogadores. No final, foram 11 autogolos na competição, um recorde até agora.
A verdade é que este Euro-2024 começou com um autogolo logo no jogo de abertura, com Rudiger a marcar o golo de honra da Escócia na goleada sofrida aos pés da anfitriã Alemanha (5-1) e a moda parece ter pegado. Quando ainda não chegámos sequer ao final da 2.ª jornada, aí vão cinco golos na própria baliza - e até Portugal agradeceu. Pode lembrar todos os autogolos aqui.
Trubin e os 50 de Yaremchuk
Lunin não ficou bem na fotografia da derrota da Ucrânia na jornada inaugural do Grupo E, diante da Roménia (0-3), e esta sexta-feira Anatoliy Trubin, guarda-redes do Benfica, foi chamado à titularidade, substituindo o guarda-redes do Real Madrid, diante da Eslováquia. O jovem guardião deu nas vistas, com quatro defesas vistosas, sendo preponderante na reviravolta da sua seleção, que venceu a Eslováquia por 2-1 (ler a crónica aqui).
E se o guarda-redes do Benfica foi determinante para manter a baliza ucraniana com apenas um golo sofrido, outro ucraniano com historial na Luz, ainda que curto, tornou-se herói a dez minutos do fim. Yaremchuk marcou o golo da revitavolta aos 80', depois de ter sido lançado em campo aos 67 minutos, a não escondeu a emoção com o triunfo de um país que, como se sabe, trava uma guerra contra a Rússia.
Se a vitória acaba por ser especial, também por esse motivo, não deixa de ser igualmente tocante que o golo, pleno de emoção de Yaremchuk, tenha sido o 50.º marcado neste Euro-2024. O que, por si só, mostra que os adeptos de futebol têm enchido a barriga neste final de primavera/início de verão.
Lewandowski na despedida
Ficou no banco na estreia, diante dos Países Baixos, na derrota por 1-2. Esta sexta-feira, depois de ter treinado integrado, Lewandowski voltou a não ser titular na Polónia, devido a problemas físicos. Com a Polónia a perder na primeira parte, antes do golo de Piatek, o avançado do Barcelona mostrou dotes de treinador, quase fazendo lembrar Cristiano Ronaldo no Euro-2016.
Foi já com o jogo empatado, e qual relógio... suíço, que Lewandowski foi lançado em campo, apenas para ver um amarelo e, de dentro das quatro linhas, assistir a mais dois golos da Áustria, na derrota por 1-3 (ler a crónica aqui) que coloca a Polónia fora do Europeu, perante o empate (0-0) entre França e Países Baixos, provavelmente na última grande competição de um avançado brilhante, que somou a 151.ª internacionalização pelo seu país, onde marcou 82 golos. A pergunta é: teremos treinador?
Já chega de racismo e xenofobia?
Vivemos tempos complicados. Todos o sabemos. O futebol, aliás, até deveria servir para, pelo menos, por momentos, esquecermos o quão estranho o mundo está a ficar. Estranho e perigoso.
Mas não. Nem no Euro-2024 nos deixam sossegados. Apenas dois exemplos, os mais recentes, porque sinceramente destacar assuntos deste género no meio daquilo que devia ser uma festa custa-me bastante.
Esta sexta-feira, Mirlind Daku, avançado albanês, utilizou as redes sociais para pedir desculpas, depois de, com um megafone, ter incitado os adeptos do seu país a entoar cânticos sobre a Macedónia do Norte - sim, um país que nem está no Euro-2024.
De resto, a Sérvia também já exigiu que a Albânia, bem como a Croácia, sejam punidos por cânticos de adeptos como "matem, matem, matem os sérvios", entoados no mesmo jogo. A maior parte das controvérsias centra-se no Kosovo, de maioria albanesa, cuja independência a Sérvia não aceita.
Depois, e porque mais abaixo vem a festa incrível dos adeptos neerlandeses, um caso levado ao extremo para encontrar racismo numa homenagem bonita.
Três adeptos dos Países Baixos recorreram a uma peruca e à icónica camisola de Gullit em 1988 para replicar a imagem do antigo médio. O gesto motivou reações mistas nas redes sociais, com alguns internautas a considerarem que o facto de terem pintado a cara de negro, simulando o tom de pele do jogador, foi um ato racista ou ofensivo por razões históricas ligadas à escravatura. No entanto, após ser questionado sobre o assunto pelo jornal De Telegraaf, a lenda da “Laranja Mecânica” e vencedor da Bola de Ouro em 1987 fintou qualquer tipo de polémica, dizendo apenas sentir-se “honrado” pela homenagem prestada pelo trio. Já um dos adeptos viu-se obrigado a vir, em público, pedir desculpas. “Talvez eu tenha cometido um erro ou isto seja um ponto cego. Não quero ferir os sentimentos das pessoas e é por isso que decidi parar", revelou, citado pelo DutchNews. “Recebi muitas respostas muito simpáticas, mas é evidente que há pessoas que pensam de forma diferente. Tenho de as respeitar e de as ouvir. A última coisa que quero é que as pessoas tenham um sentimento desagradável em relação à minha abordagem", acrescentou.
Laranja espremida
Em campo as contas são umas, fora dele são outras. E fora das quatro linhas, começa a ser difícil arranjar candidatos a destronar os adeptos dos Países Baixos como os melhores neste Euro-2024. Se dentro dos estádios a festa tem sido descomunal, fora deles a maré laranja tem contagiado toda a gente.
Na Red Bull Arena, em Leipzig, não houve sequer golos para festejar (pode ler a crónica aqui) - bom, até houve, o de Xavi Simons, aos 69 minutos, anulado - mas nem por isso a festa neerlandesa se deixou de fazer. "No Mbappé, no party", terão dito muitos pelas redes sociais e afins. Mas a verdade é que, onde quer que esteja esta laranja bem espremida, a festa está garantida.
Afinal havia outra... máscara
Kylian Mbappé tem sido nome frequente neste espaço. E nem por isso pelas melhores razões, uma vez que continua a zeros no que a golos em fases finais de Europeus diz respeito.
Depois de ter fraturado o nariz diante da Áustria, e de ter escapado à operação, o novo avançado do Real Madrid fez furor nas redes sociais, quando pediu sugestões para uma máscara de proteção. A escolha acabou por recair nas cores francesas, com a máscara utilizada durante os treinos, para habituação ao acessório.
A verdade é que, chegados ao jogo com os Países Baixos, confirmou-se o estatuto de suplente de Mbappé, mas nem por isso se confirmou a colorida máscara do astro francês. E tudo porque o regulamento da UEFA é bem claro no que diz respeito a "equipamento médico", sejam eles máscaras faciais, proteções na cabeça, braços, pernas, etc.: "equipamento médico utilizado no terreno de jogo têm de ser de cor única e livre de identificação de equipas ou marcas". Está explicado. A sorte é que... afinal havia outra. A máscara, digo. Porque de Mbappé, nem sinal dentro das quatro linhas.