Euro-2024: Adeptos espanhóis festejam o triunfo de uma equipa que os cativou
"Quando começámos, pensei que não íamos passar da fase de grupos", disse Cora Barciela, uma jovem de 20 anos de Maiorca que assistiu ao jogo na Plaza Colón, em Madrid. "Hoje, estar aqui significa muito, eles uniram um país novamente e isso é muito bom".
O golo da vitória de Mikel Oyarzabal no final do jogo deu lugar a uma onda de abraços, lágrimas, gritos, perante as dezenas e dezenas de ecrãs gigantes instalados em cidades de todo o país, reinando a sensação de que a final já estava decidida e que o bom jogo da equipa - seis vitórias e poucas reviravoltas até domingo - ia ser recompensado.
"São jovens e atrevidos, uma grande alegria, de facto", confessou Dolores Martínez, 45 anos, natural de Sevilha e a viver na capital espanhola.
Os adeptos espanhóis estão habituados a festejar: desde 2001, clubes como o Real Madrid, o Barça, o Sevilha, o Villarreal e a seleção ganharam todas as finais contra equipas estrangeiras que disputaram, exceto uma: a Liga das Nações, de 2021, contra a França.
Uma equipa coral e diversificada
A seleção espanhola que ganhou o Campeonato do Mundo de 2010 e dois Campeonatos da Europa consecutivos (2008 e 2012) permanecerá na memória dos adeptos.
No entanto, esta geração tem um sabor diferente e suscitou uma simpatia e uma unanimidade invulgares entre os adeptos espanhóis, tribais e muito mais ligados aos clubes do que à seleção.
Em Madrid, cantou-se o nome de Lamine Yamal, do Barça, e em Barcelona celebrou-se a firmeza defensiva de Nacho e Carvajal, do Real Madrid.
"Sou do Barça e quero a Bola de Ouro para Carvajal!", exclamou a maiorquina Cora Barciela, enquanto ao seu lado, a amiga hispano-uruguaia Agustina Cordara, adepta merengue, dizia o mesmo de Lamal.
Jovens como Nico Williams e Lamine Yamal, filhos de imigrantes que não escaparam ao debate político sobre os recém-chegados, mas também veteranos como Dani Carvajal, Rodri e Morata, contribuíram para a boa receção desta geração.
A composição da equipa, muito mais diversificada do que o habitual - o clube que contribuiu com mais jogadores foi a Real Sociedad (cinco), quando antes era o Barça ou o Real Madrid -, também contribuiu para atenuar as polémicas.
Como exemplo desta diversidade, a cidade sevilhana de Los Palacios y Villafranca (38.000 habitantes), com Fabián e Jesús Navas, contribuiu com o mesmo número de jogadores para a seleção que o Real Madrid e mais um que o Barcelona. Para contar, a equipa teve ainda dois franceses nacionalizados que fizeram um grande torneio: Le Normand e Laporte.
Tréguas ao futebol tribal
Por último, os adeptos espanhóis descobriram a extraordinária qualidade de jogadores exilados noutras ligas, como Cucurella, Fabián Ruiz e Rodri, eleito o melhor jogador do torneio.
"Fiquei surpreendido com estes grandes jogadores", explica César Gallegos, um madrileno de 57 anos. "Acho que os clubes espanhóis deveriam trazê-los de volta", disse.
"Isto é uma alegria, reunir todo o país e festejar", explicou Iker Garcia, um jovem da cidade andaluza de Barbate, enquanto o seu amigo Azael Berenguel chamou à final "a cereja no topo do bolo".
A trégua entre os adeptos espanhóis, proporcionada por esta jovem equipa, tem um prazo de validade, recordou a adepta Cora Barciela.
"Hoje é o último dia em que, independentemente da equipa a que pertençam, vão adorar Lamine, vão adorar Carvajal. Então as coisas vão mudar", disse com uma gargalhada.
Quem não vai esquecer a sua primeira final em Espanha desde que se mudou para Madrid é Rafael Pineda, um hispano-venezuelano de 24 anos.
"Vou-me embora feliz, vou-me embora feliz", repetiu.