Euro-2024: Cinco notas a reter do Portugal-República Checa
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A festa da diáspora
Leipzig não é a melhor das cidades para fazer turismo. Aliás, poucas cidades alemães o serão. Mas esta terça-feira, a cidade pintou-se mesmo de vermelho e verde, graças à forte presença de adeptos portugueses. Muitos viajaram de propósito à Alemanha mas foram também vários os emigrantes, a tradicional diáspora portuguesa, a formar a tremenda moldura humana ao longo de todo o dia e dentro da Red Bull Arena. De falta de apoio Portugal não se pode queixar. Como sempre aconteceu. E mesmo que o Europeu, ou melhor, um Mundial, possa um dia ser disputado na Gronelândia (a FIFA às vezes gosta de inovar), é certo que lá encontraremos portugueses ávidos de apoiar a sua Seleção Nacional.
A confirmação e a surpresa
Portugal foi a única seleção a realizar três jogos particulares antes do Euro-2024. Roberto Martínez justificou-o com o facto de Portugal ser, também, a última seleção a entrar em campo na Alemanha, no último dia da 1.ª jornada da fase de grupos. Justo e compreensível. No derradeiro teste, em Aveiro, contra a República da Irlanda, voltou a apostar no sistema de três centrais, o seu preferido, e desde logo ficou a ideia, até pelas explicações do treinador espanhol, que Portugal iria entrar num 3x4x3 diante da República Checa, "copiando" o sistema tático adversário, tal como o tinha feito com os irlandeses - e com bons resultados (3-0). O que não se esperava era ver, nos três centrais, um lateral-esquerdo, dificilmente conhecido pela sua exímia qualidade no desarme: Nuno Mendes. Mas foi essa a opção de Roberto Martínez, colocar um lateral de origem como central pela esquerda, numa posição em que a opção tinha recaído em Gonçalo Inácio, plenamente identificado com esse papel no campeão nacional Sporting. "Já jogou nessa posição contra a Suécia e é uma posição importante para nós para o jogo de hoje", justificou o selecionador. Percebeu-se ao longo do jogo a intenção, sobretudo com João Cancelo na lateral-esquerda, muitas vezes a surgir como mais um médio, à Guardiola, abrindo espaços para as incursões de Nuno Mendes. A verdade é que não resultou e o selecionador, em desvantagem, emendou a mão, tirando Diogo Dalot para lançar Gonçalo Inácio.
Eficácia, sim, mas não só
Portugal fez 13 remates à baliza até à hora de jogo. A República Checa, ao segundo, o primeiro na direção da baliza, marcou, por Provod. Eficácia? Sim. Mas isso não explica tudo. A Bélgica perdeu com a Eslováquia praticamente da mesma forma e os problemas não são, apenas e só, do ataque. A forma como a Seleção Nacional desceu as linhas e permitiu o espaço que Provod aproveitou, por exemplo, merecem uma análise mais cuidadosa dos responsáveis técnicos. Como teriam merecido os dois golos sofridos com a Croácia. Roberto Martínez diz que a derrota tinha sido importante para identificar os problemas. Será que percebeu todos?
Vitinha e mais dez
Não cansa só de ver. Delicia. Vitinha está numa forma soberba e seria um crime não colocar o médio do Paris Saint-Germain a titular neste Europeu. É certo que o meio-campo de Portugal tem qualidade de sobra, de João Palhinha e João Neves, de Bruno Fernandes a Rúben Neves, mas Vitinha tem, simplesmente, de estar lá. Porque já está entre os melhores, porque chega à Alemanha numa forma soberba, porque joga e faz jogar, porque entende o jogo como poucos.
Espalha-brasas é fogo!
Foi o próprio Roberto Martínez quem colocou a alcunha a Francisco Conceição, justificando a convocatória do extremo do FC Porto. O espalha-brasas, alguém capaz de revolucionar um jogo, de partir para cima dos adversários, de desmantelar blocos baixos. E a República Checa não é o melhor exemplo disso? Olhando ao Turquia-Geórgia, a seleção do Grupo F que mais vai utilizar as linhas recuadas e explorar o contra-ataque? Não se percebeu, por isso, a entrada tardia de Francisco Conceição, em cima dos 90 minutos, juntamente com Pedro Neto - e ainda Nélson Semedo.
Mas questionar as opções de um treinador no fim, normalmente, é mais fácil, quando as coisas não correm bem. E quanto um treinador decide por duas substituições aos 90 minutos, com quatro de compensação, e vê o (muito) questionado Pedro Neto assistir e Francisco Conceição, que tanta justificação do treinador espanhol motivou, finalizar para o golo da reviravolta? Pois é. O espalha-brasas é fogo!