A França derrotou os vencedores de 2016 por 5-3 no desempate por penáltis, após um jogo sem golos nos quartos de final em Hamburgo, na sexta-feira, e Ronaldo foi ineficaz, na melhor das hipóteses, e prejudicial para as aspirações da sua própria equipa, na pior.
No Campeonato do Mundo de 2022, quando o antigo selecionador Fernando Santos deixou Ronaldo no banco de suplentes na goleada de 6-1 sobre a Suíça, um futuro brilhante para Portugal surgiu no horizonte. No entanto, o sucessor, Roberto Martinez, apoiou o jogador de 39 anos, que atualmente joga na Arábia Saudita, no Al-Nassr, até ao fim.
Com o ex-avançado do Real Madrid e do Manchester United como figura de proa, Portugal passou a qualificação para o Europeu com um registo de 100% e era um dos favoritos na Alemanha. Contudo, o desempenho da equipa tem sido muito fraco, com Ronaldo a não conseguir marcar em cinco jogos este verão. O avançado não marcou qualquer golo nos seus últimos nove jogos em grandes torneios.
Apesar de ter fortes opções para substituí-lo, incluindo Diogo Jota, do Liverpool, e Gonçalo Ramos, do Paris Saint-Germain, Martinez recusou-se a tirar Ronaldo do jogo contra a França. Didier Deschamps substituiu Kylian Mbappé, o ícone dos Bleus, que não conseguiu causar impacto, mas Ronaldo permaneceu mesmo quando o jogo passou por ele.
Na vitória sobre a Eslovénia nos oitavos de final, Ronaldo falhou um penálti no prolongamento e desatou a chorar, o que o distraiu, mas Martinez elogiou a reação emocional do avançado após o jogo como um sinal da sua paixão.
No entanto, muitos suspeitam que as lágrimas não eram por Portugal, mas por ele próprio, que não conseguiu bater o recorde de jogador mais velho a marcar num Campeonato da Europa. Ronaldo também pôs fim à sua série de golos em todos os grandes torneios internacionais em que participou e não conseguiu aumentar o seu recorde de 14 golos em Europeus.
Na Alemanha, fez 23 remates sem sucesso, e talvez o mais grave tenha sido uma oportunidade brilhante no prolongamento contra a França. Francisco Conceição cortou a bola para o avançado, a poucos metros da baliza, mas este atirou a oportunidade mais clara da sua equipa por cima da barra.
Foi o tipo de oportunidade que Ronaldo já marcou centenas de vezes na sua carreira.
Mediatismo
A presença de Ronaldo condiciona fortemente a forma como Portugal joga. Os companheiros de equipa, incluindo os génios criativos Bruno Fernandes e Bernardo Silva, recorrem frequentemente a cruzamentos para o tentar encontrar.
Ronaldo já não tem o ritmo necessário para penetrar constantemente nas costas da defesa, o que limita as opções de passe dos jogadores da equipa.
Martínez não só não pareceu suficientemente forte para deixar Ronaldo fora dos seus planos, como nem sequer conseguiu substituir o avançado durante o torneio, exceto na surpreendente derrota por 2-0 contra a Geórgia. Ronaldo foi titular nesse jogo, apesar de Portugal ter garantido a vitória no grupo, enquanto praticamente todos os outros titulares foram poupados.
Após a eliminação da França, o selecionador disse que não tinha sido tomada qualquer decisão sobre o futuro de Ronaldo a nível internacional.
"Acabámos de terminar o jogo, ainda está tudo muito cru, estamos a sofrer uma derrota como equipa, não há decisões individuais neste momento", disse Martinez aos jornalistas.
Uma das razões pelas quais o treinador espanhol pode não se sentir suficientemente poderoso para cortar o cordão umbilical é o "culto de Cristiano" que é evidente entre os adeptos da equipa.
Este verão, os adultos percorreram as ruas de Frankfurt, Leipzig e Berlim, gritando incessantemente a celebração Siiiiiuuuu de Ronaldo, durante horas a fio.
Assistir a um jogo de Portugal é nadar num mar de camisolas 7 de Ronaldo em tons de castanho, com alguns adeptos a usarem máscaras com o rosto do seu talismã.
Até os adeptos adversários vêm assistir ao circo de Ronaldo, embora agora haja mais amuos do que golos.
"Os nossos adeptos queriam sobretudo ver o Ronaldo, por isso é que foram ao jogo", observou o médio esloveno Adam Gnezda Cerin, a propósito de um amigável realizado em março, em que a Eslovénia venceu Ronaldo e Portugal por 2-0.
Embora no Europeu tenham sido eliminados por Portugal nos penáltis, os eslovenos expuseram mais uma vez as insuficiências de Ronaldo a este nível e a França acabou por vencer.
Ronaldo admitiu que este será o seu último Campeonato da Europa, mas agora que Portugal está a pensar no Campeonato do Mundo de 2026, as suas hipóteses serão certamente maiores sem o seu galã.