Euro-2024: Qual será a cara de Portugal na Alemanha?
10 jogos, 10 vitórias, 36 golos marcados, dois sofridos. Inúmeros recordes caíram numa fase de qualificação histórica que garantiu o bilhete de Portugal para o Euro-2024. A aposta no antigo selecionador belga, Roberto Martínez, parece estar, para já a compensar, e o sonho de repetir o feito de Paris em Berlim está bem presente.
E se é certo que no futebol tudo muda num fechar de olhos, fazer futurologia e tentar olhar para o que será Portugal daqui a oito meses, quando a bola começar a rumar na Alemanha pode ser um exercício perigoso. Contudo, as indicações de Roberto Martínez ao longo dos meses que leva no cargo já deixaram pistas bem vincadas.
Assim, o Flashscore coloca-se ao volante do DeLorean para tentar observar aquilo que será Portugal em junho de 2024.
Sistema tático
Foi uma das primeiras novidades que Roberto Martínez trouxe. O 4x3x3 faz parte do ADN de Portugal e está ligado aos melhores momentos da equipa no século XXI, pelo que quando a primeira convocatória do novo timoneiro denunciou a mudança para um sistema de três defesas, levantaram-se algumas sobrancelhas.
Certo é que Roberto Martínez acabou por utilizar três sistemas táticos diferentes. Arrancou os primeiros quatro jogos com três defesas (3x4x3), seguiram-se outras quatro partidas com duas variações de um quarteto defensivo (4x3x3 e 4x4x2), antes de encerrar a fase de qualificação com uma variedade de cada (3x4x3 contra o Liechtenstein e 4x3x3 com a Islândia).
Ou seja, feitas as contas, Portugal atuou tantas vezes com três centrais (cinco), como com quatro defesas (cinco). E assim bate certo com a ideia apresentada por Roberto Martínez na altura em que foi apresentado, na qual defendeu que a equipa fosse “taticamente flexível”.
E tendo por base estes dois sistemas que a convocatória também será influenciada.
Os convocados
O discurso de Roberto Martínez ao longo destes meses tem sido coerente. As convocatórias nunca são unânimes, em cada treinador de bancada existem 23 nomes diferentes e sempre que o selecionador nacional foi confrontado com nomes que ficaram de fora passou duas mensagens: “a porta da Seleção Nacional está sempre aberta” e abordou a importância de criar um núcleo duro.
Este último aspeto é perfeitamente visível olhando para as convocatórias. Desde que assumiu o comando de Portugal, Roberto Martínez fez cinco listas. Em quatro delas chamou 26 jogadores, sendo que apenas por uma ocasião optou por chamar 24 jogadores. Isto causa o primeiro problema, já que para o Europeu só poderá levar 23 atletas.
Nas cinco convocatórias existem 19 jogadores que estiveram sempre presentes: Diogo Costa, José Sá, Rui Patrício, António Silva, Gonçalo Inácio, Rúben Dias, João Cancelo, Diogo Dalot, Bruno Fernandes, João Palhinha, Otávio, Rúben Neves, Vitinha, Bernardo Silva, Cristiano Ronaldo, Diogo Jota, Gonçalo Ramos, João Félix e Rafael Leão.
Seguindo a lógica do treinador, de construir uma equipa, podemos concluir que, salvo problemas físicos, estes 19 atletas farão parte da lista dos 23 para o Campeonato da Europa. Quer isto dizer que estão quatro lugares em aberto.
As dúvidas
Defesa:
O sector defensivo é aquele que traz mais dúvidas a Roberto Martínez. Olhando para os jogadores que não foram chamados nas cinco ocasiões, todos eles gozam da confiança de Roberto Martínez.
Danilo Pereira é valorizado pela versatilidade (pode jogar a central, ou médio-defensivo) e só falhou uma convocatória (a última devido a lesão); Pepe é bastante elogiado pelo profissionalismo e experiência, mas problemas físicos levaram-no a ficar de fora por duas vezes (só fez um jogo nesta fase de qualificação); e depois existe Toti Gomes, a surpresa desta fase de qualificação, que só falhou a primeira chamada e desde então é ponto assente na lista (valorizado pelo pé esquerdo, sendo que também pode ser lateral), mas por norma fica fora das fichas de jogo.
Ou seja, existem aqui três jogadores a disputar uma eventual última vaga para o centro da defesa.
No lado esquerdo da defesa está outra das questões. Nuno Mendes e Raphael Guerreiro são dois jogadores de inegável qualidade, mas têm sido bastante afetados por problemas físicos. João Cancelo e Diogo Dalot revezaram-se a atuar na faixa canhota, mas Roberto Martínez deu a entender que gostaria de levar um lateral de raiz para este flanco. Contudo, é provável que só um tenha lugar na lista final.
Meio-campo:
Aqui talvez seja dos sectores com menores dúvidas. Matheus Nunes, João Neves e Renato Sanches todos foram chamados por Roberto Martínez e podem dar atributos diferentes em relação aos habituais médios. Contudo, a convocatória limitada a 23 pode levar Martínez a não incluir mais ninguém para além dos habituais seis convocados (e a eles podemos juntar Danilo).
Ataque:
Ricardo Horta falhou a primeira chamada, mas desde então tem sido presença assídua. A realizar uma boa época, e a jogar Liga dos Campeões, o capitão do SC Braga também parece ter o bilhete praticamente assegurado para o Campeonato da Europa.
Nas últimas convocatórias, Roberto Martínez também tem privilegiado um extremo mais vertical. Pedro Neto recebeu a nomeação em duas ocasiões, Bruma foi chamado nesta última e Galeno já foi amplamente mencionado. Um dos três deverá ir, até pela versatilidade atacante que podem conferir à ala esquerda num esquema de três centrais.
À espreita
Oito meses é muito tempo no futebol. Novas estrelas precisam apenas de minutos para crescer, carreiras são colocadas em espera devido a problemas físicos, numa incerteza constante que faz deste um dos desportos mais apaixonantes do mundo.
Por isso, existem múltiplos factores que podem levar a uma chamada fora da lógica já estabelecida. De resto, no início da época passada poucos esperariam que António Silva estivesse entre os 26 que foram até ao Mundial-2022.
Assim, apresentamos aqui alguns nomes que podem estar à espreita de uma chamada.
O lateral do Wolverhampton foi chamado por Roberto Martínez em quatro ocasiões. Parece partir como a terceira opção para o lado direito da defesa e tem aproveitado os problemas físicos do lado esquerdo (que obrigam Cancelo ou Dalot a deslocarem-se) para se mostrar a Roberto Martínez.
Com o número reduzido de atletas, será improvável ver o selecionador levar três laterais-direitos, mas, caso exista algum problema, o jogador está, sem dúvida, na primeira linha.
Titular do FC Porto e a mostrar uma versatilidade para jogar em ambos os lados da defesa, João Mário já se estreou como internacional português. Uma boa época no FC Porto, onde é peça importante para Sérgio Conceição, podem acalentar a esperança de uma chamada. Mas tem a mesma questão de Nélson Semedo e luta por uma posição onde estão duas escolhas bem definidas.
Foi chamado por uma ocasião por Roberto Martínez, mas desde então parece ter perdido a vaga para Toti Gomes. Ainda assim, apresenta um perfil cada vez mais cobiçado no futebol atual (é central canhoto) e tem acumulado jogos a titular na Bundesliga, pese embora a época a correr mal em termos coletivos do Union Berlim.
É um dos nomes mais ouvidos aquando da divulgação das convocatórias. Líder do Sporting, o versátil jogador nunca recebeu a chamada de Roberto Martínez que conta com ele só para os lugares da frente e onde a concorrência é acérrima. Ainda assim, algum tipo de problemas físicos poderá abrir a porta ao jogador leonino.
Um mero exercício de futurologia que só daqui a oito meses será confirmado.