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Exclusivo com Alain Giresse: "O único que pode acender a luz no jogo da França é Griezmann"

Antonio Moschella
Alain Giresse venceu o Campeonato da Europa com a França em 1984 e foi treinador da Geórgia
Alain Giresse venceu o Campeonato da Europa com a França em 1984 e foi treinador da GeórgiaProfimedia
Alain Giresse (71 anos) venceu o Campeonato da Europa com a França há 40 anos. Nesta entrevista exclusiva, o antigo médio fala sobre o estado atual da equipa de Didier Deschamps antes do complicado confronto com a Bélgica nos oitavos de final do Euro-2024.

Há alguns jogadores que nunca saem de moda. Principalmente porque criaram um legado futebolístico no seu país. Giresse é, sem dúvida, um deles.

Jogador da seleção francesa que esteve perto de chegar à final do Campeonato do Mundo de 1982 e que conquistou o Campeonato da Europa de 1984, o primeiro grande troféu dos Bleus, o antigo médio está sempre atento à equipa do seu país.

Nesta entrevista ao Flashscore, Giresse fala-nos da atual seleção francesa com uma perspetiva nostálgica mas franca, antes do jogo dos oitavos de final em Dusseldorf.

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Acompanhe o relato no site ou na appFlashscore

- Há 40 anos, você foi um dos protagonistas da primeira grande vitória da França. O que isso significou?

- Foi um momento importante para o nosso futebol. Demos um salto gigantesco no nível de jogo e de mentalidade. Fomos os primeiros a ganhar e a iniciar o grande movimento do futebol nacional.

- Hoje, a meio de mais um Campeonato da Europa, qual é a sua impressão da equipa francesa?

- Qualificaram-se (para a fase seguinte), mas com desempenhos medíocres. Mas o seu jogo ainda não está à altura. Há algumas exceções históricas de sucessos, como o da Itália no Mundial de 82, mas não vou explicar isso aqui (risos). A Azzurra em Espanha, depois de três empates na primeira fase, ganhou o Campeonato do Mundo...

- Acha que esta seleção francesa pode fazer algo semelhante, depois de um início lento?

- Acho que para avançar é preciso fazer muito melhor. Começando pela construção do jogo e terminando com uma melhor finalização.

- Com apenas um golo contra e um penálti, parece que a França está a ter grandes problemas para marcar...

- Notei uma certa falta de jeito no terço final. Não conseguimos ser incisivos, mesmo depois de termos criado oportunidades. Estávamos demasiado dependentes de (Kylian) Mbappé, alguém que arrastou a equipa até à final do Campeonato do Mundo. Esse mesmo jogo contra a Argentina foi emblemático da nossa dependência dele.

- O que é que quer dizer com isso?

- A Argentina tinha-nos ultrapassado no jogo, não nos dando praticamente nenhuma opção. E ele trouxe a França de volta ao jogo praticamente sozinho. E agora, mesmo com o nariz quebrado, ele ainda marcou o penálti contra a Áustria. Mas não podemos depender apenas de um jogador, mesmo que ele seja muito forte.

Resultados recentes da França
Resultados recentes da FrançaFlashscore

- Parece que a França também carece de um criador no meio de campo...

- Também aqui, o desempenho de Mbappé é o clássico trompe l'oeil (técnica artística que cria uma ilusão de ótica), porque os seus golos escondem as falhas da equipa. Não temos criadores no meio de campo, e agora que (Antoine) Griezmann não está tão bem como de costume, há problemas.

- No entanto, há N'Golo Kante, que está a fazer um grande torneio apesar da sua transferência para a Arábia Saudita, certo?

- Felizmente, ele está lá, diria eu. Mas continuamos a falar de um jogador que se destaca pela destruição e não pela criação. Hoje, há pouca organização e demasiada verticalidade na transição, logo, pouca ordem.

A antevisão em vídeo do encontro
Flashscore

- Em comparação com a sua seleção francesa, esta parece ser uma equipa muito diferente do ponto de vista cultural...

- Sem dúvida. Penso que a palavra "cultural" é fundamental para compreender a mudança. Houve uma evolução cultural, porque costumávamos basear todo o nosso jogo na posse da bola e na construção de ataques através da posse.

Hoje em dia, a França joga a ritmo de tambor, baseando-se nos contra-ataques. E, acima de tudo, não temos um verdadeiro número 10, embora isso aconteça em todo o lado.

França em 1984
França em 1984Profimedia

Para além de médios com técnica como você e Jean Tigana, falta um Michel Platini ou um Zinedine Zidane, não é verdade?

- Platini marcou uma geração. Zidane outra. Agora é Mbappé que está a marcar a geração atual, mas ainda precisa de ser acompanhado. Na nossa equipa éramos muitos, até havia (Bernard) Genghini no banco. Hoje, porém, não conseguimos criar jogo.

- Há quem defenda a entrada de Eduardo Camavinga no lugar de Adrien Rabiot. O que você acha?

- Estamos a falar de um jogador de futebol que não é um (Roberto) Baggio nem um (Alessandro) Del Piero. Acho que o único que pode acender a luz no jogo da França é Griezmann. Precisamos que ele se recupere, que encontre eficácia na fluidez do jogo.

- Você mudaria alguma coisa no ataque?

- No momento, parece que só podemos contar com Kylian, porque (Olivier) Giroud não é mais o mesmo, embora a sua presença ajudasse Mbappé a encontrar mais espaço, como aconteceu no Mundial. (Ousmane) Dembélé faz acontecer muita coisa, mas não concretiza as suas ações. E há uma clara falta de um finalizador.

- Não acha que Mbappé é um finalizador?

- É, mas vi-o pouco na área. Gosta de partir da esquerda e, mesmo quando é utilizado como avançado-centro, tem tendência para se deslocar para a ala. E assim a área acaba por ficar inexoravelmente vazia. Temos de marcar, não podemos ter sempre um golo contra ou um penálti a nosso favor!

- Você acha que a partida contra a Bélgica pode ser complicada?

- É preciso dizer, antes de mais, que a Bélgica não é a equipa de 2018, quando surpreendeu todos e tinha os seus melhores jogadores em grande forma. A Bélgica de hoje também é demasiado cautelosa, o que me parece estranho. No entanto, se a França não assumir o controlo e mudar algo na sua abordagem ao jogo, poderá estar em grandes apuros.

- Por fim, uma palavra sobre a Geórgia, seleção que treinou em 2005...

- Fizeram um ótimo trabalho, começando pelo básico. Tudo começou com as academias federais criadas quando eu estava lá. Foram heróicos, mesmo ontem à noite contra a Espanha, onde abordaram o jogo muito bem e colocaram os ibéricos em apuros.

- O seu compatriota Willy Sagnol também deve ser responsável por este sucesso, certo?

- Felicito-o muito porque conseguiu um feito extraordinário. Hoje em dia, ouço muitas vezes o presidente e o vice-presidente. São dois antigos jogadores que treinei quando lá estava. Estão a colher os frutos de um grande trabalho. E (Giorgi) Mamardashvili é, até agora, o melhor guarda-redes do Campeonato da Europa, sem dúvida!

Siga o jogo França-Bélgica no Flashscore